Rebeldes / Personalidade

Maria Quitéria de Jesus

  • Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)

Biografia

Em 1792, no povoado de São José das Itapororocas, atualmente localizado no município de Feira de Santana, no estado da Bahia, nasceu Maria Quitéria. Filha de Gonçalo Alves de Almeida, proprietário de terras e lavrador, e Quitéria Maria de Jesus. Em busca de terras mais férteis, mudaram-se para Serra da Agulha, onde com um retorno melhor do solo, suas condições financeiras familiares melhoraram. Tem-se notícias que Maria Quitéria não possuía ensino formal e gostava de realizar, com auxílio de uma espingarda, a caça de aves e mamíferos nas propriedades da família. 

A partir de fevereiro de 1822, deflagra-se o projeto de independência encabeçado por Dom Pedro I no Rio de Janeiro, desencadeando conflitos no estado baiano que pretendia expulsar as autoridades portuguesas da região. Nesse contexto, um emissário visita a casa do pai de Maria Quitéria em busca de apoio financeiro e de novos voluntários para a guerra. Inspirada pelos ditos do emissário, ela solicita a permissão ao pai para voluntariar-se e, diante de sua negativa, foge de casa. Com a ajuda de sua irmã, obteve roupas e assumiu o nome de seu cunhado José Cordeiro de Medeiros, passando a ser nomeada Soldado Medeiros. Com isso, em setembro de 1822, aos 30 anos, assentou praça no regimento de artilharia e foi se destacando dentro do ambiente militar. Diante das suas habilidades com o uso das armas, foi transferida para infantaria do Batalhão dos Periquitos, atuando ativamente no conflito cívico.

A soldado Medeiros, durante os anos que lutou no batalhão, destacou-se pela bravura e pela atuação nas batalhas de Pituba, de Itapuã e da Foz do Rio Paraguaçu. É importante ressaltar que foi ainda nesse período que seu gênero foi revelado. Não se sabe exatamente em que momento a situação tornou-se conhecida pelos que com ela trabalhavam. Entretanto, sabe-se que uma portaria de 28 de março de 1823, do Conselho Interino do Governo, entregou “ao cadete Maria Quitéria, dois saiotes de camelão ou de outro pano semelhante”.

Devido ao seu destaque, recebeu as honras de 1º Cadete pelo General Pedro Labatut, comandante do Exército Imperial Nacional e Pacificador. Em 20 de agosto de 1823, obteve o maior de seus reconhecimentos, conquistando a concessão do soldo de Alferes de Linha e da Comenda de “Cavaleiro da Ordem Imperial” pelo próprio D. Pedro I. Além disso, o príncipe concedeu a ela o uso da insígnia de cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, demonstrando mais uma vez a valorização de seu papel nos conflitos. Durante sua viagem ao Rio de Janeiro, encontrou-se com a inglesa, tutora das princesas do Império e escritora, Maria Graham. O encontro foi relatado no diário da escritora, e serviu de base para a elaboração do primeiro retrato de Maria Quitéria de Jesus, realizado por Augustus Earle e Edward Finder. 

Maria Quitéria retornou no mês de setembro do mesmo ano para a Serra da Agulha, e apesar de seus feitos, não se tem notícias que as condecorações recebidas logo após a pacificação da província tenham levado a uma distinção da sua vida.  As informações que temos de Maria Quitéria nos levam a pensar que sua vida não foi tão abastada. 

Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, com quem teve sua filha Luísa Maria da Conceição.  Durante os anos de 1823 a 1843, ela recorre constantemente ao Juiz de Órfãos de Feira de Santana em defesa de sua herança e separação do inventário de seu pai. Sua presença contínua em Feira de Santana leva a acreditar que morou durante esses anos na região. Após anos de luta por sua herança, Maria, já viúva, foi para Salvador com Luísa, levando apenas o próprio soldo de alferes para sobrevivência. Em 21 de agosto de 1853, morreu de inflamação no fígado e foi sepultada em um pequeno cemitério. 

É fato que houve uma imagética, uma mistificação, construída da sua figura com aquela que teria sido a heroína da independência. Entretanto, entrou em esquecimento e, somente no centenário da independência foi resgatada, no intuito de apontar outros personagens responsáveis pela emancipação política do Brasil. Com esse objetivo, foi encomendado para o Salão de Honra do Museu Paulista um retrato de Maria Quitéria de Jesus em comemoração ao centenário da Independência, o pintor responsável pelo retrato foi Domenico Failutti, que é semelhante em muitos aspectos a gravura original de Augustus Earle e Edward Finden. 

Por um lado, dentro de uma chave mais tradicional, a sua imagem é recuperada como “Heroína da Independência”. Entretanto, recentemente foi reivindicada com o intuito de se pensar e discutir o papel das mulheres no processo de independência. Nesse sentido, Maria Quitéria é, desde 28 de junho de 1996, homenageada como patrona do quadro complementar de oficiais do Exército Brasileiro. 

 

Bruna Alves, Natália Brandão e Rayssa Santiago, graduandas em História na UNIFESP. Texto é resultado da disciplina Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão I (2022/2).

 

Fontes de referência para este texto:

COELHO, Raphael Pavão Rodrigues. A memória de uma heroína: a construção do mito de Maria Quitéria pelo exército brasileiro. 2019. 143 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.

FAILUTTI, Domenico. Retrato de Maria Quitéria. 1920. Museu Paulista, Universidade Paulista. São Paulo. Disponível em: <http://acervo.mp.usp.br/IconografiaV2.aspx#>. Acesso em: 28 de outubro de 2022.

GOMES, Nathan Yuri. Teatro da memória, teatro da guerra: Maria Quitéria de Jesus na formação do imaginário nacional (1823-1979). 2022. 277 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Filosofia, Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.

GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil: e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956.

MAIA, Helder Thiago. Maria Quitéria/Soldado Medeiros: um soldado entre as condecorações nacionais e o esquecimento. Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural, v. 12, n. 1, p. 17–46, 2022.

NETO, Manoel Soriano. Maria Quitéria de Jesus. A Defesa Nacional, v. 85, n. 783, 1999.

REIS JUNIOR, Pereira. Maria Quitéria. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1953.

Nascimento

1792

Morte

21/8/1853
Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)

Revolta

Revolta dos Periquitos

Origem Étnica

Condição Social

Profissão/Ocupação

Comentários

  1. Olga disse:

    Muito bom!!! Parabéns às autoras pela pesquisa e pelo texto!

  2. Bruna Alves Vieira disse:

    Obrigada, Olga! Ficamos felizes que tenha gostado!

  3. Maria disse:

    Que incrível! Estou preparando uma aula sobre independência e irei apresentar essa personagem histórica aos meus alunos. Perfeito!

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