Resumo
Os soldados do Terço de Salvador se encontravam insatisfeitos com o regime de patrulhas em determinadas áreas da cidade e a forma despótica como o Ouvidor Geral do Crime André Lobato Lobo os tratava. Como resposta, se levantaram em revolta, contestando assim o poder político colonial e colocando a segurança da cidade de Salvador em risco. Ao fim da revolta, após ter concedido o perdão e depois o revogado, ambas as vezes sem autorização régia, o Vice-Rei Vasco Fernandes César de Menezes precisou prestar explicações à Sua Majestade.
Trechos em destaque
“(…) disse logo o dito Mestre-de-Campo João de Araújo que eu devia conceder aos soldados tudo quanto pediam, porque no dia seguinte certamente pretenderiam muito mais, ao que respondi o que merecia aquela indiscreta persuasão, despedindo-o (…)”
“(…) soldados do Têrço Novo foram (…) surpreendidos pelos do Têrço Velho e levados para o seu campo, (…) com (…) a violência de tirarem muitos dos seus quartéis, ferindo alguns e matando outros, (…) envolveram naquele abominável delito, os que se achavam fiéis e inocentes (…)”
“dando vozes que morresse o Ouvidor do Crime e todas as justiças e vivesse o seu Mestre-de-Campo.”
“E como aquêle Corpo de achava rebelde (…), é certo que (…) romperiam no desatino de violarem casas, obrigando (…) os paisanos a que os acompanhassem (…)”
“(…) e de toda essa desordem se aproveitariam os muitos escravos que há nesta cidade, ficando ela, por êste e mais motivos, na última consternação”
“incorrendo o Mestre-de-Campo em uma formal desobediência, porque não executou prontamente a minha ordem, autorizada com o serviço de respeito de VM”
“feito o sumário a vinte e três réus (…) se sentenciaram (…) dez à morte; e os mais (…) com o degredo de Benguela por toda a vida (…) e alguns (…) para Angola e dois para o Presídio do Morro.”
“[A] Antônio Pereira (…) se lhe armou uma fôrca, dividindo-lhe o corpo em quartos, separando-se-lhe a cabeça (…) com um (…), e os três se puseram [em] lugares em que tinham surpreendido as guarnições.”
“(…) é tão escandaloso, e nunca até agora visto êste sucesso, que parece se deve cuidar em maior demonstração (…)”.
Artifícios da Narrativa
O Vice-Rei Vasco Fernandes César de Meneses relata, neste documento, como reprimiu a revolta dos soldados dos Terços de Salvador . Em sua narrativa, enfatiza a violência por parte dos rebeldes e a necessidade de puni-los exemplarmente, mesmo após concedido o perdão. Dá detalhes de como planejou atacá-los de surpresa e aborda também a desobediência do mestre-de-campo João de Araújo e Azevedo, suspeito de apoiar os rebeldes.
Tópicos de discurso
“castigo que merecia a sua insolência”
“corressem as ruas com baraço e pregão”
“Viva El-Rey”;
“feitos-crimes”
“empreenderem aquela insolência”
“sendo eu sempre Pai dos Soldados”
“indiscreta persuasão”
“terçou a arma”
”cabeça do tumulto”
“sublevações dos povos”
“cartas dessa Côrte”
“inquietação e desassossego”
"abominável delito"
“tão escandalosa culpa”
“morreriam de morte natural”.