Revoltas

Quilombo de Curukango

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Macaé

Início / fim

1790 / 1792

Data aproximada
“Um negro fugitivo”. A gravura mostra um escravizado fugido escondido nas matas, com seus utensílios e armas e faz parte do registro de viagem de Jacques Pierre Benoit ao Suriname. (Bruxelas: Société des Beaux-Arts de Wasme et Laurent, 1839).

A formação do quilombo ocorreu por volta de 1790, após o roubo e a fuga da fazenda de Antônio Pinto, organizado por Curukango.  O líder  funda um quilombo com outros ex-escravizados e, logo em seguida, começa a realizar roubos e saques nas fazendas locais. Em um desses ataques, Curukango mata seu antigo senhor ao invadir sua propriedade. O líder quilombola também ficou conhecido por Carucango ou Querucango, e tinha origem moçambicana. A região do quilombo era localizada a nordeste de Macaé, onde hoje se localiza a Serra do Deitado. Durante as noites, Curukango estimulava a fuga dos escravizados das fazendas que ele roubava. Durante uma dessas ações os quilombolas tentaram matar Chico Pinto, irmão de Antônio Pinto, porém o plano não se concretizou e o líder  quilombola foi atingido no braço. 

Curukango era uma figura respeitada pelos escravizados fugidos, a quem atribuíam poderes espirituais. O quilombo possuía muitas roças de milho, feijão e outros gêneros, e seu excedente da produção de subsistência mantinha as relações de trocas com os com os comerciantes e taberneiros locais. As proporções da comunidade cresceram ao ponto de reunir 200 pretos, provocando reação das autoridades que organizaram uma expedição, cujo resultado foram muitos pretos degolados com seus corpos expostos pelas estradas.

O medo estava instalado e, por volta de 1792, para evitar um levante, o coronel Antão de Vasconcelos (chefe do distrito militar da capitania do Espírito Santo) organizou uma expedição com a intenção de destruir de vez o quilombo. A repressão contou com soldados e moradores que conseguiram prender um dos quilombolas que circulava pela região e o forçaram a denunciar a localização da comunidade. Durante a repressão houve uma troca de tiros que dizimou parte significativa dos quilombolas, apesar de alguns terem conseguido fugir. Curukango foi atingido pelo filho do seu ex senhor, tendo a seguir cortada sua cabeça exposta na beira da estrada para gerar medo nos pretos que resistiam. A violência da repressão foi extrema com diversos quilombolas degolados e muitas cabeças espetadas em estacas altas.

Não existem muitos documentos sobre o quilombo de Curukango até o momento, assim não se conhece em detalhes o processo de sua formação , tampouco maiores informações sobre a expedição que pôs fim a vida do líder do quilombo.

A resistência escrava permeou toda a existência da escravidão na América portuguesa. Inúmeras ações contribuíram para isso, como: quebrar equipamentos nos engenhos, matar feitores, o que era considerado um problema grave para as autoridades locais, além das fugas. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta. 

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Números da Revolta

Aproximadamente 2 anos de duração
200 pessoas participantes

Tipologia

Modelo de conflito

Soberania

A revolta foi interrompida pelas seguintes razões

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Aclamação de rebeldes
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida
  • Roubo de gado

Ações de protesto violentas

  • Agressão de Autoridade
  • Ataques Noturnos
  • Invasão de propriedade

Repressão

Contenção

  • Envio de autoridade

Punição

  • Açoite e castigos público
  • Execução
  • Exposição apenas da cabeça

Bibliografia Básica

AMANTINO, Márcia Sueli. Quilombos em Macaé no século XIX. Caderno de Ciências Humanas, v. 10, n.18, dezembro, 2007. p. 623-647.

GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs – XVII – XIX). Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997.

GOMES, Flávio dos Santos. “Uma tradição rebelde: notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro (1625-1818)”. Revista Afro Ásia, Salvador, v. 17, 1996.

OSCAR, João. Curunkango rei. Editora Cromos. Pará, 1998.

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