Lisboa. Noite de 3 de setembro de 1758. Uma carruagem percorria uma rua secundária de capital do Império Português. Nela, sem escoltas, estava o rei, D. José I, que retornava aos aposentos reais no Palácio da Ajuda. Quando se aproximava do local onde hoje se encontra a Igreja da Memória, construída justamente em agradecimento a Deus por sua salvação diante do atentado sofrido, a carruagem é detida por um grupo de homens que disparou “golpes de fogo” quase à queima roupa contra o rei, causando lesões em um braço e nas costas. O atentado ficou em segredo por dois meses e a população portuguesa nada sabia. No entanto, os diplomatas estrangeiros especularam sobre as causas da tentativa de assassinato. O representante da França apontava como causa o relacionamento amoroso entre o D. José e sua amante, D. Teresa de Távora, irmã e nora de Francisco de Assis, o Marquês de Távora pai.
Seja como for, alguns dias depois, entre 12 e 13 de setembro, a Família Távora foi presa como principal suspeita, juntamente com alguns criados e padres jesuítas. Instaurou-se uma devassa, isto é, um processo criminal, que culminou meses depois com a sentença condenando o Duque de Aveiro, considerado o principal líder da conspiração, e os nobres da importante família Távora por crime de lesa-majestade, em razão da conjuração que planejou o atentado contra Sua Majestade, D. José I. Dentre as causas, os magistrados defendiam que o Duque de Aveiro, proeminente figura da Corte, contrariado pelo rei em pretensões políticas, idealizou e planejou, em conjunto com outros nobres, os Távoras, o assassinato do Rei.
Condenados à pena capital fazia-se necessário uma demonstração pública voltada a todos os súditos do reino que servisse de exemplo para ensinar o fim que esperava os traidores.
Execução dos Távoras, estampa da época (1759-60)
Esboço do patíbulo construído, em Belém, para a execução da Família Távora – Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Os envolvidos no atentado foram executados na manhã do dia 13 de janeiro de 1759. Embora a prática de execuções públicas não fosse estranha ao Antigo Regime, a execução dos Távoras causou espanto pelo rigor de julgamento e punição que a família foi alvo. Diversas descrições das mortes foram escritas e circularam pela Corte e hoje o Impressões Rebeldes publica o registro oficial “Relação das Pessoas que foram punidas pela infame conjuração contra a vida de S. Majestade, D. José I”.
A primeira executada foi a Marquesa Dona Leonor de Távora às 8h15min daquela manhã. Conta o documento que ela “morreu degolada por de trás, sentada em um banco” com seus olhos vendados.
O Conde de Atouguia, D. Jeronimo de Ataíde, genro do Marquês de Távora, “morreu de garrote”, isto é, foi estrangulado sem a suspensão do corpo, “e depois massolado”, partido com pancadas.
Algumas horas depois, foi a vez do Marquês de Távora, Francisco de Assis, “morreu rodado” e “massolado vivo”. Isto significa o corpo do Marquês foi preso à uma roda e teve seus ossos quebrados com maças e martelos até a morte.
Considerado o “principal cabeça” da conjuração, José Mascarenhas, Duque de Aveiro, foi “rodado vivo” e depois “deitado sobre a lenha”, quando seu corpo foi incinerado.
O regicídio era o mais grave dos crimes sob o governo monárquico e, tramado por integrantes da própria nobreza, exigia uma punição exemplar e pública.
Para saber mais acerca desta punição, acesse o documento completo!
Gabriel Gaspar, "NOBREZA NO CADAFALSO". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/nobreza-no-cadafalso/. Publicado em: 02 de junho de 2022. ISSN 2764-7404