Rebeldes / Personalidade

Filipe dos Santos Freire

  • Portugal
  • Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (1709 – 1720)

Biografia

Filipe dos Santos Freire, filho de João Vicente e Maria Ferreira,  nascido em Portugal e batizado em 15 de janeiro de 1678, na paróquia de São Vicente de Alcabideche, pertencente ao concelho de Cascais, área próxima de Lisboa, foi casado com Tereza Maria, que deixou para buscar fortuna no sertão do Brasil, na região das minas gerais no sertão de São Paulo, onde chegou em torno de 1713. Se estabeleceu em Vila Rica do Ouro Preto, zona de intensa mineração de ouro.

Os primeiros registros de sua presença datam de 1714, quando assina com o sinal da cruz (indicação de que não sabia escrever) um documento fiscal atestando o pagamento do direito do quinto régio. Filipe dos Santos era minerador nos morros ao redor de Vila Rica e dono de cerca de 5 escravizados. 

Quando eclodem os primeiros motins que levariam à revolta de Vila Rica, entre junho e julho de 1720, Filipe dos Santos se destaca no papel de agitador e líder. Em 28 de junho, conduziu o cerco à residência do ouvidor geral da comarca Martinho Vieira de Freitas, protestando contra as ações judiciais praticadas pela autoridade. Os rebeldes reagiram também contra o anúncio, que circulava desde o ano anterior, de um novo sistema de cobrança do quinto régio por meio de casas de fundição e moeda.

O rebelde aparece novamente como agente de uma enorme mobilização no dia 2 de julho, quando a população amotinada marcha em direção ao Palácio do governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro Conde de Assumar, em Ribeirão do Carmo (mais tarde Mariana). Esteve presente em outros momentos de agitação que duram até a reação militar do governador prendendo com rapidez as lideranças. Filipe dos Santos consegue escapar da repressão inicial. 

Em 16 de julho, o Conde sai da Vila de Ribeirão do Carmo e realiza uma caminhada triunfal em direção à capital Vila Rica, levando os líderes presos e retoma o controle do centro de poder. Filipe dos Santos se refugia em Cachoeira do Campo, região rural próxima, recrutando aliados para reviver a revolta até ser surpreendido e capturado pelo tenente Luís Soares de Meireles em 17 de julho de 1720.

Aos 42 anos, Filipe dos Santos seria julgado sumariamente pelo crime de rebelião e condenado à morte, após decisão da junta presidida pelo Conde de Assumar. Foi enforcado em 19 de julho de 1720, seu corpo foi arrastado pelas ruas de Vila Rica e após, esquartejado; sua cabeça foi fincada no pelourinho de Vila Rica, enquanto as partes de seu corpo foram expostas em diferentes locais como Cachoeira, São Bartolomeu, Passagem e Itaubira, de maneira a ser tomado como exemplo. 

O rebelde realizou planos de ascensão social no Brasil conquistando bens, como terrenos e uma casa no melhor bairro de Vila Rica, comprando escravizados. Outra forma de afirmação foi a busca por alfabetização, percebida com a mudança de suas assinaturas em documentos  que aos poucos consegue escrever com seu punho. 

Sua viúva Tereza Maria, que vivia em Portugal, fez o que pode para trazê-lo de volta ao reino anos antes da revolta. Depois de sua morte entrou com requerimento para receber a partilha dos bens. Filipe deixou uma casa, um rancho, crédito na praça, roupas masculinas e femininas e, também, cinco escravos, dentre os quais constava uma mulher chamada Francisca Mina. Acredita-se que ela e Filipe dos Santos viviam de forma conjugal.

Em razão da importância da atuação como líder popular, a revolta também ficou conhecida como Revolta de Filipe dos Santos. A Praça da Matriz de Cachoeira do Campo, em Minas Gerais, também leva seu nome como forma de homenagear aquele que deu sua vida em prol da revolta. Inúmeros outros monumentos e registros de memória lhe prestam homenagem  como o Monumento à terra mineira.

 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

 

Fontes de referência para esse texto: 

FIGUEIREDO, Luciano. Filipe dos Santos e Chica Mina. O garimpeiro português e a escravizada africana de Vila Rica que levantaram as Minas Gerais em 1720. In: Mafalda Soares da Cunha (coord.) – Resistências: Insubmissão e revolta no Império Português. Lisboa: Casa das Letras, 2021. p. 232-237. 

MIRANDA, Marcos Paulo D. S. Apontamentos históricos sobre a sedição de Vila Rica e seus principais personagens. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, v. 42, 2017.

 

Nascimento

15/07/1678Data atribuída
Portugal Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (1709 – 1720)

Revolta

Revolta de Vila Rica

Origem Étnica

Condição Social

Profissão/Ocupação

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