Revoltas

Rebelião indígena

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Campos dos Goytacazes

Início / fim

12 de setembro de 1675 / 14 de setembro de 1675

Data aproximada
Na luta pela defesa dos direitos em zonas rurais, povos originários permanecem resistindo. Fotografia de Denisa Sterbova para Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil - dados de 2019. Conselho Indigenista Missionário. Brasília. 2019.

Um grupo de aproximadamente quarenta indígenas armados atacaram em setembro de 1675 o engenho de açúcar de José Barcellos, numa região descrita como “Campos dos Goitacases”, na Capitania de São Tomé (atual norte-fluminense). Na ação, os indígenas receberam o apoio de jesuítas e de André da Motta, preso que havia fugido da cadeia. Os currais foram destruídos e a fazenda tomada pelo grupo de nativos. O motivo para o ataque foi uma disputa pela posse dos currais da propriedade.

Durante o período colonial, os jesuítas implantaram diversos aldeamentos indígenas na América Portuguesa, empreendimentos que reuniam indígenas para serem catequizados e executar trabalhos na agricultura, criação ou extrativismo. A expansão da fé cristã e das propriedades da igreja eram algumas das razões da política de aldeamentos.

A aldeia Santo Antônio de Guarulhos foi fundada em 1672 na Capitania de São Tomé por capuchinhos italianos, ordem religiosa da família franciscana. Naquela região eram frequentes hostilidades, conflitos e resistências entre indígenas goytacazes e colonizadores portugueses. Além dos portugueses, os goytacazes também eram atacados por indígenas aldeados das regiões de Cabo Frio e Reritiba (atual município de Anchieta, sul do Espírito Santo). Com o tempo, os goytacazes acabaram sendo derrotados e enviados para a aldeia de São Pedro (atual município de São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro). Desse modo, os jesuítas e os indígenas guarulhos passaram a dominar a região da capitania de São Tomé. Ataques a fazendas no vale do rio Muriaé e a realização de incursões até Macaé eram práticas comuns dos guarulhos.  

Nesse contexto, uma disputa pela posse de currais envolvendo os missionários da companhia de Jesus e José de Barcellos, proprietário de terras da região, motivou o ataque dos indígenas. Os religiosos teriam incitado os guarulhos da região a atacarem o engenho de Barcellos e para isso conseguiram o apoio de um certo André da Motta, descrito como um perigoso foragido da cadeia, condenado à morte por sentença do Tribunal da Relação da Bahia. 

Em 12 de setembro de 1675, cerca de quarenta guarulhos armados e o fugitivo André Motta tomam a fazenda de José de Barcellos, destruindo e incendiando os currais, fonte da discórdia, e aterrorizam o feitor e os escravizados do engenho. Encurralados e temendo por suas vidas, Barcellos e seus escravizados, que aproveitaram a situação para fugir, deixaram a propriedade. Enquanto isso, os guarulhos, jesuítas e André da Motta se assenhoram da propriedade.

A capitania de São Tomé – também conhecida como Capitania da Paraíba do Sul – foi doada a Pero de Góis em 1534, com 30 léguas de litoral e estava localizada entre a Capitania do Rio de Janeiro e a do Espírito Santo. O donatário, em 1538, introduz plantações de açúcar e gado na região, mas enfrenta muitas dificuldades devido às constantes rebeliões de goytacazes, o que o faz voltar a Lisboa em 1570. Em 1626, o filho de Pero de Góis tenta retomar a empreitada do pai, porém encontra sublevados os mesmos  indígenas goytacazes e acaba deixando a região. O território em que ocorreu esse ataque dos guarulhos, embora pertencesse à Capitania de São Tomé, estava sob jurisdição da Capitania do Rio de Janeiro devido aos imbróglios da posse do donatário, e assim permaneceu até 1753, quando foi comprada pela Coroa e se tornou capitania subordinada ao Rio de Janeiro.

 

(Moisés Bernardo, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Números da Revolta

Aproximadamente 2 de duração
40 participantes

Ações de protesto violentas

  • Destruição de propriedade
  • Expulsão de adversários
  • Incêndios
  • Invasão de propriedade

Bibliografia Básica

PARDO, Aristides Leo. Não foi nada fácil: A tardia colonização portuguesa e a resistência dos índios goytacazes na capitania de São Tomé. Sobre ontens. v.2012, p. 01 – 15, 2012.

SILVA, P. R. P. e PARANHOS, Paulo . Controvérsias sobre os primeiros tempos da Capitania de São Tomé. Revista da ASBRAP, São Paulo, v. 6, n.1, p. 93-100, 1999.

Fontes impressas

Lisboa, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo IV. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1835. P. 272.

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