Revoltas

Rebelião no Engenho de Santana

Capitania de Ilhéus (1534 – 1761)Ilhéus

Início / fim

1789 / 1793

Data aproximada
Foto da Capela de Nossa Senhora de Santana, também conhecida como Capela do Rio do Engenho de Santana ou Capela do Engenho Sant'Ana. O templo templo católico romano do século XVII localizado no município de Ilhéus, na Bahia, é um importante ponto turístico do local

Um grupo de escravizados no sul da Bahia, mais precisamente do engenho de Santana, matou o feitor, apoderou-se de alguns meios de produção e fugiu para a floresta onde criou mocambos. A rebelião datada no ano de 1789, se repetiu por mais duas vezes no local, em 1821 e 1828, e se torna ainda mais excepcional quando, após inúmeras tentativas de expedições militares para reprimi-la, os rebeldes elaboram um “tratado de paz” para negociar cláusulas com as condições para seu retorno ao Engenho e ao cárcere.

Localizado em Ilhéus, afastado dos centros de poder e política, o latifúndio do Engenho de Santana foi criado no século XVI. Não se tem muitas notícias dele – além dos ataques indígenas – até o início do século XVII, quando os jesuítas o adquirem por herança e assim o mantém até a expulsão orquestrada por Marquês de Pombal em 1759. Com o fim da administração jesuítica pelo confisco do governo, a unidade passaria a pertencer ao particular Manoel da Silva Ferreira em 1770 e a ampliação operacional seria evidente, chegando a ter 300 escravizados e um nível de meia tonelada de açúcar produzido anualmente por cada trabalhador escravizado.

A grandiosidade do engenho de Santana viria, sem dúvida, acompanhada por tensões e dificuldades. Para estancar os motins e garantir a elevação da produtividade uma série de estratégias foram adotadas pelos senhores como forma de articular a mão de obra em prol do lucro. São exemplos disso a política de uniões conjugais entre os cativos, a composição do plantel por uma maioria absoluta de escravizados nascidos no Brasil, o equilíbrio na proporção entre homens e mulheres. Além disso, com a chamada “brecha camponesa” propiciava-se a concessão de pequenos lotes de terra voltados para a subsistência dos escravizados ou mesmo alimentação do mercado interno.

Apesar de todas as tentativas de atenuar as latentes contradições, os crioulos (negros nascidos no Brasil) de Santana se articularam – não em nome da solidariedade étnica africana, como era comum em toda a Bahia, mas sim por objetivos e insatisfações referentes ao regime de trabalho específicos – e cessaram as atividades.

A rebelião geraria desdobramentos originais. Sob a liderança do cabra Gregório Luís os rebeldes apresentaram ao senhor uma lista com 19 artigos em que deixavam claros seus objetivos e interesses. Dentre as exigências predominaram as que se atrelavam diretamente ao regime de trabalho, como redução das cotas femininas de cultivo da mandioca, redução de 30% da cota diária dos cortadores de cana e número mínimo de escravizados escalados para determinadas tarefas e atividades. Também foram reclamados o direito de escolher os feitores, mais transportes para vender seus produtos – reduzindo os custos de fretagem – e controle dos equipamentos do engenho, por exemplo.

Tamanho engajamento e articulação dos negros representava uma ameaça inaceitável por parte do proprietário que, de forma dissimulada fingiu acatar as cláusulas negociadas e aceitar a nova forma reduzida de escravidão. Na primeira oportunidade o proprietário tratou de reprimir o movimento. Os envolvidos que não fugiram para as matas e quilombos tão presentes nos sertões da Bahia, foram encarcerados ou vendidos para o Maranhão. A busca por autonomia dentro do regime escravista foi desmantelada.

Antecedentes

Fuga de escravizados das fazendas da região.

Conjuntura e contexto

Tráfico transatlântico de escravos e crescente produção agrícola

Números da Revolta

Aproximadamente 3 anos de duração
300 participantes
16 condenados

Grupos sociais

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Formação de comunidade independente
  • Negociações e acordos de paz
  • Reunião com autoridades para negociar

Ações de protesto violentas

  • Execuções
  • Queima de plantações

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Expedição armada ou repressão militar
  • Negociações e acordos de paz
  • Prisões
  • Promessa de atendimento das demandas rebeldes

Punição

  • Escravização e reescravização
  • Venda para fora da região

Instâncias Administrativas

  • Ouvidor-Geral do Crime
  • Tribunal da Relação BA

Bibliografia Básica

REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SCHWARTZ, Stuart. Trabalho e cultura: vida nos engenhos e vida dos escravos. In: ___Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru:SP, 2001, p. 89-122 (ver especialmente item Os escravos de Santana, p. 107-121).

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