BNAj 51 V42, fl 13- 13v.
Fim do levante de negros no Camamu e de paulistas em Porto Seguro.
"(...) não basta fazer um governo tudo quanto pode para que se remedeiem os danos que arruinam com maior principio a América porque não está na sua mão o remédio de que necessita que é falta da moeda toda que vai para esse Reino e os contratos não há quem dê nada por eles"
"(...) as monarquias si não sustentam sem cabedais faltando estes, perece tudo, e não há com que se fazer os pagamentos aos filhos da folha, e essa é a razão porque os contratadores se não animam de lançar nos contratos por não terem dinheiro para se pagarem os quartéis"
“No Camamú se levantaram uns mulatos e convocaram assim grande quantidade de negros, querendo se fazer senhores daquela vila. Com todo o cuidado lhe acudi e me obrigou mandar-lhe uma batalha que eles esperam ao som de caixas. Foi Deus servido (que ainda que houvesse mortes de parte a parte) foram vencidos e cativos quase todos. Os cabeças mandados justiçar por esta Relação, e si com este sucesso não acontecera a vitoria que tivemos, ficaria esta cidade com muita fome por falta de farinhas que vêm daquelas partes, e nenhum morador tivera o seu negro seguro.”
"Não foi menos o sucesso na Capitania de Porto Seguro, por haver dous anos (quando cheguei a este Estado) que se havia amotinado uma quantidade de Paulistas com aquela vila, de maneira que levantavam forças e davam leis sem conhecerem Rei, nem Justiça, matando a quem lhes parecia, confiscando-lhes as fazendas para si e fazendo os mais enormes delitos que podiam ser, e o Capitão-mor entrincheirado em sua casa sem poder obrar cousa alguma com o temor da morte. Tendo eu noticia deste negocio (...) propus em Relação com todo o segredo e se assentou que se devia acudir mandando um ministro dela com infanteria a devassar dos delinquentes e prende-los (...) não escapou nenhum que não prendesse que lhes não valeu a espessura dos matos, e pareceu cousa milagrosa este sucesso (...)”
“(...) creia V.M. que se restaurou aquella Capitania como si de novo a conquistassem aos inimigos.”
Em ambos os casos, o Governador pinta quadros de desordem: em Camamú, mulatos e negros quisera fazer-se senhores da Vila, gerando receios contra suas violências e, inclusive, ameaçando grande fome na região [o que ocorreria, caso faltasse a farinha, dali originada]. Importante indicar o trecho “nenhum morador tivera seu negro seguro”. Em Porto seguro os “Paulistas” [importante destacar a caracterização como tal] não conheciam “nem Rei, nem Justiça”. O medo era tamanho, que o Capitão não podia sair de casa. Após retratar ambos cenários de desordem e medo, o Governador indica que tomou providências, que obteve sucesso [considerado milagre], solucionando o problema, restaurando a ordem e punindo os responsáveis. Escreve para André, para que este indique sua versão para o Conselho. Interessante, também, a ideia apontada de que, na fuga “não lhes valeu a espessura dos matos”, mostra de que a resposta e a repressão foram maiores que a organização dos revoltosos – e que seu uso das condições locais.
"remédio"
"danos"
"cabedais"
"perece"
"justiçar"
"sucesso"
"vitoria"
"cuidado"
"acudi"
"vencidos"
"cabeças"
"sossego"
"seguro"
"restaurada"
"amotinado"
"temor da morte"
"prendê-los"
"devassar"
"delinquentes"
"inimigos"
"arruínam"
"monarquia"
"o som de caxias"
"dava leis"
"sem conhecerem rei"
"nem justiça"
BNAj 51 V42, fl 13- 13v.
RIHGB, T. LXXI, parte I. (1909), p. 64.
Antônio Luis Gonçalvez da Camara Coutinho, , , "CARTA DO GOVERNADOR A ANDRÉ LOPES". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/carta-do-governador-a-andre-lopes/. Publicado em: 31 de maio de 2022.