Revoltas

Rebelião no aldeamento de São Barnabé

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Aldeamento de São Barnabé

Início / fim

1725 / 1733

Aldeia de caboclos em Cantagalo (Rio de Janeiro). Jean Baptiste Debret. Viagem pitoresca e Histórica pelo Brasil (1816-1831)

Criada com o intuito de abrigar parentes de indígenas do aldeamento de São Lourenço, São Barnabé foi uma das principais missões jesuíticas do Rio de Janeiro, constituída em 1578 com terras concedidas por Salvador Correia de Sá. Embora tenha sido assentada de início em terras do Colégio jesuítico, em Cabuçu, a aldeia foi transferida posteriormente para a região do rio Macacu, em terras que foram confirmadas como sesmaria pela Coroa portuguesa no ano de 1583 (atual distrito de Itambi no município de Itaboraí). Regida por missionários da Companhia de Jesus, o aldeamento reuniu diferentes etnias indígenas, como Temiminós, Moromomins e Goitacazes. Populosa, São Barnabé desempenhou papel importante na defesa da capitania e no fornecimento de trabalhadores, seja para as fazendas dos colonos, seja para serviços públicos.

No século XVIII, o aldeamento vivenciou uma grave contenda entre os anos de 1725 e 1732, período da administração do governador Luiz Vahia Monteiro. A origem do conflito teria se dado após Vahia Monteiro escolher um indígena de seu agrado como capitão-mor de São Barnabé. De acordo com o relato do padre Manuel Siqueira, após receber a patente, o aldeado “evocou a si todo governo da aldeia”, valendo-se da persuasão e de ameaças para alcançar tal intento. O capitão-mor, cujo nome é desconhecido, passou a pregar que os indígenas não deveriam se sujeitar mais aos missionários, apenas a ele, porque possuía reconhecimento do governador e do rei. A sua conduta reflete tanto as disputas quanto divergências entre os aldeados e os jesuítas no cotidiano das missões.

Localização do Aldeamento de São Barnabé. Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro (1767), de Manoel Vieira Leão.

A escolha do governador causou grande agitação. O capitão-mor passou a perseguir os indígenas que não concordaram com a novidade, suscitando deserções em São Barnabé. A situação tornou-se caótica e a autoridade dos jesuítas foi ignorada. Em abril de 1732, data em que o governador Luiz Vahia Monteiro foi afastado do cargo e substituído interinamente por Manuel de Freitas da Fonseca, o capitão-mor e seus partidários fugiram do aldeamento temendo serem castigados por suas ações. Incentivados pelo dito capitão, estes indígenas fugitivos se refugiaram na fazenda de um vizinho que tirava proveito do trabalho deles em sua propriedade. O conflito explodiu quando os indígenas abrigados nesta fazenda passaram a praticar assaltos à aldeia de São Barnabé. Para garantir a sua segurança, os jesuítas deixaram momentaneamente a missão.

A contenda só foi resolvida entre abril de 1732 e junho de 1733, quando o mestre de campo Mathias Coelho de Souza, a mando do governador interino do Rio de Janeiro, prendeu o capitão-mor e o remeteu à colônia de Sacramento. Apesar de aplacada, a revolta resultou em uma diminuição da população aldeada em função das fugas, sendo esta uma manifestação de resistência indígena ao regime de tutela jesuítico.

(Luís Rafael Araújo Corrêa, Professor efetivo do Colégio Pedro II e coordenador de História do campus Duque de Caxias. Autor de artigos e livros sobre História Indígena, como Feitiço Caboclo: um índio mandingueiro condenado pela Inquisição e Insurgentes Brasílicos: uma comunidade indígena rebelde no Espírito Santo colonial.)

Antecedentes

Consolidação da colonização na capitania do Rio de Janeiro, intensificando as interações entre os indígenas dos aldeamentos e a sociedade envolvente, o que favoreceu questionamentos dos aldeados ao regime de tutela jesuítico e interferências tanto de colonos quanto de autoridades no cotidiano das aldeias.

Conjuntura e contexto

A insurgência se insere no contexto de crise da Política de Aldeamentos na primeira metade do século XVIII, quando revoltas, fugas e deserções realizadas pelos indígenas aldeados em diferentes localidades repudiam o regime de tutela missionário.

Grupos sociais

Autoridades

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Fuga

Ações de protesto violentas

  • Expulsão dos jesuítas

Repressão

Contenção

  • Envio de autoridade

Punição

  • Degredo / Desterro

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Insurgentes Brasílicos: uma comunidade indígena rebelde no Espírito Santo colonial. Jundiaí: Paco Editorial, 202, pp.369-377.

Arquivos e fontes manuscritas

REQUERIMENTO do padre da Companhia de Jesus Manuel de Siqueira ao rei [D. João V] solicitando ordem para que em cada uma das capitanias do Estado do Brasil se faça junta de missões e se proponha a estas juntas os artigos do seu projeto de regimento para a administração dos índios. 1745. AHU, Bahia, cx.89, doc.10.

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