PARDO, Aristides Leo. Não foi nada fácil: A tardia colonização portuguesa e a resistência dos índios goytacazes na capitania de São Tomé. Sobre ontens. v.2012, p. 01 – 15, 2012.
12 de setembro de 1675 / 14 de setembro de 1675
Data aproximadaUm grupo de aproximadamente quarenta indígenas armados atacaram em setembro de 1675 o engenho de açúcar de José Barcellos, numa região descrita como “Campos dos Goitacases”, na Capitania de São Tomé (atual norte-fluminense). Na ação, os indígenas receberam o apoio de jesuítas e de André da Motta, preso que havia fugido da cadeia. Os currais foram destruídos e a fazenda tomada pelo grupo de nativos. O motivo para o ataque foi uma disputa pela posse dos currais da propriedade.
Durante o período colonial, os jesuítas implantaram diversos aldeamentos indígenas na América Portuguesa, empreendimentos que reuniam indígenas para serem catequizados e executar trabalhos na agricultura, criação ou extrativismo. A expansão da fé cristã e das propriedades da igreja eram algumas das razões da política de aldeamentos.
A aldeia Santo Antônio de Guarulhos foi fundada em 1672 na Capitania de São Tomé por capuchinhos italianos, ordem religiosa da família franciscana. Naquela região eram frequentes hostilidades, conflitos e resistências entre indígenas goytacazes e colonizadores portugueses. Além dos portugueses, os goytacazes também eram atacados por indígenas aldeados das regiões de Cabo Frio e Reritiba (atual município de Anchieta, sul do Espírito Santo). Com o tempo, os goytacazes acabaram sendo derrotados e enviados para a aldeia de São Pedro (atual município de São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro). Desse modo, os jesuítas e os indígenas guarulhos passaram a dominar a região da capitania de São Tomé. Ataques a fazendas no vale do rio Muriaé e a realização de incursões até Macaé eram práticas comuns dos guarulhos.
Nesse contexto, uma disputa pela posse de currais envolvendo os missionários da companhia de Jesus e José de Barcellos, proprietário de terras da região, motivou o ataque dos indígenas. Os religiosos teriam incitado os guarulhos da região a atacarem o engenho de Barcellos e para isso conseguiram o apoio de um certo André da Motta, descrito como um perigoso foragido da cadeia, condenado à morte por sentença do Tribunal da Relação da Bahia.
Em 12 de setembro de 1675, cerca de quarenta guarulhos armados e o fugitivo André Motta tomam a fazenda de José de Barcellos, destruindo e incendiando os currais, fonte da discórdia, e aterrorizam o feitor e os escravizados do engenho. Encurralados e temendo por suas vidas, Barcellos e seus escravizados, que aproveitaram a situação para fugir, deixaram a propriedade. Enquanto isso, os guarulhos, jesuítas e André da Motta se assenhoram da propriedade.
A capitania de São Tomé – também conhecida como Capitania da Paraíba do Sul – foi doada a Pero de Góis em 1534, com 30 léguas de litoral e estava localizada entre a Capitania do Rio de Janeiro e a do Espírito Santo. O donatário, em 1538, introduz plantações de açúcar e gado na região, mas enfrenta muitas dificuldades devido às constantes rebeliões de goytacazes, o que o faz voltar a Lisboa em 1570. Em 1626, o filho de Pero de Góis tenta retomar a empreitada do pai, porém encontra sublevados os mesmos indígenas goytacazes e acaba deixando a região. O território em que ocorreu esse ataque dos guarulhos, embora pertencesse à Capitania de São Tomé, estava sob jurisdição da Capitania do Rio de Janeiro devido aos imbróglios da posse do donatário, e assim permaneceu até 1753, quando foi comprada pela Coroa e se tornou capitania subordinada ao Rio de Janeiro.
(Moisés Bernardo, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)
Aproximadamente 2 de duração. 40 participantes.
PARDO, Aristides Leo. Não foi nada fácil: A tardia colonização portuguesa e a resistência dos índios goytacazes na capitania de São Tomé. Sobre ontens. v.2012, p. 01 – 15, 2012.
SILVA, P. R. P. e PARANHOS, Paulo . Controvérsias sobre os primeiros tempos da Capitania de São Tomé. Revista da ASBRAP, São Paulo, v. 6, n.1, p. 93-100, 1999.
Lisboa, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo IV. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1835. P. 272.