Revoltas

Quilombo de Iguassu

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Iguassu

Início / fim

1812 / 1870

Data aproximada

Durante o século XVIII e XIX, escravizados fugitivos das fazendas próximas à Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú organizaram quilombos nas matas da região. Estima-se que o primeiro quilombo da localidade tenha surgido por volta de 1790. Na região de Iguassú se formaram muitos quilombos e eles foram se tornando uma ameaça aos moradores e às autoridades locais pelos recorrentes roubos e ataques feitos às propriedades da região. Os quilombolas se instalaram nas matas e riachos, utilizando da  proteção natural para dificultar invasões. Desde o ano de 1812 até meados do século XIX, os quilombos sofreram repressões organizadas pelas autoridades locais, mas conseguiram resistir. Os taberneiros e comerciantes asseguravam, de certa forma, a existência dos acampamentos já que mantinham relações comerciais com a troca de gêneros agrícolas e principalmente da madeira provinda dos manguezais.

O conjunto de quilombos que permeia a região de Iguassu, atualmente município de Nova Iguaçu, possuía diversos nomes e localidades nas documentações, tais como: Quilombo do Pilar, Quilombo de Iguassu, Quilombo da Barra do Rio Sarapuí. O movimento continua no século XIX com o aparecimento de outras denominações, como: Quilombo do Bomba, Quilombo do Gabriel e Quilombo da Estrela. Esses substantivos referem-se às localidades geográficas, um exemplo é o riacho Gabriel, importante afluente dos Rios Iguaçu e Sarapuí, além do quilombo Santo Antônio de Jacutinga, referente à freguesia próxima.

A resistência escrava foi uma resposta constante a escravidão. Houve muitas formas de resistir no Brasil, mas as fugas e a formação de comunidades pretas eram as que mais ameaçavam as autoridades locais. A formação de quilombos, que partia dessas fugas escravas, demonstrava a consciência dos pretos sobre a realidade em que estavam inseridos. Os quilombolas, por via de regra, possuíam roças, mantinham relações com os comerciantes locais e cometiam crimes, como saques em propriedades e assassinatos.

A localização dos quilombos, estrategicamente escolhidos, usufruia da proteção das florestas pela difícil penetração de tropas. Nesse sentido, em Iguassu os rebeldes aproveitam dos riachos e pântanos mas permaneciam perto o bastante dos centros comerciais para manter relações.

Os ataques quilombolas na região fizeram aumentar a quantidade de denúncias por moradores e viajantes. Com isso, no ano de 1825, o chefe da polícia da Corte informava ao Ministro da Justiça Clemente Ferreira França (1823-1825) da existência de um “grande quilombo” entre os Rios Iguaçu e Sarapuí. O escoamento dos produtos era realizado por esses rios, assim, a ação dos quilombolas recaiam ali com roubos das embarcações. No mês de abril de 1825, Jacinto José da Silva Quintão, dono de terras, queixou-se às autoridades sobre os roubos de telhas e produtos de mantimentos de suas embarcações causadas pelos rebeldes. Essas ações não se limitavam ao transporte fluvial, uma vez que as fazendas também foram foco de furto de gado. Neste relato o próprio fazendeiro evidencia a frequência ao argumentar: “este quilombo, senhor, é antigo neste lugar; e sempre tem sido atacado por não ser extinguido, ficando aquele rio [Iguaçu] intransitável portanto”.

Conforme os historiadores Flávio Gomes e João José Reis, a presença do quilombo era de conhecimento tanto da população quanto das autoridades desde o final do século XVIII. O primeiro registro de repressão ocorreu no mês de junho de 1812, com o intendente de polícia da Corte ordenando o auxílio dos comandantes do distrito de Santo Antônio de Jacutinga para a expedição organizada pelo capitão do mato Cláudio Antônio. Nesta expedição ele tinha a ordem de destruir os acampamentos e prender os pretos. Nas muitas expedições feitas no século XIX, alguns pretos foram presos, exemplo deles são: João Congo, João Mofumbe e José Benguela (1816), nove pretos (1826-1827), oitos quilombolas (1828) e mais um em 1819 cujo nome não foi informados. As repressões continuaram ao longo do século XIX, aparentemente, os pretos conseguiram permanecer resistindo e formando novas comunidades quilombolas na região.

Além do vigor dos quilombolas em resistir às invasões, um dos fatores que influenciou na derrota das expedições foram as relações estabelecidas entre os quilombolas com os taberneiros e comerciantes, escravizados remadores e lavradores da região. Os produtos dos roubos eram negociados com tais comerciantes em troca de carne, farinha e outros produtos. No entanto, os roubos não eram a única forma de manter relações já que a própria produção agrícola dos aquilombados inscrevia tal função. Eram cultivados nas roças abóbora, mangalô (espécie de vagem) e pequenas quantidades de açúcar. A extração de madeira do mangue, também realizada pelos pretos fugitivos, era vendida para a Corte com intermédio dos comerciantes, em troca, os pretos recebiam proteção e gêneros alimentares. A influência foi tamanha que supõe-se o controle do comércio de madeira por esses grupos desde a extração até as saídas dos rios.

Perante as constantes expedições para destruir o quilombo e a própria importância dos pretos no comércio de madeira da região supõe-se que os quilombos resistiram até o final do século XIX.

Não há outros documentos sobre o Quilombo de Iguassu até o momento, assim não se conhece em detalhes o processo de formação do quilombo, tampouco as repressões ocorridas ao longo do século XIX.

Os quilombos eram respostas às severas condições impostas aos escravizados. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta.

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

(Moisés Bernardo, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Antecedentes

Fuga de escravizados das fazendas da região.

Conjuntura e contexto

Utilização de mão de obra africana escravizada.

Grupos sociais

Lideranças

Réus e Condenados

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida
  • Roubo de pessoas

Ações de protesto violentas

  • Ataques a viajantes
  • Ataques Noturnos
  • Saques a casas e armazéns
  • Sequestro de bens

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Expedição armada ou repressão militar
  • Prisões

Punição

  • Não informadas

Bibliografia Básica

SILVA, Lúcia Helena Pereira. Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga: um capítulo da história da ocupação da baixada fluminense. Revista Uniabeu, Belford Roxo, v. 9, n. 21. Janeiro/abril 2016. p. 123-137.

GOMES, Flávio dos Santos. Quilombos do Rio de Janeiro no século XIX. In: (Org.) Gomes, REIS, João J.; Flávio dos Santos. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1996.

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