Revoltas

Quilombo de Macaé

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Casimiro de Abreu

Início / fim

1809 / 1823

Data aproximada
Jean-Baptiste Debret (1768- 1848), A colônia suíça de Cantagalo (detalhe) | Foto Horst Merkel | Acervo Museus Castro Maya/IBRAM

A Serra do Mar, que já foi  conhecida como Serra dos Aimorés, era permeada por quilombos desde, pelo menos, o ano de 1809. Um deles, o quilombo de Macaé, estava localizado próximo dos rios Macaé e São João. Atualmente a região dessa comunidade quilombola faz parte do município de Casimiro de Abreu. Nos anos de 1821 e 1823, a comunidade de pretos fugitivos sofreu ataques de colonos suíços recém-chegados naquela área. As expedições dos estrangeiros resultaram na prisão de cerca de 18 quilombolas, incluindo homens e mulheres, e as terras foram cedidas como recompensa aos invasores por Dom Pedro. No século XX, a população negra  ainda residia ali  e disputava o território que se designava “Quilombo”. Mas sua permanência na região foi dificultada por meio de ações de expulsão promovidas por famílias de origem suíça, inclusive com a tentativa de trocar o nome do local para “Nova Suíça”. 

O Quilombo de Macaé, localizado na Serra do Mar fluminense e situado onde hoje se encontra a cidade de Casimiro de Abreu, foi formado por volta de 1809. Os escravizados fugidos foram majoritariamente adquiridos no mercado do Valongo no Rio de Janeiro, cuja origem poderia ser os portos de Benguela, Cabinda e Luanda, na região de Angola. Instalado perto dos rios Macaé e São João, a rede hidrográfica na região foi importante para as rotas de fugas e atividades comerciais quilombolas. Suas terras tinham por volta de 4 quilômetros de extensão e, devido à proximidade com os rios Macaé e São João, eram bem férteis para produção de batata doce, banana, café e cana de açúcar.

A imigração suíça para o Brasil foi um projeto do Rei Dom João VI buscando criar núcleos de abastecimento para os centros urbanos da região, viabilizado graças ao pagamento das viagens, custeadas pelos cofres Reais, e a doação de  terras aos colonos. No ano de 1818, foi decretado o estabelecimento de uma colônia suíça denominada Nova Friburgo, onde deveriam chegar cerca de cem famílias estrangeiras. No dia 10 de setembro de 1821, Dom Pedro, então Príncipe Regente no Brasil, agraciou os colonos com as terras então ocupadas pelos quilombolas às margens do rio Macaé. Os suíços, ao chegar na serra, invadiram e destruíram alguns quilombos da região para ocuparem as terras que lhes foram concedidas.

Os próprios suíços assumiram a autoria do ataque, de acordo com um ofício assinado no dia 6 de setembro de 1822 por Quevremont, encarregado da polícia dos colonos suíços em Nova Friburgo. Ainda insatisfeitos com as terras concedidas e buscando locais mais férteis, os imigrantes promoveram uma expedição para o interior das matas. Conforme a carta de Antoine Cretton, datada de 14 de maio de 1823, eles contrataram um português como batedor e partiram com cerca de dezesseis homens mata adentro. 

No oitavo dia de expedição encontraram o quilombo de Macaé cercado de armadilhas, como estacas pontiagudas dentro das valas cobertas por folhagem. Os quilombolas surpreenderam os invasores com aproximadamente oito homens armados com flechas, mas os suíços conseguiram fugir. O uso de armadilhas e armas indígenas indica a aproximação entre nativos e escravizados fugidos. A Serra do Mar era conhecida por Serra do Aimorés, por conta do nome da etnia dos nativos que ali habitavam.  

O destino dos rebeldes capturados e dos suíços foi muito diferente. Na carta de Cretton, foi relatado que os quilombolas foram presos de “maneira responsável”. Segundo Renata Azevedo, possivelmente Cretton usou a expressão para registrar a ocorrência de tortura sofrida pelos pretos. Vários dos escravizados capturados foram anunciados em jornais com intenção de serem devolvidos aos seus donos. Uma outra parcela dos que formaram quilombos no Rio de Janeiro ficava preso no Calabouço, fortificação situada no atual prédio do Museu Histórico Nacional, no centro da cidade. Os invasores suíços, por sua vez, receberam as terras ocupadas pelo quilombo como recompensa pela ajuda prestada. No entanto, não se pode assegurar que se o reduto foi totalmente destruído. (LIMA, 2013. p. 93)  

Os quilombolas tiveram aquelas terras negadas não apenas durante o século XIX. Na década de 1950, a última família de origem africana foi expulsa da região do antigo quilombo e teve sua casa queimada. A localidade foi ocupada por descendentes de suíços, que no ano de 1990 tentaram apagar a memória da comunidade quilombola criando um distrito chamado “Nova Suíça”. 

Os quilombos eram respostas às severas condições impostas aos escravizados. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta.

Grupos sociais

Autoridades

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida
  • Roubo de pessoas

Ações de protesto violentas

  • Ataques Noturnos
  • Saques a casas e armazéns
  • Sequestro de bens

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Prisões

Punição

  • Escravização e reescravização
  • Prisão

Instâncias Administrativas

  • Rei

Bibliografia Básica

LIMA, Renata Azevedo. Conflitos de terras e Quilombos na colonização do Rio de Janeiro (1808-1831). Niterói, dissertação de mestrado, 2013.

Fontes impressas

Guerra em 31 de maio de 1809. Coleções das leis do Brasil de 1809. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1891, parte II. p. 20.

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