Revista Impressões Rebeldes

CARTOGRAFIA REBELDE DOS ESCRAVOS NA JAMAICA

Mapa animado, aliando tecnologia de georreferenciamento e pesquisa histórica, narra o dia a dia de uma rebelião escrava em 1760

"Soulevement des negres", gravura do francês David François - David François, Histoire d'Angleterre (Paris, 1800), vol. 3, seguindo a pág. 36. (Cópia na Biblioteca John Carter Brown da Brown University)

Gabriel Gaspar

Gabriel de Abreu M. Gaspar é graduando em História na Universidade Federal Fluminense e bolsista de iniciação científica (PIBIC). Pesquisa a Conjuração Baiana de 1798 e a trajetória administrativa de Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817).

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Enxergar processos históricos no espaço é a menina dos olhos da História Espacial, que vem encantando os pesquisadores. Na Universidade de Harvard, o professor Vincent Brown deu um passo adiante, desenvolvendo uma metodologia pioneira que permite representar em um plano cartográfico os movimentos de uma rebelião.

O site “Slave Revolt in Jamaica, 1760-1761: a cartographic narrative” (Revolta escrava na Jamaica (1760-1761): uma narrativa cartográfica), lançado em 2012, é coordenado por Vincent Brown, professor de História e de estudos afro-americanos da Universidade Harvard. Através do mapeamento interativo da revolta traçando o movimento dos rebeldes, a plataforma permite perceber seus objetivos estratégicos e as táticas de aproveitamento da topografia da região pela rebelião.

Enquanto os britânicos estavam envolvidos na Guerra de Sete Anos contra a França e Espanha, na ilha da Jamaica, cerca de mil e quinhentos escravos iniciaram uma grande revolta na freguesia de Santa Maria (St. Mary) em 7 de abril de 1760. Durante os 18 meses de duração da revolta, que teve fim em outubro de 1761, os rebeldes mataram cerca de sessenta homens brancos e destruíram centenas de propriedades. Na fase da repressão, mais de quinhentos escravos foram mortos e outros quinhentos foram transportados para fora da ilha. Diversas questões ainda permeiam os acontecimentos na Jamaica, como a coordenação e planejamento das revoltas, os perigos para o Império Britânico, dentre outras.

O mapa é um dos elementos que compõe a narrativa cartográfica que adaptou diversos mapas da época, conjugando as divisões administrativas e a topografia local.

 

Uma revolta em 3 fases:

PRIMEIRA – Esta fase teve como alvo o forte britânico de Fort Maria, onde os rebeldes recolheram armas e munição. Logo após, como é possível observar no mapa, fugindo da repressão britânica, eles seguiram pelos portos estratégicos da ilha da Jamaica. Ao que parece, o objetivo era o controle da zona comercial ao longo dos rios e, quem sabe, realizar suas próprias transações comerciais.

SEGUNDA – Em 25 de maio de 1760, a revolta eclodiu na paróquia de Westmoreland. No mapa, é possível perceber que os rebeldes rumaram pelas cordilheiras e atacaram diversas propriedades da região.

TERCEIRA – Devido a derrota da revolta anterior no início de junho, os rebeldes iniciaram uma longa marcha que durou meses e se estendeu até a Paróquia de Clarendon. Segundo Vicent Brown, a topografia foi fundamental nesta fase da revolta: as cordilheiras ofereciam a elevação necessária para que os ataques às propriedades fossem realizados nas planícies e logo voltassem aos acampamentos.

Não deixe de consultar e explorar todas as possibilidades que o mapa oferece: basta acessar este link e dar play!

O exemplo pode inspirar mapas animados semelhantes sobre resistência dos escravos, ou outros tipos de protesto na história brasileira.

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Como Citar

Gabriel Gaspar, "CARTOGRAFIA REBELDE DOS ESCRAVOS NA JAMAICA". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revista/cartografia-rebelde-dos-escravos-na-jamaica/. Publicado em: 05 de julho de 2022. ISSN 2764-7404

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