Revoltas

Quilombo de São João de Icaraí

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Sesmaria dos Índios de São Lourenço

Início / fim

1713 / 1807

Data aproximada
A aquarela sobre papel de Fréderic Salathé retrata São João de Icaraí, parte integrante da Sesmaria dos Índios (bairro da atual cidade de Niterói) - Acervo Coleção Brasiliana Itaú.

Do começo até meados do século XVIII, escravizados fugitivos das fazendas próximas da Freguesia de São João de Icaraí, parte integrante da Sesmaria dos Índios (bairro da atual cidade de Niterói), organizaram um quilombo nas matas da região. O Quilombo de São João de Icaraí tornou-se uma ameaça aos moradores que exigiram ações das autoridades  para repressão aos fugitivos. 

Na freguesia de São João de Icaraí havia, no começo do século XVIII, duas grandes unidades produtivas: a Fazenda de Icaraí e a Fazenda do Cavalão. Essas fazendas utilizam extensivamente a mão de obra escrava e escoavam sua produção pelo porto na Praia de Icaraí. Muitos desses escravizados fugiam do intenso trabalho das lavouras e dos castigos de seus senhores em direção aos quilombos da região.

Infelizmente, não se conhecem ainda, de acordo com as fontes disponíveis, detalhes do processo de formação do Quilombo de São João de Icaraí. Sabe-se que, por volta de 1713, os pretos fugitivos já estavam aquilombados nas matas de Icaraí e realizavam saques e roubos nas propriedades das regiões circunvizinhas de Titioca, Cobango, Pinditiba e Engenho de Antônio da Fonseca.

Não há notícia de expedições para pôr fim ao quilombo. O que se sabe é que, no ano de 1763, as autoridades de região denunciaram a prática ilegal de relações comerciais entre os quilombolas e taberneiros nas freguesias da região. As autoridades impuseram o fechamento das tabernas às oito horas da noite e começaram a fazer rondas constantes para coibir a circulação de pessoas e de mercadorias. Mesmo com o reforço do controle policial na região, que contou com auxílio do corpo da cavalaria, indicação feita pelo Marquês do Lavradio, as rondas não tiveram efeito, uma vez que denúncias de ações do Quilombo de Icaraí foram novamente feitas em 1764. Neste ano, houve registros de que o quilombo de Icaraí, ao lado dos de Cubango, Pendotiba e Engenho Antônio da Fonseca, provocaram “mortes e outros insultos”, próximos da vila de Niterói.

Uma correspondência datada em 3 de junho de 1807 revela que o quilombo ainda era motivo de preocupações para as autoridades. O coronel do quartel de Icaraí, Luiz de França de Affonso, escreveu ao vice-rei do Brasil a ordem verbal que havia recebido do vice-rei anterior para combater os quilombos da região. A correspondência relata que o capitão Paulo Pinto Muniz Brito, acompanhado de dois oficiais inferiores, quatro soldados e oito paisanos, conseguiu apreender quatro escravizados fugitivos nas matas de Itacoatiara. Ficou determinado que os respectivos donos deveriam pagar 6$400 por cada indivíduo recuperado. A freguesia de São João de Icaraí, junto com as suas vizinhas, foram subordinadas à Vila Real da Praia Grande, criada em 1819. 

Pelas fontes disponíveis, não se sabe o desfecho desse lugar de resistência. Os quilombos eram respostas às severas condições impostas aos escravizados. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta. 

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

(Giovanna Wermelinger, graduanda no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida

Ações de protesto violentas

  • Ataques Noturnos
  • Sequestro de bens

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Expedição armada ou repressão militar

Punição

  • Não informadas

Instâncias Administrativas

  • Marquês de Lavrádio
  • Vice-rei

Bibliografia Básica

GOMES, Flávio dos Santos. “Uma tradição rebelde: notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro (1625-1818)”. Revista Afro Ásia, Salvador, v. 17, 1996.

GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs – XVII – XIX). Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997.

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