Revista Impressões Rebeldes

INCONFIDÊNCIA POÉTICA

Uma das maneiras de se conhecer um movimento rebelde é ler o que os poetas escreveram sobre ele. Poesias e crônicas sobre a Inconfidência Mineira estão online.

INCONFIDÊNCIA POÉTICA - DI CAVALCANTI

Renato Venâncio

Renato Venâncio é professor da Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em História pela Universidade de Paris IV – Sorbonne (1993). Autor de “Famílias Abandonadas – Assistência à criança de camadas populares no Rio de Janeiro e em Salvador – séculos XVIII e XIX” (1999).

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“Através de grossas portas, sentem-se luzes acesas,
— e há indagações minuciosas dentro das casas fronteiras.
“Que estão fazendo, tão tarde?
Que escrevem, conversam, pensam?
Mostram livros proibidos?
Lêem notícias nas Gazetas?
Terão recebido cartas de potências estrangeiras?””

Os versos acima foram escritos por Cecília Meireles, em seu famoso “Romanceiro da Inconfidência” (1953), que revisita, em poesia, a Minas Gerais de fins do século XIII. A obra consta nas referências reunidas na Plataforma Hélio Gravatá e na Revista do Arquivo Público Mineiro.

Hélio Gravatá foi um dos maiores eruditos que Minas Gerais conheceu, foi também um dos maiores bibliófilos brasileiro. Nascido no município fluminense de Paraíba do Sul, em 1910, e falecido em Belo Horizonte, em 1996, Gravatá dedicou a vida à reunião de uma imensa coleção de referências bibliográficas a respeito de Minas Gerais.

Atualmente, o Sistema Integrado de Acesso do Arquivo Público Mineiro (SIAAPM) disponibiliza mais de 80 mil delas na “Plataforma Hélio Gravatá – fontes relevantes para o estudo da história mineira”.

Na plataforma é possível fazer uma busca por meio da inserção de palavras-chave, pela escolha de um assunto da lista disponível (bibliografia, autor, título, período colonial, periódico, dentre outros), pela data de publicação e escolher ainda os critérios de ordenação dos resultados.

Além desta forma de pesquisa, há outra maneira de acessar as referências compiladas por Hélio Gravatá. A Revista do Arquivo Público Mineiro também publicou alguns levantamentos bibliográficos feitos por ele. O conjunto de referências que pode ser conferido neste link diz respeito à poesia produzida pelos inconfidentes ou que contribuiu na construção da imagem deles como heróis nacionais.

O conteúdo dessas referências, em parte, encontra-se neste mesmo site, disponibilizado em jornais, como no caso do Hyno de Tiradentes, de Bernardo Guimarães, publicado no O Liberal Mineiro, dia 21 de abril de 1882:

“Salve, Salve, ínclito mártir,
Resplandecente farol!
Da aurora da liberdade
Foste o sangrento arrebol
(…)
A tua cabeça heroica
Sobre vil poste hasteada
LIBERDADE – Independência
Até hoje inda nos brada
(…)
Do teu mutilado corpo
Os membros esquartejados
Foram ecos rugidores
Aos quatro ventos lançados
(…)
Do teu sangue generoso
Esta terra rociada
Fez brotar da independência
A semente abençoada”

Outra pérola das referências de Hélio Gravatá é a crônica de Carlos Drummond de Andrade intitulada “Tiradentes e Portinari no MEC” por ocasião da exposição do mural “Tiradentes” do artista Candido Portinari no Ministério de Educação e Cultura. Através da publicação no Jornal do Brasil, dia 23 de novembro de 1974, o poeta destaca que, nos painéis, “Tiradentes emerge de uma orquestração sinfônica de figuras, cores, dores, protestos, sonhos, realidades” combinando, na obra, análise histórica e interesse pictural.

Há ainda referências dos poetas contemporâneos à Inconfidência de 1789 e que conspiraram ao lado de Tiradentes. Exemplo disso é a famosa obra “Marília de Dirceu” (1792) de Tomás Antônio Gonzaga, que na Lira XXXVIII se lê os seguintes versos:

“Qual é o povo, dize,
Que comigo concorre no atentado?
Americano Povo?
O Povo mais fiel e mais honrado:
Tira as Praças das mãos do injusto dono,
Ele mesmo as submete
De novo à sujeição do Luso Trono!
(…)
Acabou-se, tirana,
A honra, o zelo deste Luso Povo?
Não é aquele mesmo,
Que estas ações obrou? É outro novo?
E pode haver direito, que te mova
A supor-nos culpados,
Quando em nosso favor conspira a prova?”

Através destas plataformas disponíveis online no site do Arquivo Público Mineiro – a Plataforma Hélio Gravatá e a Revista do Arquivo – é possível acessar milhares de referências de poesias, crônicas, livros dos próprios inconfidentes como Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto, de autores que escreveram sobre a Inconfidência Mineira, tanto do Brasil, como Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, quanto do exterior.

Bibliografia Básica

ALCIDES, Sérgio. Estes penhascos: Cláudio Manuel da Costa e a paisagem das Minas, 1753-1773. São Paulo, Editora HUCITEC, 2008.

CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

MEIRELES, Cecília. O Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 3ª. Ed, 2005.

PROENÇA FILHO, Domício (org.). A Poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1996.

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