Biblioteca Municipal do Porto (Portugal). Códice nº 146
A ampliação da pressão fiscal por parte de Portugal combinada com a crise da mineração de ouro, favorecem as insatisfações das elites e camadas médias da capitania de Minas Gerais que tomam a forma de uma conspiração anticolonial
“(...) Passados alguns dias entrou a correr uma notícia surrateira; a de que havia entre eles ajuste de um levantamento nestas Minas para serem despostos o governo e o general que as governa (ao qual haviam de matar, acrescentavam alguns) ; diversos ministros seriam corridos da capitania, devendo ficar governada como república pelos cabeças desta maldita idéia, que tudo fariam e disporiam à sua eleição, tanto no eclesiástico como no secular.(...)”
“(…) Preso Joaquim Silvério dos Reis, sujeito que não é do tempo de V. Mercê (...) Dizem alguns que foi o inventor de toda esta máquina e que meteu aos mais nesta tragédia e depois foi denunciar ao General desta capitania o Exmo. Vice-Rei dizendo que lhe descobria um negócio de grande importância e muita utilidade de Sua Majestade pelo qual lhe requeria prêmio ou perdão do que devia do contrato que trazia (...) A denúncia foi aceita e logo que a deu foi preso na fortaleza da Ilha das Cobras (...)”
“(...) Foi preso Luiz Vieira, cônego na cidade de Mariana. Dizem que a sua culpa se limita a terem-lhe achado o livrinho francês, relativo ao levante desta terra, no qual se diz que podiam os habitadores viver sobre si, sem dependência do comércio para o nosso Reino, à imitação de que fizeram os americanos aos ingleses.(...)”
Cercado de espanto um morador anônimo revela a surpresa inicial diante da prisão, a princípio inexplicável, de algumas figuras notáveis da capitania, narra a organização do aparato investigativo e de repressão. Logo a dúvida é substituída pelos notícias de que as prisões se relacionavam a um inquérito sobre uma conspiração. Os diversos planos e ideias dos rebeldes, inflados por força dos boatos, são mencionados, considerados como uma barbaridade ou “erros gravíssimos” pelo autor. Indica as condições em que foram presos vários dos suspeitos de inconfidência nas comarcas de Vila Rica, do Rio das Mortes e no Rio de Janeiro. O julgamento do autor é francamente negativo a respeito dos supostos planos de rebelião, elaborados por “loucos Golpistaários”, e defende explicitamente o governador Luís Antônio Furtado de Mendonça, Visconde de Barbacena.
“pessoas de caráter e graduação”
“viva a liberdade”
“levantamento”
“república”
“filhos de Portugal”
“bárbara lei”
“revolucionários”
“pasquins”
“loucos e temerários”
“fumaças de paulistas”
“cabeças da sublevação”
Biblioteca Municipal do Porto (Portugal). Códice nº 146
Boatos sobre os inconfidentes Mineiros (1790). In: Taunay, Afonso de E. Assuntos De Tres Seculos Coloniais (1598-1790). Sao Paulo: Impr. Oficial do Estado, 1944, p 147-154. Também publicado nos Autos da Devasssa da Inconfidência Mineira (Tarquínio J. B. de Oliveira Herculano Gomes Mathias), v.9, p. 34-43.
Morador anônimo da comarca do Rio das Mortes, , , "BOATOS SOBRE OS INCONFIDENTES MINEIROS". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/boatos-sobre-os-inconfidentes-mineiros/. Publicado em: 31 de maio de 2022.