Sala de aula - Roteiro

Revolta da Cachaça (Rio de Janeiro, 1660-61)

Primeiro Momento

APRESENTAÇÃO DE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA REVOLTA CACHAÇA.

Leais ou Rebeldes: Abordar uma das características das Revoltas durante o período colonial: povo injustiçado que se rebela contra a tirania de algum representante do poder real que contraria a benevolência do rei para com seus subordinados.

  • A leitura dos documentos sobre a revolta da cachaça mostra que, sempre que havia alguma manifestação, os amotinados juravam fidelidade à Coroa portuguesa, ao passo que demonstravam forte oposição às autoridades coloniais que representavam a administração real.
  • A partir disso, discutir com os alunos o conceito de justiça, direito à rebelião e obediência no Antigo Regime. O soberano ou representante real que agisse com tirania contra seus vassalos, deveria ser deposto por tal agressão aos seus súditos. Isso é explicitamente expresso nas reivindicações contrárias às medidas do governador Salvador Correia de Sá, que agiu, na concepção dos amotinados cariocas de 1660, contrário às ordens reais na medida em que aprovou impostos sem a devida autorização da câmara, sendo insensível às fragilidades financeiras dos seus governados, portanto, devendo ser deposto.
  • Porém, algumas narrativas, como as de Salvador Correia de Sá e a dos oficiais da Câmara, trataram o levante como contrário ao rei, inclusive como movimento que buscou romper com o domínio da metrópole portuguesa, bem como contrário à religião católica. Ou seja, seriam os rebelados leais ou vassalos? Caso fossem ambos conceitos, tais categorias referiram-se a quem?
  • Essa discussão possibilita o diálogo e a interdisciplinaridade horizontal com a disciplina de língua portuguesa, na medida em que essa discorre o seguinte: (EF69LP30) Comparar, com a ajuda do professor, conteúdos, dados e informações de diferentes fontes, levando em conta seus contextos de produção e referências, identificando coincidências, complementaridades e contradições, de forma a poder identificar erros/imprecisões conceituais, compreender e posicionar-se criticamente sobre os conteúdos e informações em questão.

Queixas e Contestações: Abordar as principais reivindicações expressas pelos amotinados que, de maneira geral, se voltavam contra o novo sistema de tributação e contra o governador.

  • A Revolta da Cachaça foi antes de tudo uma rebelião antifiscal. O Rio de Janeiro vivenciava um problema crônico em suas finanças, que tinha sido desestruturada para a manutenção da defesa militar da cidade e pelas barreiras encontradas para a comercialização do açúcar e de seus congêneres.
  • Algumas formas de tributação haviam sido criadas para arcar com as despesas militares da cidade do Rio de Janeira, dentre elas, a proposta pela Câmara que extinguiu a tributação sobre o vinho, permitindo a comercialização da cachaça e, consequentemente, a tributação sobre essa bebida. Salvador Correia de Sá aceitou essa proposta da Câmara, porém, essa forma de tributação ficou aquém do esperado. Então, o governador, em outubro de 1660, recorreu à cobrança de finta suplementar (sem consultar a Câmara), isto é, todos os moradores deveriam pagar uma taxa mensal. Este foi o estopim para a Revolta de 1660-61.
  • Além da tirania, Salvador Correia de Sá era acusado de praticar nepotismo, ao preencher cargos oficiais com seus familiares; despotismo, administrando o poder com arbitrariedade; de apropriar-se de recursos financeiros para benfeitoria própria; e de impedir que os colonos explorassem a mão de obra indígena.

Castigo: Abordar as formas de punição vigentes no período da Revolta e a forma como um dos líderes do movimento foi punido: pena capital, desagradando as autoridade régias.

  • Para garantir a resolução do conflito, o governador Salvador Correia de Sá, após reconquistar a cidade do Rio de Janeiro sem muita resistência, aplica algumas punições aos responsáveis pelo movimento: detenção e pena capital a Jerônimo Barbalho, considerado o líder do movimento de 1660. Além disso, J. Barbalho teve sua cabeça exposta no pelourinho da cidade.
  • Sobre a resolução da Revolta, o rei era aconselhado a agir com misericórdia para com os rebelados, pois era uma prática daquele período para evitar que os rebeldes se levantassem novamente. Porém, também era comum aplicar uma pena rigorosa aos líderes da rebeldia para que servissem de exemplo a não ser seguido por outros. Foi a última forma de correção adotada pelo governador Salvador Correia de Sá, que desagradou a Coroa, afinal, não era bem visto a aplicação de uma pena tão cruel a um homem branco da elite senhorial.
  • Em decorrência dessa forma de punição, vista como desnecessária pela Coroa, as autoridades reais depuseram o governador, que caiu em ostracismo. O procedimento, doravante, para a resolução dos conflitos seria de um Rei indulgente e benevolente na resolução dos conflitos

Segundo Momento

ANÁLISE DOS DOCUMENTOS

Organização da turma:

  • Divida a turma em 5 cinco grupos, de modo que fique por volta de cinco alunos por grupos, caso a turma seja grande, divida os grupos de modo que não extrapolam sete integrantes em cada grupo. Após realizada a organização da turma, distribua os documentos e as atividades, impressos em folhas A4, para os grupos. Em seguida, solicite que cada grupo faça a leitura de um dos documentos, em voz alta, de modo que toda a turma escute.
  • Antes de solicitar que eles façam a análise depurada do documento e respondam as perguntas, discuta com os alunos, interrogando-os a falarem, a questão gramatical dos documentos. Alguns questionamentos, como se notam diferenças na forma como o português é escrito e falado nos dias de hoje com os do documentos, ou se conseguem notar diferenças morfológicas em palavras escritas em diferentes documentos. Isso será importante para estabelecer o diálogo com a disciplina de língua portuguesa, estabelecendo além de conexão com a BNCC do ensino fundamental, um diálogo com os conteúdos que serão abordados em Linguagens e suas Tecnologias durante o ensino médio, consequentemente, no vestibular do Enem.
  • Feito os passos acima, o professor deverá solicitar que os grupos iniciem a análise depurada dos documentos. É importante que o professor deixe os alunos à vontade para realizarem a interpretação das fontes, obviamente, ele pode intervir caso algum grupo ou aluno peça alguma ajuda. Dessa forma, os alunos exercerão o que pede a habilidade EF07HI10 e poderão construir, com base em suas capacidade mentais e pedagógicas, sua aprendizagem de modo livre e crítico, Mesmo que alguns dos alunos desenvolvam uma interpretação particular, talvez, contrária a historiografia do tema, valorize e respeite o pensamento do aluno, claro, faça um debate com ele e/ou o apresente a outras fontes e referências bibliográficas, de modo que ele se aprofunde no tema.

DOCUMENTO 1:

  • Esse documento tem por finalidade que os alunos reconheçam duas características fulcrais dessa rebelião: anti fiscal e a favor dos poder real, visto que os revoltosos deixaram claro sua fidelidade ao rei e suas insatisfações quanto à tributação. Além disso, espera-se que os alunos reconheçam as intenções de quem redigiu aquele documento, bem como destaque as reivindicações expressas. Nesse sentido, devem, por exemplo, reconhecer a concepção de direito e justiça expressas pelos amotinados, por meio da manifestação lealdade ao Rei de Portugal e das atitudes de antipatia demonstradas ao Governador da capitania. Além disso, espera-se que os alunos lembrem-se de quando, durante o primeiro momento da aula, o professor comentou sobre o contexto da produção desse documento.

DOCUMENTO 2:

  • Espera-se que os alunos notem a forma como o movimento foi visto pelos contrários à causa rebelde, demarcando a suspeita de irredentismo e traição dos mesmos ao rei Afonso VI. Além disso, que relembrem do momento inicial da primeira parte da aula, em que o professor destacou o contexto efervescente de constantes ameaças estrangeiras ao território colonial português.

DOCUMENTO 3:

  • A análise desse documento visa que os alunos reconheçam o processo que levou a pacificação do conflito, demarcando as alianças estabelecidas por Salvador Correia de Sá e a aparente forma amorosa como foi recebido pelos amotinados, inclusive sem qualquer tipo de resistência, pelo menos nas palavras do governador.

Atividade Final

  • Espera-se que os alunos, após compreenderem a seu modo o ocorrido entre 1660-61, assumam o papel de espectador e, também, de agentes no conflito para solucioná-los, aplicando medidas que lhes pareçam justas. Essa atividade dialoga com o que pede a BNCC na medida em que o currículo comum escolar pede que alunos apliquem conceitos de ética e moral para diferentes momentos da história e diferentes povos. Além disso, espera-se que, a partir disso, os alunos consigam analisar diferentes pontos de vista e estabelecer uma noção acerca.

Plano de aula elaborado por:

  • Leandro Silva Machado dos Santos
    Graduando no curso de História da Universidade Federal Fluminense