Revoltas

Revolta tupinambá contra franceses

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Ilha de Serigipe

Início / fim

08 de março de 1556 / 09 de março de 1556

Em março de 1556, no interior da Baía de Guanabara, tupinambás orquestraram uma revolta contra franceses, que estavam nesta região a fim de estabelecer uma colônia, a França Antártica. Nela, pretendiam garantir a exploração de pau-brasil e conseguir um espaço para os protestantes franceses exercerem livremente sua fé. Mesmo tendo relações amistosas com esses colonos, os nativos os consideravam culpados de terem trazido propositalmente uma epidemia que vinha dizimando centenas de indígenas. Quem atribuiu culpa aos franceses foram alguns  de seus próprios compatriotas, que se afastaram da colônia após se revoltarem contra a rígida disciplina imposta pelo seu comandante, Nicolau Durand Villegagnon. Revoltados, os nativos planejaram um ataque contra os franceses que não se concretizou devido às advertências dos próprios colonos refratários, afirmando que eles se encontravam bem protegidos em um poderoso forte, batizado de Coligny.

Alguns meses antes, em 12 de julho de 1555, mais de seiscentas pessoas partiram do porto de Havre, França, em três embarcações com destino à Baía de Guanabara com a missão de constituir uma colônia francesa nesta região. A expedição, liderada pelo vice-almirante da França Nicolau Durand Villegagnon, foi bem recebida pelos tupinambás e se estabeleceu na ilha que os indígenas chamavam de Serigipe, que significa “ilha da água dos siris” em tupinambá. Nessa ilha (que atualmente carrega o nome de Villegagnon), o comandante francês ordenou a construção de um forte a fim de protegê-los contra ataques de portugueses ou de tribos indígenas rivais.

A rotina de trabalho imposta por Villegagnon gerou rápidos descontentamentos entre os franceses. Além de exigir que trabalhassem compulsoriamente, reduziu as rações de aguardente e de biscoito sob o pretexto de acostumá-los à privações. A indignação aumentou quando o comandante proibiu os colonos de estabelecerem relações com as índias tupinambás, a menos que estivessem sob os laços matrimoniais. Os franceses reagiram em 4 de fevereiro de 1556, buscando assassinar o comandante da colônia, intento que fracassou por causa da descoberta prévia por parte da guarda pessoal de Villegagnon, que lhe informou sobre a conspiração. Ele, por sua vez, prendeu quatro conjurados, enforcando um de imediato. O líder deste movimento, provavelmente chamado Gosset, conseguiu escapar juntamente com outros vinte cinco rebeldes e intérpretes, os quais se exilaram entre os tupinambás.

Os nativos, por sua vez, desde a chegada da expedição, vinham sendo assolados por uma grave epidemia. O piloto de Villegagnon, Nicolás Barré, relatou que 800 deles foram mortos por essa peste, inclusive o famoso cacique tupinambá chamado Cunhambebe. Nos meses seguintes, por conta da doença, já não havia mais tantos indígenas auxiliando os franceses no empreendimento colonial, cortando pau-brasil e transportando-o para os navios. Com a retirada dos colonos rebeldes e a peste que vinha assolando os indígenas, os trabalhadores do forte Coligny rapidamente encontram-se sobrecarregados de trabalho e sem mantimentos.

Os franceses refratários, ressentidos com Villegagnon, buscaram convencer os nativos de que ele era o culpado pela disseminação da epidemia, que havia trazido de forma proposital para a região da Guanabara. Além de prejudicar sua imagem, esses colonos buscavam prevenir seus aliados tupinambás de estabelecerem maiores relações com ele, já que por experiência própria, eles sabiam que a disciplina imposta por Villegagnon era rígida e autoritária.

Os enfurecidos nativos reagiram planejando um ataque na Ilha de Serigipe, mas foram advertidos pelos intérpretes de que dificilmente conseguiriam penetrar no forte Coligny, pois era fortemente armado com canhões e armas de fogo. Dessa forma, desistiram do ataque e permaneceram em lamento pelas centenas de mortos. Apesar de não ter sido concluído, esse evento prejudicou a relação franco-tupinambá, que até aquele momento vinha sendo amistosa.

Somente alguns meses depois, passada a epidemia e depois de muitos presentes serem concedidos, os franceses conseguiram retomar, gradativamente, sua associação com os nativos.

Antecedentes

Deserção de colonos franceses diante da disciplina imposta pelo comandante Nicolas Durand Villegagnon. Epidemia que matou cerca de 800 nativos.

 

Conjuntura e contexto

Estabelecimento de uma colônia francesa na região da Guanabara. Empreendimento liderado por Nicolau Durand Villegagnon.

 

Números da Revolta

1 dia de duração
100 participantes

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Deserção

Ações de protesto violentas

  • Não informadas

Repressão

Contenção

  • Não Houve

Punição

  • Não Houve

Instâncias Administrativas

  • Não informado

Bibliografia Básica

DORIA, Pedro. 1565 – Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do país. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 56-59.

Holanda, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira. Vol 1. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, pg. 169.

SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro: Babilônia Cultural Editora, 2015, p. 360-367.

Fontes impressas

LISBOA, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo I. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1834, p. 55-56.

    Imprimir página

Compartilhe