Arquivo Público do Estado da Bahia. Seção Histórica. Cartas ao Governo, 207.
Rebelião dos escravos no engenho de Santana, em 1789.
"(...) queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser nossa paz há de ser nessa conformidade"
"(...) nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós"
"Para podermos viver, nos há de dar rede, tarrafa e canoas"
"(...) quando quiser fazer camboas e mariscar mandes os seus pretos Minas"
"Na planta de mandioca, nós homens queremos que só tenham tarefa de duas mãos e meia e as mulheres de duas mãos"
"Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação"
"(...) no dia santo há de haver remediavelmente peija no Engenho"
"(...) além da camisa de baeta que se lhe dá, hão de ter gibão de baeta e todo vestiário necessário"
"Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquer pau sem darmos parte para isso"
"A estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar sempre de posse da ferramenta, estamos prontos para o servirmos como dantes, porque não queremos seguir os maus costumes dos mais Engenhos"
"Podemos brincar, folgar, cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos empeça e nem seja preciso licença"
Desde o início do tratado, os escravos aprensentam-se como querendo paz, e não guerra, afirmando que, caso o Senhor queira a paz, por parte deles, deve haver conformidade. Tal ideia é retomada no final do documento, quando, depois de apresentadas as exigências, afirmam que, se atendidos, voltarão ao trabalho, pois não querem “seguir os maus costumes dos mais Engenhos”. Colocando-se a favor da ordem, justificam suas demandas como necessárias para que a própria ordem seja restaurada.
"paz"
"guerra"
"faça eleição"
"nossa aprovação"
"prontos para servirmos como adantes"
"maus costumes dos mais engenhos"
Rebelião no Engenho de Santana
Arquivo Público do Estado da Bahia. Seção Histórica. Cartas ao Governo, 207.
REIS, J. J. e SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito – a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989, p. 123-124.
SCHWARTZ, Stuart B. Resistance and accommodation in eighteenth-century Brazil: the slaves’ view of slavery. Hispanic American Historical Review, v. 57, n. 1, p. 69-81, 1977.
Sem Nome, "TRATADO PROPOSTO AO SENHOR DE ENGENHO PELOS ESCRAVOS REBELADOS". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/tratado-proposto-a-manuel-da-silva-ferreira-pelos-seus-escravos-durante-o-tempo-em-que-conservaram-levantados/. Publicado em: 04 de maio de 2022.