Revoltas

Resistência de indígenas tamoios aos portugueses e seus aliados tupiniquins

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Baía de Guanabara

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06 de março de 1565 / 06 de março de 1565

Uma visão idealizada do desembarque de Estácio de Sá na publicidade do "Bank of London" para comemorar o IV Centenário em 1965: "a civilização chegou à terra carioca" -  Livro "Rio 400 + 50 - comemorações e percursos de uma cidade", de Maria Inês Turazzi, Cláudia Mesquita e João de Souza Leite/Reprodução

No interior da Baía de Guanabara, no dia 6 de março de 1565, quatro canoas tamoias capturaram um índio tupiniquim, aliado dos colonos portugueses que haviam chegado na região com o objetivo de povoá-la. Os tamoios foram percebidos pelos lusitanos que estavam de vigia e passaram a ser perseguidos por suas embarcações, que disparavam, de longe, com seus arcabuzes. Quando chegaram na terra, os nativos mataram rapidamente o prisioneiro e, como estavam em menor número, fugiram mata adentro, deixando suas canoas e arco e flechas para trás. Eles ainda foram perseguidos, mas conseguiram despistar seus opositores.

Os indígenas tupinambás da região da Guanabara tiveram suas terras invadidas por uma frota lusitana composta por seis navios de guerra e nove canoas, que transportavam nativos tupiniquins. Eles observaram os invasores europeus, liderados por Estácio de Sá, desembarcarem no dia 1° de maio de 1565, data que ficou consagrada como marco da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Sabendo da enorme hostilidade que os indígenas tinham a sua presença, eles se estabeleceram em uma posição defensiva entre os morros do Pão de Açúcar e o da Cara do Cão e rapidamente iniciaram a construção de um reduto que os protegesse.

Os tamoios, por sua vez, começaram a planejar ataques contra os lusitanos a fim de expurgar a presença deles antes que se fixassem na região. Eles contavam com o apoio de franceses, que haviam tentado estabelecer uma colônia, sem sucesso, na Guanabara há alguns anos (1555-1560). Apesar do fracasso, alguns remanescentes permaneceram tendo relações amistosas com os indígenas e aliaram-se a eles na luta contra os portugueses. Enquanto isso, os colonos lusos depositavam todos os seus esforços na construção de cercas, afinal um ataque franco-tamoio poderia ocorrer a qualquer momento. Cansados diante de tanto trabalho e apreensivos por conta dos nativos que certamente prestariam obstinada resistência, Estácio de Sá buscou levantar a ânimo de seus homens com um discurso, relatado por Baltasar Silva Lisboa:

Não há tempo nem oportunidade para recuarmos, porque, de um lado nos cercam estas penhas e do outro as águas do Oceano; e pela direita e esquerda os inimigos, só podemos romper o cerco debandando-os (…) os seus estrondosos alaridos soam desagradavelmente em nossos ouvidos, mas não amedrontam nosso constante valor, pois o trovão da nossa mosquetaria lhe atroará logo os ouvidos, cravando-lhes de balas os peitos, que os vereis imediatamente cair, ou fugirem desordenadamente (…) Vos não intimide a jactância arrogante dos míseros selvagens licenciosos. Lembremo-nos da justiça dos nossos motivos, para o castigo e escarmento seu, a fim de que conheçam quão caro lhes custa a infidelidade e má fé. (Lisboa, 1834, p.91-92).

Não demorou para que os tamoios começassem a agir. No dia 6 de março, apenas cinco dias após a fundação da cidade, quatro canoas nativas se aproximaram furtivamente da cerca lusitana, e ali aguardaram sem serem notadas. Os colonos estavam estabelecidos entre os dois rochedos e a sua frente havia uma pequena praia. Os nativos avistaram um indígena tupiniquim caminhando sozinho na areia e o capturaram. Os vigias portugueses perceberam o alvoroço e iniciaram uma perseguição contra os tamoios, que partiram com suas canoas levando o refém para dentro da baía.
Os guerreiros tupinambás remavam a toda velocidade enquanto embarcações compostas por tupiniquins tentavam alcançá-los. Soldados portugueses disparavam de longe com seus mosquetes. Chegando em terra e vendo que estavam em desvantagem numérica para estabelecerem um confronto direto, os tamoios optaram em fugir rapidamente para dentro da floresta, deixando suas canoas e utensílios para trás. Carregar o prisioneiro apenas atrasaria a fuga, logo, eles o mataram ali mesmo, e partiram em retirada para dentro da mata.

Os portugueses e tupiniquins ainda tentaram alcançá-los dentro da floresta. Sem sucesso, retornaram para o cerco levando os equipamentos deixados pelos tamoios.

(Daniel Freitas, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Antecedentes

Retorno de Estácio de Sá à região da Guanabara a fim de povoá-la, após ter recuado para São Vicente em busca de mais reforços.

Conjuntura e contexto

Esforço português em povoar a região da Guanabara, cujos habitantes, tamoios e franceses, eram hostis a presença deles.

Números da Revolta

1 dia de duração
20 participantes

Outras designações

Revolta tamoia contra portugueses

Ataque tamoio a cerca portuguesa

Ações de protesto não-violentas

  • Não informadas

Ações de protesto violentas

  • Morte de inimigos

Repressão

Contenção

  • Expedição armada ou repressão militar

Punição

  • Não informadas

Bibliografia Básica

DORIA, Pedro. 1565 – Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do país. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 121.

SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro: Babilônia Cultural Editora, 2015, p. 402-403.

Fontes impressas

ANCHIETA, José. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933.

LISBOA, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo I. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1834, p. 91-93.

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