Revoltas

Quilombo do Rio Guandu

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Piraí

Início / fim

01 de maio de 1691 / 1699

Data aproximada

No final do século XVII, escravizados fugitivos das fazendas próximas de Piraí (município do Vale Paraíba Fluminense) se aquilombaram nas matas da região. O Quilombo do Rio Guandu, próximo à nascente do Rio de mesmo nome tornou-se uma ameaça aos moradores e às autoridades locais pelos recorrentes roubos feitos às propriedades da região. O documento mais antigo em que tratava de mocambos no Rio de Janeiro é referente ao Quilombo do Rio Guandu. Trata-se de uma correspondência escrita em maio de 1691 com finalidade de informar o Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Luís César de Menezes (1690-1693), sobre a existência do mocambo na nascente do Rio Guandu, parte do atual município de de Piraí, e denunciar as ações desses fugitivos. Conforme o texto da correspondência, alertava-se às autoridades

haver no sertão desta Cidade um mocambo de negros fugidos com grande quantidade de gente nas cabeceiras [nascente] do Rio Guandú onde vem a fazer assaltos pelas fazendas, roubando, e levando os escravos com que se beneficiam no que atualmente estão padecendo os moradores desta capitania grandes perdas […] (AN – Ordens Régias – gov. do Rio de Janeiro, Vol. 2, Cód. 77: 1688/1694, fl 12 v. In: GOMES, 1996. p. 9)

A resistência dos escravizados foi uma resposta constante à escravidão. Houve muitas formas de resistir no Brasil, mas as fugas e a formação de comunidades pretas eram as que mais ameaçavam as autoridades locais. Os quilombolas possuíam roças, mantinham relações com os comerciantes locais e cometiam crimes, como saques em propriedades e assassinatos como os citados na correspondência.

A repressão aos quilombos era feita por expedições militares, organizadas pelas autoridades locais e auxiliadas por senhores de escravos da região. Em alguns casos eram usados nativos por conhecerem as florestas da região. Os soldados, ao obterem sucesso sobre os quilombolas, queimavam suas roças, casas e os capturavam. O costume era devolvê-los aos respectivos donos ou utilizá-los como pagamentos aos soldados.

Não há outros documentos sobre o Quilombo do Rio Guandu até o momento, assim não se conhece em detalhes o processo de formação do quilombo, tampouco a repressão ocorrida após a comunicação ao governador da capitania do Rio de Janeiro.

No entanto, os quilombos pareciam ser um problema crônico nas regiões próximas ao Rio de Janeiro.

Existe o registro de que em 1699, o governador Artur de Sá e Meneses mandou pôr fim a essas comunidades, organizando “Corpos disciplinados”, responsáveis por reprimir os aquilombados. Uma  expedição militar ocorreu na primeira metade do ano de 1699 e os relatos informam que os moradores dos mocambos foram mortos sem distinção, inclusive, aqueles que não demonstraram ameaça ou resistência foram massacrados. No entanto, não se sabe se o quilombo atacado foi o do Rio Guandu.

Em 8 de junho de 1699, o governador Artur de Sá e Meneses enviou uma carta ao El-Rei Pedro II comentando o ocorrido e as prisões realizadas. A resposta veio em 24 de setembro do mesmo ano, assinada pelo rei e pelo Conde de Alvor, presidente do Conselho Ultramarino. Nela, o soberano comentava que o governador deveria proceder com a devassa, punindo com castigo aqueles cabos que agiram com excesso contra os negros, como pode ser visto no trecho a seguir:

Nestes casos sempre se deve tirar devassa, e constando que as mortes se fizeram foram acidentais ou nascidas das resistências, se não deve proceder por elas; porém constando que estas mortes se fizeram voluntariamente sem proceder da parte dos negros aquela ofensa e resistência, por onde obrigue aos Cabos a que os matem, que consentirem  semelhante desordem, por se não dar ocasião a que usem mal da diligência que deles se fia. (LISBOA, 1835, Tomo V. p. 227-228.)

 

Os quilombos eram respostas às severas condições impostas aos escravizados. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta.

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Antecedentes

Fuga de escravizados das fazendas da região.

Conjuntura e contexto

Utilização de mão de obra africana escravizada.

Números da Revolta

Aproximadamente aproxiamadamente 5 anos de duração

Grupos sociais

Autoridades

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida

Ações de protesto violentas

  • Ataques Noturnos
  • Morte de inimigos
  • Saques a casas e armazéns
  • Sequestro de bens

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Expedição armada ou repressão militar

Punição

  • Não informadas

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

GOMES, Flávio dos Santos. Quilombos do Rio de Janeiro no século XIX. In: (Org.) Gomes, REIS, João J.; Flávio dos Santos. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1996.

Fontes impressas

LISBOA, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste paiz, a fundação da cidade com a historia civil e ecclesiastica, até a chegada d’El Rey D. João VI; além de noticias topographicas, zoologicas, e botanicas. Tomo V. Rio de Janeiro: Na Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca. 1835. p. 227-228.

Arquivos e fontes manuscritas

Obras de Referência

AN, Códice 77, Ordens Régias -governadores do No de Janeiro (1689/1693), Volume 2, 31.05.1691, fl. 12v

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