“Nossa conspiração”, avisava logo Fernando Brant ao apresentar seu novo disco no final dos anos 90, “é um caso de amor com a vida, a amizade, e a música”. E arrematava o lendário compositor mineiro: “Somos apaixonados pelo Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte e o resto do mundo, por palavras e pela música. Viver, exceto pelo perigo, é muito bom. Todos os assuntos humanos nos interessam e ser capaz de tratar deles musicalmente é maravilhoso”.
Dentre estes assuntos humanos (e mineiros), a Inconfidência de 1789 não poderia ficar de fora. Em 1997, o Estúdio Bemol, situado em Belo Horizonte, recebeu um grupo de músicos composto por Fernando Brant, Ricardo Cheib, Tavinho Moura, Beto Lopes e Geraldo Viana, que produziu o importante álbum “Conspiração dos Poetas”.
Uma das faixas, “Ah, se eu me apanho em Minas”, faz referência clara ao movimento inconfidente: “Ah seu eu me apanho ali / Vivendo a conjuração / Ah se eu estivesse lá / Dentro da rebelião”. O verso seguinte da canção traça algumas características da “rebelião” – “Ah se eu estivesse assim republicano / Ah se eu me visse enfim independente / Ah se eu encontrasse em mim o solidário / Se eu realizasse ali o sonho louco” – o sonho de uma república independente em Minas Gerais.
Ah seu eu me apanho ali
Vivendo a conjuração
Ah se eu estivesse lá
Dentro da rebelião
Estrofes depois – “Ah se eu me apanho ali / Pisando aquele chão / Que o alferes percorreu / E o padre botou fé” – o cancioneiro se imagina caminhando pelos caminhos percorridos por Tiradentes, caracterizado como “um visionário / Que navega o tempo em busca da utopia / E sobe a forca, sofre o calvário”, sendo enforcado em nome da liberdade e da poesia.
Tiradentes é, ainda, a fonte de inspiração para a canção “Nosso herói”, que questiona “Quem será o herói / quem será a força / que a forca não pode calar?”, “Quem será a herói / dessa nossa história / quem vai tecer o amanhã”? A resposta? O povo – “quem faz cimento / que carrega areia / amassa o pão / ama a lua cheia / sabe que chuva é pra se molhar” – caracterizado pelos nomes de “João e Maria / Dona Teresa / Valdemar / Dona das Dores / Pedro” e, principalmente, “Joaquim José da Silva Xavier”.
“Meu povo é meu herói / ele é a força / que a forca não pode calar”.
Há diversas outras canções que tratam das belezas, das gentes, dos lugares e da história de Minas Gerais. Por isso, o disco “Conspiração dos Poetas” é obrigatório para os que gostam da boa música e desta admirável região.
Itunes: https://itunes.apple.com/br/album/conspiracao-dos-poetas/id302094399
Gabriel de Abreu M. Gaspar, "AO SOM DA CONJURAÇÃO". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/ao-som-da-conjuracao/. Publicado em: 02 de junho de 2022. ISSN 2764-7404