Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, V. 2. Brasília – Belo Horizonte: Câmara dos Deputados – Governo do Estado de Minas Gerais, 1982
Devassa – Inconfidência Mineira
“Desde o dia em que foi preso o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, espalhando-se o rumor de que era preso por uma espécie de levantamento com idéias de república (...) receou ele Respondente, ser preso a título de sócio consentidor ou aprovador de semelhantes idéias. E com efeito se encheu de grande terror e entrou a deprecar os santos, por muitas orações, para e ver livre deste ataque – de que o não puderam salvar os seus pecados”
“(...) amigo particular do dito Dr. Gonzaga, e que sempre estavam familiarmente um em casa do outro, comunicando-se com a lição de seus versos e do mais que ocorria. E como o dito Des. Gonzaga tinha alguns inimigos bastante poderosos – e estes também o eram dele, Respondente, por conseqüência da amizade – era infalivelmente certo tentaram para logo compreendê-lo por sócio aprovador ou consentidor daquele atentado”
“(...) por efeito da prisão (...) se fez logo público que se meditava entre eles alguma espécie de sublevação contra o estado, sem embargo que nada se manifestava por algum sinal exterior ou preparativo; e somente por rumor que já havia excitado um alferes, por alcunha o Tiradentes, andando por casa de várias pessoas a falar-lhes nesta matéria”
“(...) em casa do Dr. Gonzaga, ouviu por várias vezes conversar sobre a dita matéria (...) mas ele, Respondente foi sempre de contrário parecer a sua formação”
“(...) suscitou essa espécie com a lembrança da Inglaterra (...) faria a pólvora, e que a primeira coisa era tomar-se a caixa real – bem que isto era hipoteticamente, e não em ato deliberativo e ação”
“(...) presume ele, Respondente se foram reforçando as tentativas entre (...) Gonzaga, Alvarenga e Vigário Carlos – que ele, Respondente, presume serem os que puseram algum interesse na esperança desta ação, que jamais teria efeito por faltarem todos os meios de se verificar”
“‘(...) não fosse leso, porque isto não tinha pés nem cabeça’. E tão longe estava de que aquelas conversações produzissem efeito que, quando se rompeu que S. Exa. se tinha munido por medo de algum levantamento, disse ele, Respondente, que nada se podia Golpista, porque as musas não eram capazes de o terem no estado em que se achava”
“Algumas vezes, em casa dele, Gonzaga, lhe dava o seu mulato recado de que o mesmo Alferes o procurava. E este dizia que o mandasse embora, que lhe não queria falar; que era homem que lhe aborrecia; e que um homem daqueles podia fazer muito mal à gente pelo seu fanatismo. No que conveio ele, Respondente, dizendo-lhe que daquela natureza eram os Ravaillac, os Jacques, e os Damiens”
“O que tudo parecia a ele Respondente, fábula e ridicularia por aquele tempo. E jamais receou que merecesse maior conceito”
“(...) parecendo-lhe tudo aquilo uma comédia. Mas a sua desgraça lhe faz hoje delito das cousas mais insignificantes”
“Não havia dúvida dizer o Coronel Alvarenga, em certa ocasião, que se poria uma letra que dissesse: Libertas quae sera tamen”
“(...) tom ridículo e de mofa que deu a todas estas cousas, pois jamais pensou que elas houvessem de sair à luz e produzir tão escandalosos efeitos. Do que ele, infeliz, vem a padecer a maior parte, com injúria de sua inocente família e de seus irmãos (...) Mas conhece bem, por benefício de Deus, que a sua libertinagem e os seus maus costumes, a sua perversa maledicência, o conduzem finalmente a este evidentíssimo castigo da justiça divina”
“Pelo que lhe pede perdão de tanto escândalo. E lhe roga que, sendo ele mau, como confessa, nem por isso reputa virtude nos denunciantes esses ditos. E que talvez sejam mais temíveis estes que os mesmos denunciados”
Saber a verdade acerca de sua participação/seu papel e da participação de demais no motim
"levantamentos"
"ideias de republica"
"deprecar os santos"
“se ver livre deste ataque”
“atentado”
"sublevação contra o Estado"
"rumor"
"castigo"
"justiça divina"
Desconhecida
Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, V. 2. Brasília – Belo Horizonte: Câmara dos Deputados – Governo do Estado de Minas Gerais, 1982