Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Os soldados do Corpo dos Dragões rebelados, reagindo à falta de infraestrutura, aos castigos corporais, ausência de auxílios alimentícios e atraso do pagamento dos soldos, escrevem uma representação ao governador Diogo Osório Cardoso, expondo os fatores de descontentamento e suas reivindicações.
"Senhor Coronel Governador. Representam a V. Sa., com o mais profundo respeito, os soldados dragões do seu Regimento e guarnição deste estabelecimento, todos em um corpo, não o ser o seu ânimo usurpar, nem perturbar a jurisdição real, nem fazer sublevações contra a fé pública e serviço de S.M. e suas reais ordens, que veneram e protestam guardar, como obedientes e leais vassalos, para a defesa da sua Coroa e Estado"
“(...) sofrendo não só a falta de socorro e fardas, mas por muitas vezes a de pão e de munição e outros inconvenientes”
“Vendo-se despidos e em sua miséria com a falta de pagamentos e fardas, impossibilitados para poderem continuar serviço, fizeram requerimento se lhe mandasse pagar as fardas que se lhe deviam”
“(...) faltando à assistência e caridade dos doentes, por cuja causa notoriamente padecem misérias excessivas”
"E dando-se mais crédito às mentiras de um negro, que à verdade de um soldado, foram presos e castigados"
“Escandalizados também de serem maltratados com palavras injuriosas, acutilados”
“(...) este Corpo pôs em execução deitar de si o jugo com que se achava”
“Vendo-se ultrajados, sem desafogo algum, passando a excessivas misérias em que os tem posto a falta de vinte meses de soldos e três anos de fardas, desenganados de que por outro caminho não eram atendidos, tomaram a resolução de se separarem em um Corpo da Obediência desde Governo e seus oficiais, elegendo entre si outros, e um comandante...”
Ao longo do documento, são expostas razões para o sofrimento – falta de condições ideais, violência – e são feitas exigências. Nota-se tentativa de distanciamento da imagem de “rebeldes”, não na justificativa às atitudes, mas afirmando-se, desde o início do documento, como obedientes e leais vassalos, que querem ordem/equilíbrio.
“sublevações contra a fé pública”
“usurpar”
“perturbar a jurisdição real”
“obedientes e leais vassalos”
“defesa da sua Coroa e Estado”
“falta de socorro”
“rigorosos castigos”
“deitar de si o jugo”
“assistência e caridade”
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
QUEIROZ, Maria Luiza Bertulini. A vila do Rio Grande de São Pedro. 1737-1822. Rio Grande: FURG, 1987, p. 169-171. Retirada de Anais da História do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1977, p. 152-6.
Publicações do Arquivo Público Nacional, vol VII, p. 185-188. Cesar, Guilhermino. História do Rio Grande do Sul. Período colonial. Porto Alegre, Ed Globo, 1970 (Coleção provincia), p. 120-123.
Há diferenças nas transcrições deste documento entre a versão publicada nas Publicações do Arquivo Nacional e a que aparece nos Anais da História do Rio Grande do Sul (1977). O despacho do Comandante em atendimento à Representação encontra-se publicado em Publicações do Arquivo Público Nacional e Cesar, Guilhermino. História do Rio Grande do Sul.
Soldados Dragões do Regimento, Array, , "REPRESENTAÇÃO DOS SOLDADOS DRAGÕES". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/representacao-do-corpo-de-dragoes/. Publicado em: 16 de maio de 2022.