20 de janeiro de 1567 / 3 de janeiro de 1567
No dia 20 de janeiro de 1567, os nativos tamoios da Guanabara resistiram ao ataque das forças militares portuguesas e de seus aliados temiminós. Eles já vinham fazendo uma oposição obstinada aos colonizadores há mais de uma década. Esta resistência se expressou, principalmente, através da Confederação dos Tamoios, uma aliança oscilante mas que mobilizou diferentes etnias indígenas (tupinambás, guaianazes e aimorés), com o objetivo de lutar contra a dominação portuguesa. A Confederação começou em 1554 e foi quase totalmente desmantelada nesta batalha em 1567. Diante dessa investida lusitana, comandada por Estácio de Sá, os indígenas e seus aliados franceses tiveram suas fortificações destruídas e foram forçados a recuarem de suas posições.
A resistência nativa no Rio de Janeiro havia crescido desde a fundação da cidade em 1° de março de 1565, já que seu fundador e governador, Estácio de Sá, buscava, desde então, expulsá-los da região. A vigorosa oposição tamoia mostrou a Estácio que não seria possível colonizar a área somente com suas forças locais. Ele precisava de reforços para derrotar os indígenas.
O apoio militar chegou em maio de 1566 com uma frota de três galeões, comandada por Cristóvão de Barros. Ele havia partido de Lisboa para encontrar, em Salvador, o governador geral Mem de Sá, “tio” de Estácio (na verdade, um primo distante). Barros trazia ordens da Corte para que o governador se deslocasse até o Rio de Janeiro com o objetivo de acrescentar reforços para a esquadra de seu “sobrinho”. Em novembro do mesmo ano, Mem de Sá partiu de Salvador com dois navios e seis caravelões, acompanhado também do bispo Pedro Leitão e outros jesuítas como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Ao longo do caminho, realizou escalas em locais como Porto Seguro, Ilhéus e Espírito Santo a fim de recrutar mais homens para o confronto.
No dia 18 de janeiro de 1567, a frota portuguesa chegou a Guanabara, encontrando-se com a esquadra de Estácio. Apesar de ter sido acometido por uma doença durante a viagem e estar incapaz de participar da batalha, Mem de Sá deu ordens para que a investida lusitana contra os tamoios se iniciasse logo. O ataque começou no dia 20 de janeiro, data comemorativa de São Sebastião, de quem os portugueses acreditavam contar com a proteção.
O primeiro reduto onde os tamoios se encontravam liderados por um jovem índio chamado Uruçumirim localizava-se no atual morro da Glória e tinha ao seu redor uma paliçada de estacas pontiagudas. A segunda aldeia, melhor fortificada, protegida por uma parede dupla de paliçadas, foi construída pelo filho guerreiro de Pindobuçu, Paranapucu, localizava-se na atual Ilha do Governador. A última fortificação, composta por três cercas compactas, situava-se do outro lado da baía, na costa do atual município de São Gonçalo. Em todas as três construções, os indígenas contavam com o apoio de alguns franceses aliados. Todos esses locais foram alvos de ataques dos conquistadores.
Os índios comandados por Uruçumirim foram os primeiros a resistir à investida da força naval lusitana, que avançava em sua direção divididos em dois batalhões, um liderado por Cristóvão de Barros e o segundo por Estácio de Sá. Os tamoios mantiveram sua posição durante os dois dias de conflito, marcado por um constante zunir de flechas, disparos de mosquetes e tiros de canhões.
Uma destas flechas, alcançou o próprio governador do Rio de Janeiro. Estácio de Sá foi atingido no rosto, vindo a morrer exatamente um mês depois, no dia 20 de fevereiro, em virtude do grave ferimento. Apesar disso, os portugueses conquistaram progressivamente mais espaço até, finalmente, alcançarem a vitória. A maior parte dos tamoios foi morta enquanto resistia. Dentre eles, Aimberê, um dos líderes da Confederação dos Tamoios. Os nativos tiveram suas cabeças cortadas e postas em estacas. A aldeia de Uruçumirim terminou incendiada.
Após alguns dias, o governador Mem de Sá ordenou um novo ataque à aldeia de Paranapucu, atual Ilha do Governador, que estava guarnecida de mais de mil indígenas, alguns poucos franceses e uma vasta artilharia de defesa. Os indígenas resistiram à força militar portuguesa em um conflito ainda mais devastador que durou três dias, até que também foram derrotados. Vencida mais esta batalha, o governador ordenou que suas tropas prosseguissem até o último cerco. Contudo, ali não houve conflito. A maioria dos tupinambás e franceses recuaram, enquanto os que optaram por permanecer se renderam à esquadra portuguesa.
Não é possível afirmar uma quantidade exata de pessoas envolvidas nestes confrontos, já que os relatos das fontes históricas são relativamente imprecisos em relação a dados numéricos e às datas. Sabe-se porém que os guerreiros sobreviventes partiram, em sua maioria, para a região de Cabo Frio, onde ainda buscaram reunir forças para resistir aos colonizadores portugueses.
(Daniel Freitas , graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ-CNE/2018-2021)
Mem de Sá parte do Nordeste, realizando escalas em capitanias em busca de reforços para auxiliar na confronto com os tamoios do Rio de Janeiro.
Esforço português em colonizar a região do Rio de Janeiro, no qual os tupinambás resistiram com o objetivo de proteger suas terras.
14 dias de duração
cerca de mil homens de guerra participantes
Batalha do Rio de Janeiro
DORIA, Pedro. 1565 – Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do país. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 131-133.
QUINTILIANO, Aylton. A Guerra dos Tamoios. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Reper Editora, 1965, p. 213-217.
SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro: Babilônia Cultural Editora, 2015, p. 409-413.
LISBOA, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo I. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1834, p. 109-113.
Sem Nome, "Revolta dos Tamoios e Batalha de Uruçumirim e Paranapucu". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/rebeldia-tamoia-contra-portugueses-batalha-de-urucumirim/. Publicado em: 05 de abril de 2022.