Benta Pereira, nascida em 1675 na Freguesia de São Salvador (atual Campos dos Goytacazes), filha de Domingos Pereira da Cerveira e de Izabel de Souza, esteve ativa ao longo de toda a sua vida e foi uma das principais lideranças, ainda que com 73 anos de idade, da Revolta da Capitania da Paraíba do Sul (região do atual norte-fluminense), também conhecida como “Revolta de Benta Pereira”. Tendo se tornado viúva de Pedro Manhães Barreto em 1713, aos 38 anos de idade, assumiu o lugar de mulher autônoma e chefe da família, que contava com seis filhos, também participantes da revolta em questão, ocorrida em 1748. Benta morreu em dezembro de 1760. 

A viúva era grande proprietária de terras na região e tornou-se fornecedora de gêneros alimentícios, exercendo enorme influência para além do espaço privado, angariando poder político e prestígio social. Adotando estratégias bem sucedidas para ampliação e preservação patrimonial, buscou casar suas filhas com pessoas poderosas e influentes, formando alianças que se estendiam a cidades distantes, como o Rio de Janeiro e com o seu governador, Luiz Vahia Monteiro.

O casamento de sua filha com João de Andrade Leitão uniu as famílias de modo a formar uma grande rede que estaria por trás do movimento rebelde que tomou a capitania em maio de 1748, utilizando a casa de Benta Pereira como centro de mobilização e tomando sua figura como símbolo de força e resistência. Com essa grande rede de alianças, amizades e parentela, Benta Pereira teve papel crucial na revolta que resistiu ao estabelecimento do governo do Visconde de Asseca em Campos, obtendo sua deposição em 1752. 

A notícia da chegada do novo herdeiro donatário, 4º Visconde de Asseca, foi o estopim para a reação dessa rede de moradores e parentela de Benta Pereira, que se  organizam para impedir sua posse, primeiramente com uma representação legal de Manuel Manhães Barreto, filho de Benta, endereçada à Câmara municipal demonstrando o descontentamento geral.  Manuel foi expulso da Câmara e suas cartas não foram enviadas ao governador. Na manhã de 21 de maio de 1748, organizados pelo mesmo, um grupo formado por cerca de quinhentas pessoas, juntou-se frente à Câmara, disposto a propor um acordo, mas também a entrar em conflito armado caso fosse necessário, como de fato aconteceu. A Câmara foi tomada e Mariana de Souza Barreto, filha de Benta, apareceu como figura central no episódio, contando com homens e mulheres dispostos a lutarem contra os Asseca, que neste momento haviam sido vencidos. 

Após o início do conflito, cartas foram enviadas pelo capitão-mor Antônio Teixeira Nunes para comunicar o ocorrido ao governador do Rio de Janeiro, que enviou o general João de Almeida e Sousa à capitania para controlar o levante rebelde. Alguns rebeldes fugiram na tentativa de se salvarem, enquanto outros ficaram para resistir, mas, com a chegada do general em 3 de junho o novo donatário foi empossado, e os rebeldes presos, com punição exemplar. 

Destaca-se nesse movimento a liderança feminina e a participação de outras mulheres, inclusive suas filhas, oposto ao esperado na época. Desde então o brasão de Campos dos Goytacazes reverencia a figura feminina como símbolo exemplar através da frase em latim “Ipsae Matronae Hic Pro Jure Pugnant” (“As próprias senhoras mulheres aqui lutam pelo direito)”. 

Além disso, a lei municipal Nº 7253, DE 10 DE JUNHO DE 2002’, de Campos dos Goytacazes institui a criação da Casa da Mulher Benta Pereira, que tem como objetivo o acolhimento provisório de mulheres vítimas de violência específica e seus dependentes.

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

Fonte de referência para esse texto:

PENNA, Patrícia. Benta Pereira: mulher, rebelião e família em Campos dos Goytacazes, 1748. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2014.