Revoltas

Contestação em defesa da permanência de D. Pedro (Dia do Fico)

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Paço Real – Rio de Janeiro

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1822 / 1822

A decisão de permanecer no Brasil abriu a possibilidade para a futura aclamação de Dom Pedro I como Imperador do Brasil, no campo de Sant’Ana, Rio de Janeiro em 1822. Cena retratada na aquarela de Jean Baptiste Debret (1839). Acervo da Fundação da Biblioteca Nacional.

No dia 9 de dezembro de 1821, as Cortes lisboetas ordenaram o regresso de D. Pedro para Portugal. Em defesa da permanência do príncipe regente no Brasil, uma manifestação foi iniciada e liderada por José Bonifácio de Andrada e Silva. Os agitadores elaboraram um abaixo-assinado argumentando que a presença do príncipe regente seria um elo indispensável entre as Cortes lusitana e brasileira, além de assegurar a união entre os dois reinos (desde 1815 o Brasil tinha o estatuto de reino unido a Portugal). No Rio de Janeiro, os manifestantes entendiam que a decisão das Cortes havia sido despótica e contrária à vontade do Rei D. João VI de deixar D. Pedro como Regente do Brasil. Os revoltosos fizeram uma procissão, no mesmo dia, em direção ao Paço Real (no atual bairro de São Cristóvão) a fim de entregar o documento para o regente. Após a reunião com a Câmara dos Senadores, o príncipe regente decidiu permanecer no Rio de Janeiro contrariando as ordens das Cortes lisboetas. 

 A Revolução Liberal do Porto em 1820 teve repercussões políticas tanto em Portugal quanto no Brasil. Os revolucionários do Porto, fortemente influenciados pelo movimento liberal, criaram as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, também chamada de Cortes lisboetas ou Cortes Vintistas. As Cortes Gerais, entre outras determinações, exigiram a volta de Dom João VI, vivendo no Rio de Janeiro desde 1808, para Lisboa, e a elaboração de uma Assembleia Constituinte, que colocaria fim ao absolutismo português. Não satisfeitos com a manobra de D. João de deixar seu filho como regente no Brasil, as Cortes lisboetas em dezembro de 1821,  ao julgar desnecessária sua permanência no Brasil, pressionaram pelo retorno de D. Pedro para Portugal. 

Nesse cenário político conturbado, em 26 de dezembro de 1821 chegou uma Carta Régia de D. João VI acompanhada por uma série de decretos que dividiam o Brasil em províncias portuguesas. Além disso, as Cortes lisboetas, ao exigirem o regresso de D. Pedro, tinham em vista a preocupação com a formação educacional do príncipe, necessária para quando futuramente assumisse o trono português. Por meio de viagens planejadas para as Cortes e Reinos da Espanha, França e Inglaterra, o príncipe obteria conhecimentos e polidez dignos de um futuro Rei português. 

Os decretos significavam a perda pelo Rio de Janeiro da centralidade político-administrativo, uma vez que ali não residiria mais o Príncipe. A elite brasileira considerou os decretos como uma tentativa das Cortes de enfraquecer a regência do Brasil, além de entenderem como uma posição despótica contrária às ordens do Rei D. João VI em deixar D. Pedro como regente. 

Dessa forma, no dia 9 de janeiro de 1822 uma comitiva se dirigiu ao Paço Real em  São Cristóvão, na zona central do Rio de Janeiro. Essa comitiva foi articulada principalmente pela elite carioca, negociantes e oficiais de ourives, mas contou com apoio de uma parcela popular. Sob a liderança de José Bonifácio, vice-presidente da Junta Provincial de São Paulo, esse movimento promoveu uma manifestação em defesa da permanência de D. Pedro no Rio de Janeiro. 

Respondendo às exigências de Lisboa, a procissão elaborou um manifesto e abaixo-assinado, que reuniu cerca de oito mil assinaturas contrárias às ordens de Lisboa. O manifesto exprimia que o regresso de D. Pedro ocasionaria retaliações no Brasil por meio da promoção da anarquia, do rompimento das relações entre os reinos e até a emancipação do país. O documento dos manifestantes foi redigido principalmente pelo frei Sampaio e teve como principal promotor José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro.  

Após receber o manifesto, D. Pedro realizou uma reunião com os senadores no Paço Real. Ali mesmo o regente declarou apoio aos manifestantes e registrou que seu retorno ia demorar. Para a história suas palavras teriam sido as seguintes: “Como é para o bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo, que fico!”. Os manifestantes, que assistiram o pronunciamento do príncipe, celebraram a vitória com gritos de “vivas”. 

Escolhendo ficar, o príncipe negava o apelo de seus conterrâneos, mas atendia aos interesses dos brasileiros. Sob a ameaça de voltar à condição de colônia, o país tomou o rumo contrário e se rebelou, com o passar dos anos, contra as amarras portuguesas. 

No entanto, a decisão do regente não foi aceita plenamente. As tropas lusitanas da Divisão Auxiliadora entenderam o ato como um movimento anárquico divergente das ordens lisboetas. Na tentativa de prender e levar D. Pedro à força para Portugal, as tropas amotinaram-se nos dias 11 e 12 ocupando o Largo do Moura e o Morro do Castelo. Rapidamente, em defesa do regente, formaram-se tropas brasileiras compostas pelas milícias locais, por parte da população e por frades e padres. O medo de um grande derramamento de sangue suscitou um acordo entre os lados, culminando com a retirada das tropas lusitanas para a Vila Real da Praia Grande (atual Niterói). 

Em carta escrita no Dia do Fico, D. Pedro deu parte dos acontecimentos a seu pai e oficializou sua decisão de permanecer no Rio de Janeiro e assim garantir a união entre o Reino do Brasil e de Portugal. 

O complexo processo de emancipação brasileira passou por diversas batalhas regionais, que envolveram disputas sociais, militares e políticas que não se restringiram à Corte do Rio de Janeiro, a São Paulo e a Minas. Tampouco se encerraram com o “grito do Ipiranga” em setembro de 1822. 

Disputas importantes ocorreram em províncias mais afastadas, como a formação do popular Exército Libertador, o cerco às tropas portuguesas na Bahia em 1823 e, no mesmo ano, a batalha às margens do rio Jenipapo no Piauí, que juntou as forças locais às cearenses e maranhenses. No entanto, é apenas em 1825 e depois de muitas colisões entre os dois lados que Portugal finalmente reconhece a independência brasileira por meio do Tratado de Paz, Amizade e Aliança. 

 

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Antecedentes

Em 1820, a Revolução Liberal do Porto causou grande repercussão na política de Lisboa e no Brasil. Os revolucionários do Porto, influenciados pelos ideais liberais, criaram as Cortes Lisboetas, e exigiam que o príncipe regente retornasse a Portugal, onde uma Assembleia Constituinte seria promulgada e, dessa forma, o absolutismo português teria fim.

Conjuntura e contexto

Os interesses das elites econômicas do sudeste, aliado às ideias constitucionais, reforçam as noções de legitimidade da resistência ao despotismo das Cortes.

Grupos sociais

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Abaixo-assinado
  • Ocupação de Ruas/Praças

Repressão

Instâncias Administrativas

  • Câmara dos Senadores

Bibliografia Básica

BASILE, Marcello Otávio N. de C. O Império brasileiro: panorama político. In: Linhares, Maria Yedda (org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 10a, p. 292-303.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira, Livro Primeiro: o novo descobrimento do Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. v. 2.

SOUSA, Otávio Tarquínio. História dos fundadores do império do Brasil: a vida de D. Pedro I. Brasília, Edições do Senado Federal, vol. 209-A, 2015. p. 295-325.

Fontes impressas

Carta de Dom Pedro para Dom João VI do dia 9 de janeiro de 1822. Disponível em: EGAS, Eugênio. Cartas de D. Pedro príncipe regente do Brasil a seu pae D. João Vi rei de Portugal (1821-1822). São Paulo: Thypographia Brasil de Rothschild e Companhia, 1916. p. 47-48.

Representação do povo do Rio de Janeiro, dirigida ao senado da câmara. Publicado em: EGAS, Eugênio. Cartas de D. Pedro príncipe regente do Brasil a seu pae D. João Vi rei de Portugal (1821-1822). São Paulo: Thypographia Brasil de Rothschild e Companhia, 1916 p. 48-53.

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