Arquivo Público do Estado da Bahia. Seção histórica, Cartas ao Governo, 207.
Relato sobre os atos do líder da revolta, Gregório Luís. No final do século XVIII, Gregório liderou o assassinato do mestre do açúcar do engenho de Santana, localizado em Ilhéus, e fugiu com um grupo de rebeldes para formar um quilombo nas matas. Redigido em 1806, descreve como o líder influenciou outros escravizados a desobedecerem seu senhor, e como um enorme prejuízo ao engenho foi causado em decorrência dos atos de rebelião. O maior e mais antigo dos engenhos de Ilhéus ficou dois anos sem produzir, porque o grupo de rebeldes, ficou escondido nas matas durante um longo período contendo boa parte das ferramentas de trabalho. No relato consta que os rebeldes aquilombados, enviam um “acordo” escrito ao seu senhor através de emissários. O senhor lê o acordo e finge aceitar, por isso alguns escravos acabam voltando da fuga. A carta também descreve como foi feita a emboscada para a prisão de Gregório e do restante do grupo, fazendo com que o líder fosse preso, enquanto os outros 15 escravizados capturados com ele fossem enviados a um negociante para serem vendidos no Maranhão. Do período em que foi preso, até a data do documento aqui apresentado, Gregório permaneceu em cárcere por aproximadamente 16 anos.
“(...) sem quererem jamais reconhecer subordinação a Seu Senhor, e que o principal Chefe deste desordem era o Supt°, o qual principando a suscitar entre elles o espírito de partido contra elle Seu Senhor, e contra o mestre de açucar, poude Conseguir com hums poucos da sua facção que o matarem, sem até agora se saber onde havião enterrado (...)”
“(…) e que alem destes estragos accrescia o perigo de q. o resto da escravatura seguisse o pessimo exemplo dos levantados.”
“(...) chegando a dita Villa forão ali prezos com algemas apezar da grande resistencia q fizerão quaze ao ponto de haver mt° Sangue.”
“dito Engenho, tem repetidas vezes recomendado com as maiores instancias pª que o Supt" não sabia da prizão senão pr Sentença que o extremine pª longe por que se o soltarem volta infalivelmt" ao Engº a suscitar novas desordens, que tal vez sejão irremediaveis.”
O autor do documento procura convencer o Governador que o líder da revolta não deveria ser solto, reforçando seu argumento com a menção de que o próprio senhor do escravizado, Manoel da Silva Ferreira, não gostaria da soltura de Gregório, já que ele poderia liderar outros levantes. O documento mostra que o revoltoso e suas ações representavam grande ameaça, com riscos que deveriam ser evitados a todo custo, e uma das razões disso era a possibilidade de dar um “mau exemplo” para outros escravizados que poderiam vir a se rebelar.
“homem cabra”
“exemplarmente castigado”
“bandos errantes e vagabundos”
"absolutos e destemidos”
Rebelião no Engenho de Santana
Arquivo Público do Estado da Bahia. Seção histórica, Cartas ao Governo, 207.
SCHWARTZ, Stuart B. Resistance and Accommodation in Eigtheenth-Century Brazil: The Slaves‘ view of Slavery. Hispanic American Historical Review. North Carolina: Duke University Press. V. 57, Nº1, p 79-80, feb. 1977.
Este documento foi publicado graças à colaboração de Caio Feitosa, aluno do curso de graduação em História da Universidade Federal Fluminense.