Revoltas

Revolta indígena no Engenho de Santana

Capitania de Ilhéus (1534 – 1761)Ilhéus

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1602 / 1602

"Famille d’un Chef Camacan se préparant pour une Fête", aquarela de Jean-Baptiste Debret, (entre 1820-1830). Fundo Itaú Cultural.

Na Capitania de Ilhéus, no século XVII, aconteceu uma revolta indígena na propriedade da Dona Filipa de Sá – filha de Mem de Sá- e de seu esposo Fernando de Noronha, 3° Conde de Linhares. Trinta casais do Engenho de Santana fugiram para propriedade do lavrador Henrique Lois por motivo de maus tratos. Não se tem documentos comprovando as punições aplicadas aos rebeldes envolvidos na fuga.

A capitania de Ilhéus apresentava uma notável disparidade entre a parte norte e sul. A região norte da capitania desfrutava das vantagens devido à sua conexão com a rota comercial que a ligava ao Recôncavo açucareiro e à cidade de Salvador. Enquanto isso, a região sul do Rio das Contas enfrentava desafios significativos. Esses desafios incluíam questões geográficas, como uma costa retilínea e ventos desfavoráveis para a atracação de caravelas de grande porte. O sul estava parcialmente inserido na rota do comércio atlântico e enfrentava crises administrativas e conflitos frequentes com povos indígenas, ocorrendo em anos como 1558, 1602-1603, e outros em 1605 e 1607.

A historiadora Maria Hilda Paraíso (2015, p. 104) identificou que os efeitos dos problemas que impediam o desenvolvimento do sul da capitania podiam ser observados por meio de vários sinais. Esses sinais incluíam a predominância do comércio interno – envolvendo farinhas e madeiras – em detrimento da produção significativa de açúcar. Além disso, havia um número reduzido de aldeamentos, cerca de três, e de missionários atuando no local. A região também testemunhou a organização de múltiplas expedições em busca de minerais e de índios para venda no recôncavo. A migração de moradores para o norte da capitania, uma área mais próspera, também resultou em uma redução demográfica. 

Na tentativa de viabilizar a colonização, o donatário da Capitania, Jorge Figueiredo Correa, procurava sesmeiros ricos que poderiam auxiliar na colonização da Capitania e três se destacam: Mem de Sá, Fernão Alvarez e Lucas Giraldes – o último, que com a morte do capitão donatário assume o posto em 1552. Esses três sesmeiros fundaram seus engenhos e prosperaram até se iniciarem as sucessivas revoltas indígenas promovidas pelos Tupis do litoral, que compunham a maioria absoluta da mão de obra usada na atividade açucareira e no fornecimento de alimentos. 

Segundo Coelho Filho (2000, p. 23), o Governador-geral Mem de Sá possuía nesse engenho 132 escravos, sendo 117 indígenas. Lucas Giraldes, em 1552, com uma riqueza mais consistente que o antigo capitão donatário, procurou implementar um novo ritmo de trabalho e isso implicava aumento do número dos escravizados indígenas e confiscação das terras aldeadas. A Capitania de Ilhéus no seu litoral possuía predominância do povo Tupi, que devido às tentativas de captura para utilizá-los como mão de obra escrava, optaram por fugir para o interior. Porém, ao adentrarem o território, ocorreram conflitos com etnias já existentes, com os povos tapuias – como os tupis chamavam os indígenas que não faziam parte do grupo linguístico tupi, que geralmente são falantes do Macro Jê. “Tapuia” significa bárbaro em Tupi.

Em 1595, foi declarada uma guerra justa contra os índios tapuias. Conforme observado pela historiadora Maria Hilda Paraíso (2015, p.109), isso sugere que a demanda por trabalhadores ainda persistia, levando ao aumento no número de expedições em busca de escravos. Os chamados Aimorés reagiam e continuavam a realizar ataques esporádicos nas propriedades dos colonos.

No ano de 1602, ocorre uma revolta onde os 30 casais de indígenas escravizados fogem para a propriedade do lavrador Henrique Lois. A fuga em massa – uma forma recorrente de resistência indígena – foi bastante articulada, ela ocorreu em um domingo após maus tratos entre os administradores do Engenho de Santana em relação aos indígenas. Essa fuga fez com que diminuísse a quantidade de escravizados e aumentando, assim, a demanda daqueles que permaneceram no engenho. Dos 30 casais de indígenas que fugiram, 20 foram devolvidos para o Engenho. O lavrador Henrique Lois prometeu que iria capturar e devolver os indígenas. Após três anos da fuga, ainda havia pendência entre partes, já que nem todos os casais foram entregues e os outros cativos que tinham regressado para fazenda voltaram a fugir para a propriedade do Henrique Lois. 

Conforme a historiadora Maria Hilda Paraíso (2015, p.116), convém destacar que, por serem os domingos os dias de descanso dos escravos, a estratégia facilitou a ação, pois a ausência deles nas atividades da fazenda e do engenho e, até mesmo na lavoura de particulares e religiosos, não provocaria estranheza. Ao contrário da revolta de 1558, os indígenas perceberam que eram importantes para o funcionamento do engenho e com isso se organizaram para a fuga.

Não há documentos revelando como foi o desfecho da revolta e se os revoltosos foram punidos ou capturados, ou como se deu o término da tensão entre os administradores do engenho do conde de Linhares. 

 

(Caio Feitosa, graduando no curso de História da Universidade Federal Fluminense)

Antecedentes

O Capitão Donatário da Capitania de Ilhéus, visando a prosperidade de suas terras, buscou sesmeiros ricos. Um deles era o Mem de Sá, que utilizava mão de obra indígena como força de trabalho para seu engenho. Há relatos que dentro do engenho ocorria maus tratos com os indígenas, ocorrendo revoltas nos anos de 1558, 1602-1603, 1605.

Conjuntura e contexto

No final do século XVI e início do século XVII, houve uma transição significativa na utilização de mão de obra escrava, passando dos indígenas para os africanos. No entanto, muitos senhores de escravos continuaram a preferir a utilização de mão de obra indígena devido à sua praticidade econômica. Eles frequentemente usavam preceitos religiosos como uma maneira de justificar a captura de mais indígenas. Alguns desses indígenas eram vistos como “bárbaros” que não se converteram ao cristianismo e, portanto, eram alvos de práticas como a chamada “guerra justa” para aprisioná-los.

Números da Revolta

60 participantes

Grupos sociais

Autoridades

Ações de protesto não-violentas

  • Fuga
  • Fuga de escravizados

Repressão

Contenção

  • Não informadas

Punição

  • Não informadas
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