Revoltas

Revolta indígena no aldeamento de Reritiba

Capitania do Espírito Santo (1534 – 1821)Aldeia de Reritiba

Início / fim

29 de setembro de 1742 / 1759

Data aproximada
"Aldeia de Tapuias", litogravura de Johann Moritz Rugendas (1835). A obra mostra um pouco do cotidiano de comunidades indígenas - Imagem disponível em: Enciclopédia Itaú Cultural.

Em 29 de setembro de 1742, dia de São Miguel Arcanjo, na aldeia de Reritiba – capitania do Espírito Santo, onde hoje é o município de Anchieta, que leva esse nome em homenagem ao famoso padre que ali viveu e pregou – uma briga entre um índio aldeado e um estudante do Colégio da Companhia de Jesus tomou proporções maiores do que os jesuítas poderiam ter imaginado. Após o estudante ter repreendido o índio por mau comportamento durante a celebração da missa, eles acabaram se agredindo. O que parecia ser um mero incidente acabou gerando enorme insatisfação nos indígenas membros da comunidade e acirrando os ânimos do grupo, sendo necessária uma substituição dos padres que dirigiam a povoação e afastamento do estudante para evitar maiores problemas.

A medida não foi suficiente para apaziguar a situação: os novos padres foram recebidos de forma hostil e o caso só foi remediado após a intervenção do arcediago da catedral do Rio de Janeiro, Antonio Siqueira de Quental. Ele obteve sucesso nas negociações com os índios, e os antigos padres voltaram ao aldeamento sob a condição de que os rebeldes não fossem castigados.

As desavenças entre os dois grupos, no entanto, tinham raízes profundas que dificultavam a convivência pacífica: os indígenas não se sentiam satisfeitos com a vida extremamente regrada dentro das missões, que envolvia trabalho compulsório e pouca liberdade. Deve ser também levada em conta a influência externa que estes sofriam, pois os colonos que viviam em volta da missão estavam declaradamente a favor da saída dos índios do local. Houve um episódio, após a chegada dos novos padres, em que os indígenas conseguiram do ouvidor-corregedor da capitania não só a nomeação de um deles, Manuel Lopes – um dos principais nomes à frente dos rebeldes – a capitão-mor de Reritiba, como a ordenação da retirada dos padres do local.

A ordem levou a um conflito sangrento quando índios chegaram armados no aldeamento para tirar os religiosos de lá. A situação gerou uma divisão interna dentro do grupo de indígenas entre os que ficariam ao lado dos colonizadores e aqueles que prefeririam abandonar a missão e viver separados. Os últimos fogem e conseguem fundar, já em torno de 1746, a comunidade independente Orobó.

Quem ali vivia adotava um catolicismo adaptado à vida que escolheram, com mais liberdade para inclusive manter relações com colonos que habitavam os arredores. Como dito anteriormente, os jesuítas não eram bem-vindos pela comunidade da capitania, que não tardou em agir assim que os índios conquistaram liberdade: começaram a recrutá-los para trabalhar em suas fazendas, expondo dessa forma um dos maiores motivos pelos quais apoiaram sua fuga das missões.

Não se sabe exatamente até quando Orobó se manteve de pé, apenas que a comunidade serviu de exemplo para a população indígena vizinha, como a das aldeias de Reis Magos, no Espírito Santo, e São Pedro de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, que enxergava ali uma esperança de liberdade, representando uma ameaça aos olhos das autoridades. O local chegou até a ser comparado pelo então Vice-Rei Conde das Galvêas (1735-1749) com o Quilombo dos Palmares, havendo desconfiança de que os índios teriam chegado a receber escravos fugidos na nova comunidade.

A falta de documentação acerca do destino de Orobó ou a falta de menção à comunidade nos documentos não quer dizer que ela necessariamente tenha desaparecido. Isso pode significar que, com o passar dos anos, a relação dos indígenas com a sociedade local tenha sido amenizada e os conflitos tenham diminuído ou até cessado. Podemos relacionar essa hipótese ao clima mais tranquilo decorrente da expulsão dos jesuítas em 1759 e à política indigenista de Marquês de Pombal, medidas que talvez tenham influenciado positivamente nos conflitos que envolviam a comunidade Orobó.

Antecedentes

O episódio é um reflexo da revolta indígena ocorrida no aldeamento de Reritiba entre 1742 e 1746 contra o regime de tutela jesuítico e criação da comunidade rebelde de Orobó, a qual reuniu aldeados de Reritiba que repudiavam a administração da Companhia de Jesus.

Conjuntura e contexto

A insurgência se insere no contexto das Reformas Pombalinas, as quais se chocaram diretamente com a atuação da Companhia de Jesus no âmbito do império português e que resultariam na expulsão da ordem dos domínios coloniais.

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Formação de comunidade independente

Ações de protesto violentas

  • Expulsão dos jesuítas

Repressão

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 2003.

CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Insurgentes Brasílicos: uma comunidade indígena rebelde no Espírito Santo colonial. Jundiaí: Paco Editorial, 2021.

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