Revoltas

Palmares

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Alagoas

Início / fim

1602 / 1695

"A Guerra dos Palmares", pintura do ilustrador Manuel Vítor Filho (1955)

Há notícias de fugas de escravos nas áreas açucareiras do nordeste do Estado do Brasil desde final do século XVI. No entanto, a primeira referência a “negros levantados” que se instalaram nas matas ao sul da antiga capitania de Pernambuco é de 1602. Nesta região havia áreas cobertas por palmeiras e o termo “palmar” ou “palmares” era muitas vezes utilizado para denominar esses assentamentos de fugitivos. Aos poucos, esse nome foi designando um grupo específico, que ficou conhecido como os “negros levantados dos palmares” ou, simplesmente, Palmares.

No tempo da ocupação holandesa, os Palmares estavam situados a noroeste de Alagoas do Sul, compostos por vários mocambos, grandes e pequenos. No início da década de 1660, espalhavam-se pelo sertão de Porto Calvo e Alagoas, abrangendo até o sertão de Sirinhaém nos anos 1670. Uma crônica escrita em 1678 descreve uma rede de mocambos formada por dez grandes “cercas”: o mocambo do Zambi, o de Aca Inene, dois chamados das Tabocas, o de Dambrabanga, Subupira, do Osenga, do Amaro, de Andalaquituxe, e a “cerca real” de Macaco. Governadas por líderes aparentados, sob o comando do “rei” Gana Zumba, os Palmares ocupavam um “vão de 40 ou 50 léguas” a noroeste de Porto Calvo e Sirinhaém.

É difícil determinar o contingente populacional dos Palmares, pois as fontes nem sempre são convergentes e tendem a inflar os números a fim de sublinhar o perigo que eles apresentavam para as autoridades coloniais. As memórias e crônicas mencionam por volta de 5 a 6 mil pessoas no tempo dos holandeses, subindo para 16 ou 20 mil em meados da segunda metade do século XVII. Os relatos militares, no entanto, registram que as expedições que atacaram e destruíam as casas e roças dos mocambos, matavam muita gente, mas traziam apenas algumas dezenas de prisioneiros, raras vezes mais de 200.

Desde o final do século XVI, cerca de 80% dos escravizados levados à região de Pernambuco provinha da África Central, especialmente de Angola. Ainda que pudesse haver gente vinda de outras partes da África ou mesmo indígenas em Palmares, eram os falantes de quimbundo que compunham a maioria de seus habitantes. A cultura centro- africana servia de matriz para a organização política, econômica e militar dos Palmares.

Os mocambos maiores eram defendidos por paliçadas cercadas por valas e estrepes, que abrigavam casas e plantações de milho. As fontes relatam a existência de cisternas, forjas e “igrejas”. Usavam os troncos das palmeiras para construir casas e camas, comiam seus cocos e palmitos, e delas extraíam azeite, manteiga e vinho. Arcos e flechas eram utilizados para caçar e guerrear.

De seus mocambos cercados e defendidos, os “negros dos palmares” faziam incursões para assaltar os caminhos e fazendas, roubar armas, gêneros alimentícios e escravos. Ao crescerem demográfica e politicamente, os Palmares constituíam uma ameaça ao desenvolvimento da lavoura escravista. Muitas foram as expedições que tentaram acabar com os mocambos, organizadas oficialmente pelo governo da capitania, com tropas pagas ou das Ordenanças ou ainda compostas por particulares. Em várias ocasiões, as autoridades coloniais tentaram também fazer acordos de paz com as lideranças dos Palmares.

Em 1677, depois que um ataque maciço destruiu vários mocambos e a “cerca real” de Macaco, matou muita gente e aprisionou centenas (incluindo membros da família governante dos Palmares), houve negociações com as autoridades coloniais para estabelecer um acordo de paz. Em troca da liberdade para os nascidos nos Palmares, de terras na região de Cucaú e da proteção régia, o líder Gana Zumba prometeu devolver os escravos que haviam fugido para os mocambos e ajudar a submeter os que continuassem a resistir. Sob a liderança de Gana Zumba e Gana Zona, cerca de 400 pessoas estabeleceram-se na aldeia de Cucaú, situada a sudoeste de Sirinhaém. Outras tantas pessoas internaram-se nas matas, sob o comando de Zumbi, recusando o acordo de paz.

No início de 1680, Gana Zumba foi morto e os habitantes da aldeia de Cucaú, acusados de estarem se “desviando do que prometeram”, foram atacados por tropas coloniais. A aldeia foi destruída e cerca de 200 prisioneiros escravizados. Zumbi continuou a resistir, instalando-se em uma cerca fortificada no Outeiro do Barriga. Outros mocambos formaram-se; os mais importantes chamados Gongoro e Garanhum.

Novas expedições foram organizadas, sem que se conseguisse extinguir os Palmares. Houve também novas tentativas de paz, sem sucesso. Em 1687 tropas paulistas foram contratadas para combater os Palmares, mas acabaram sendo enviadas para sufocar uma rebelião indígena no Rio Grande. Somente em 1692 os paulistas atacaram o mocambo fortificado no Outeiro do Barriga, mas não conseguiram destruí-lo. Tropas locais juntaram-se então aos paulistas para cercar o mocambo, que foi finalmente invadido e devastado no início de fevereiro de 1694. Houve muitas mortes e cerca de 500 prisioneiros foram levados para o Recife. Zumbi conseguiu fugir, mas foi morto em 20 de novembro de 1695. Sua cabeça foi cortada e enviada ao Recife, onde foi exposta “no lugar mais público” da vila, na tentativa de satisfazer os patrocinadores da guerra e também “atemorizar os negros que supersticiosamente” julgavam que seu líder era imortal.

Apesar da derrota, os que fugiram do cerco no Outeiro do Barriga reagruparam-se em novos mocambos. No final dos anos 1690, Camoanga, que estevera com Zumbi no Outeiro do Barriga, era a principal liderança dos Palmares. Há registros de outros mocambos na região dos Palmares até as primeiras décadas do século XVIII.

Texto de autoria da historiadora Silvia Lara.

Números da Revolta

Aproximadamente 93 anos de duração
Relatos militares registram que as expedições que destruíam os mocambos traziam apenas algumas dezenas de prisioneiros, raras vezes mais de 200 condenados

Outras designações

Quilombo dos Palmares

Grupos sociais

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Fuga
  • Fuga de escravizados
  • Negociações e acordos de paz
  • Roubo de armas e munição
  • Roubo de comida
  • Roubo de escravos
  • Roubo de mulheres

Ações de protesto violentas

  • Ataques Noturnos
  • Batalhas e combates
  • Mobilização de escravos armados

Fontes impressas

Carta do governador de Pernambuco acompanhada de Consulta do Conselho Ultramarino sobre as pazes que pedem os negros dos Palmares

Alvará por que Vossa Alteza há por bem declarar a forma em que se há de proceder na liberdade, cativeiro e castigo dos negros dos Palmares na capitania de Pernambuco e devassa que nela se há de tirar do crime da traição que eles intentaram fazer

Propostas do Capitão Inojosa para o príncipe regente Dom Pedro acerca da conquista dos Palmares

Portaria para o coronel Afonso Barbosa da França sobre ação dos capitães do mato nos Palmares

Bando do governador Fernão de Souza Coutinho acerca de armas proibidas

Auto dos motivos que deram causa ao rompimento do povo contra seu governador

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