AHU, Rio Grande, caixa 1, 40.
Sertão do Nordeste, guerra com índios tapuias airús pequenos. O rei desses índios apresenta-se ao capitão-mor da capitania para retificar a paz.
“(...) vinha em sua própria pessoa ajustar a paz por estarem todas as nações mais vizinhas e que residem no distrito desta Capitania na mesma e nossa amizade, o que disse que em nenhum tempo por si nem por outrem dos seus haveria mais guerra com brancos e se obrigava a fazê-la a todos os aqueles que não quisessem admitir nossa amizade, e prometia ser fiel vassalo do mui justo, invicto e poderoso Senhor Rei de Portugal, nosso senhor, a quem prometia servir e obedecer e aos seus governadores e Capitães-mores com pronta obediência como deve e é obrigado. E da sua parte pedia perdão da desobediência e seus erros passados”
“E com isso o dito Capitão-mor lhe deu perdão dos seus erros passados e lhes assegurou a paz que pediam em nome do Governador e Capitão-general desse Estado, Dom João de Lencastro, conforme sua ordem que para isto tinha. Porém, com as condições...”
“Que se alguma outra nação se rebelar ou desobedecer, irão com os brancos a fazer-lhes guerra até os reduzirem à nossa obediência”
“Que, porquanto entre nós vivem alguma gente de sua nação, machos e fêmeas, já domésticos, catequizados e batizados, que não pretenderão levar consigo para o sertão por não ser justo que sendo batizados e filhos da Igreja tornem ao barbarismo de que saíram maiormente porque estão todos satisfeitos e contentes na companhia dos brancos”
“E porque na sua rudeza pode haver alguma incapacidade de aceitarem estas condições lhes disse o dito Capitão-mor que nomeassem um branco seu amigo e confidente para em seu nome aceitar as ditas condições e prometerem a observância delas”
São cinco pontos do tratado. É forte no texto a ideia de retorno à condição de vassalo – e, portanto, as idéias de desobediência e de perdão. O ideal cristão/cristianizante também se destaca no acordado, que coloca bem marcado a dicotomia “bárbaro” x “cristão”, “doméstico”, valorizando o segundo. Repete-se no texto muito do texto presente na “Ratificação da paz feita com os tapuias janduís da Ribeira do Açu”. Considerando tratar-se da mesma capitania, do mesmo Capitão-mor. Percebe-se que se aproveitou em grande parte o texto do tratado, na parte introdutória – com poucas alterações – e nos cinco pontos – idênticos. O texto final é menor, com menos enfoque na cristianização, mas com maior peso à condição de “bárbaros” – principalmente na parte final, em que se afirma, devido à “rudeza”, incapacidade para aceitar as condições, tendo sido necessário eleger um branco como representante para, em seu nome, acatá-las. Outra diferença está em o Capitão-mor perdoar os erros passados [da desobediência], em nome do Governador e Capitão-geral desse Estado , Dom João de Lencastro, desde que aceitas as condições que foram apresentadas.
“ajustar a paz”
“guerra”
“brancos”
“fiel vassalo”
“servir e obedecer”
“pronta obediência”
“deve e é obrigado”
“perdão”
“desobediência”
“nação”
“se rebelar”
“reduzirem à obediência”
“domésticos”
“catequizados”
“batizados”
“filhos da Igreja”
“barbarismo”
“rudeza”
Desconhecida
AHU, Rio Grande, caixa 1, 40.
PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: HUCITEC/Edusp, 2002, p. 303-304.
Sem Nome, "TRATADO DE PAZ COM OS TAPUIAS". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/tratado-de-paz-com-os-tapuias/. Publicado em: 31 de maio de 2022.