Revoltas

Quilombo de Campos dos Goytacazes

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)Vila de São Salvador da Paraíba do Sul

Início / fim

1695 / 1810

Data aproximada

Os Quilombos de Campos dos Goytacazes foram uma manifestação de resistência dos pretos escravizados dessa região. Não se tratava de apenas um, mas de um conjunto de quilombos localizados nos sertões do Rio Ururaí desde o final do século XVII. Estima-se que por volta de 1695 os primeiros quilombos tenham se formado na região. No ano de 1751, a Câmara da Vila de São Salvador declarou que os quilombos da região se tornaram um problema crônico devido aos frequentes roubos, assassinatos e sequestros de mulheres cometidos pelos quilombolas. No ano de 1769, uma expedição foi organizada para reprimir os quilombos comandada por João José de Barcelos. Anos depois, em 1792, muitos quilombos foram atacados, prendendo muito dos pretos fugidos que ali viviam. Alguns quilombos não foram totalmente destruídos nessas expedições, uma vez que ainda se teve notícias sobre os pretos aquilombados naquela região no século XIX.

A existência de quilombos na região da Vila de São Salvador já era de conhecimento público há anos, porém o aumento das denúncias de roubos, assassinatos e sequestros de mulheres praticados pelos pretos fugidos tornou-se uma ameaça para as autoridades locais. No ano de 1751 o Capitão-mor Félix Álvares de Barcelos, ao comparecer na reunião na Câmara da Vila de São Salvador, queixou-se da presença quilombola naquela região como um problema crônico que precisava ser combatido. A solução para o problema foi a abertura do edital que convocou moradores e capitães do mato, permitindo-os que matassem os quilombolas resistentes sem nenhuma consequência jurídica.

Uma expedição foi organizada em maio de 1769, comandada pelo Mestre de Campo João José de Barcelos Coutinho. Provavelmente, ele era filho do fazendeiro José de Barcellos, que em 1675 teve suas terras tomadas por indígenas e jesuítas. Não se tem informações se a expedição do Mestre de Campo de fato chegou a ocorrer. No entanto, as repressões aos quilombos não pararam e, em 1792, o Conde de Resende, Vice-Rei do Estado do Brasil, enviou uma correspondência para a Câmara da Vila de São Salvador ressaltando a importância do combate contra aqueles quilombos.

Ainda em 1792, outra expedição para acabar com os quilombos foi organizada, segundo a historiadora Silva Lara, com mais de 200 homens. Manoel Batista Pereira, Capitão da Companhia de Granadeiros do Regimento de Milícias foi encarregado para tal ação. Como de praxe, muitos quilombos foram atacados e tiveram suas comunidades destruídas, sendo uma parte significativa dos pretos capturados e reescravizados.

O aumento da repressão intensificou as ações dos quilombolas para manter sua autonomia por meio dos recorrentes roubos e ataques. Como no caso da invasão, em 1796,  da senzala pelo pardo Joaquim na fazenda do alferes Miguel de Morais Pessanha, resultando na fuga de dois escravizados. O pardo foi julgado e condenado por porte de arma e incentivador de escravizados fugidos. Como pena, foi enviado para a cadeia no Rio de Janeiro.

Os escravizados também fizeram alianças com os nativos como é apresentado nos relatos das autoridades locais sobre a fuga dos pretos Domingos e Francisco em 1801, permanecendo junto com os “gentis” nos sertões de São Fidélis, região limite a Vila de São Salvador, durante oito meses. Era comum os escravizados africanos se unirem aos indígenas da região para formar essas comunidades. Eles se interligam em diferentes relações de troca, como por exemplo, ajudar os escravizados a fugirem pela floresta.

Os quilombos da região de Campos, segundo Flávio Gomes, foram formados desde a metade do século XVIII até o início do século XIX. No entanto, não se tem conhecimento dos resultados das expedições realizadas pelos capitães do mato e legitimada pela Câmara.

 

(Richard Enbel, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

(Moisés Bernardo, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

Antecedentes

Fuga de escravizados das fazendas da região.

Conjuntura e contexto

Utilização de mão de obra africana escravizada.

Grupos sociais

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Fuga de escravizados
  • Roubo de comida
  • Roubo de escravos
  • Roubo de pessoas

Ações de protesto violentas

  • Ataques Noturnos
  • Morte de inimigos
  • Saques a casas e armazéns
  • Sequestro de bens
  • Sequestro de pessoas

Repressão

Contenção

  • Capitães do mato
  • Expedição armada ou repressão militar
  • Prisões

Punição

  • Não informadas

Instâncias Administrativas

  • Vice-rei

Bibliografia Básica

GOMES, Flávio dos Santos. “Uma tradição rebelde: notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro (1625-1818)”. Revista Afro Ásia, Salvador, v. 17, 1996.

LARA, Silva Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na Capitania do Rio de Janeiro 1750-1808. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988. p. 183-236 e 295-322

    Imprimir página

Compartilhe