VELLOSO, Gustavo. Ociosos e sedicionários: populações indígenas e os tempos do trabalho nos Campos de Piratininga (século XVII). Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, Departamento de História, 2016, p. 207-210.
1652 / 1652
Data aproximadaNo ano de 1652, na fazenda de São Roque em São Paulo, cerca de 600 indígenas escravizados se revoltaram contra seu senhor, Antônio Pedroso de Barros. Durante a revolta, os nativos assassinaram Pedroso de Barros, além de outros brancos presentes na propriedade, mataram todos os animais e atearam fogo nas plantações. Essa foi uma das primeiras revoltas desse porte em São Paulo e causou temor entre os proprietários de terra e escravizados.
Antônio Pedroso de Barros era um dos maiores proprietários de terra e de indígenas entre os paulistas de sua época. Ele contava, em sua fazenda – atualmente o Sítio Santo Antônio, em São Roque- com cerca de 500 a 600 indígenas escravizados, grandes plantações de trigo e algodão e outras propriedades. Seus índios eram divididos entre Carijó e Guaianá, recém capturados do sertão.
Em 1652, após as colheitas de abril e maio, esses indígenas se revoltaram contra o Pedroso de Barros e o assassinaram, assim como outros brancos presentes na propriedade, destruindo sua casa, roubando alguns bens, ateando fogo nas plantações e também matando todos os animais. Dos revoltosos, alguns foram mortos, outros fugiram para o sertão ou se esconderam em propriedades vizinhas. Ao final da revolta, 323 indígenas, entre os que permaneceram na propriedade e os que foram capturados, restavam aos herdeiros de Antônio Pedroso de Barros.
Não se sabe ao certo a motivação da revolta, porém é provável que ela se deveu a um conjunto de fatores. Primeiro, a diversidade étnica dos indígenas que estavam misturados na propriedade fazia emergir conflitos já existentes entre as etnias. Além disso, a convivência entre os índios já batizados e inseridos na dinâmica local, como os Guarani, e os recém chegados do sertão, ainda não batizados e convertidos, suscitaram choques entre os dois grupos. Isso já criava um clima de tensão na propriedade. Em terceiro lugar, a pressão exercida sobre os escravizados, sobretudo os Guarani que já estavam adaptados à dinâmica de trabalho, para a colheita daquele ano, num ritmo e carga horária de trabalho excessivo, combinados com açoites e punições. Acredita-se que os indígenas teriam usado esse levante como forma de demandar as condições de trabalho menos duras que possuíam anteriormente à colheita.
Esse levante foi um dos maiores ocorridos até então e deu início a uma onda de rebeliões indígenas na mesma lógica, que acabou gerando grande temor entre as elites paulistas.
A região em que ocorreu esse motim, embora distante geograficamente do centro da capitania do Rio de Janeiro, estava sob sua jurisdição, e assim permaneceu até o ano de 1709, segundo consta a Carta Régia de 23 de novembro do mesmo ano, que criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro.
(Giovanna Wermelinger, graduanda no curso de História da UFF e pesquisadora do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)
Mistura de etnias indígenas
Uso de mão-de-obra indígena escravizada em São Vicente
600 índios participantes.
VELLOSO, Gustavo. Ociosos e sedicionários: populações indígenas e os tempos do trabalho nos Campos de Piratininga (século XVII). Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, Departamento de História, 2016, p. 207-210.