Revoltas

Movimento sebastianista do Rodeador

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Serra do Rodeador

Início / fim

1811 / 26 de outubro de 1820

Data aproximada
Massacre do Rodeador. Óleo sobre a tela. 160X173. Obra de Marcelo Júlio, 2003-2011. Câmara Municipal de Bonito-PE.

A Cidade, ou Reino do Paraíso Terreal, núcleo em torno do qual transcorreu o movimento, foi fundada nas proximidades da Serra do Rodeador, no antigo povoado de Bonito, a cerca de 130 km do Recife. A localidade começou a ganhar corpo com a chegada do desertor das milícias Silvestre José dos Santos, que passou a anunciar a vinda de D. Sebastião, monarca português morto no Marrocos havia 300 anos. A maioria das pessoas que morava na citada cidade era composta por pessoas afrodescendentes, livres e trabalhadoras rurais. Essa gente chegou até o Rodeador entre os anos de 1811 e 1812 atraída por histórias de desencantamentos de reinos e crentes que com o retorno do imaginado rei as injustiças sociais acabariam. O rei João VI não era reconhecido como soberano daquela gente e seria um dia desbancado por El-rei D. Sebastião quando então seria inaugurado um tempo de felicidade.  

O fervor religioso dos habitantes do Rodeador era alimentado por meio de reza, novena, milagre e revelações. Os prosélitos se agrupavam em torno da irmandade do Bom Jesus da Lapa, cujas figuras de maior importância eram Silvestre e seu cunhado Manoel Gomes das Virgens, tidos como os “Procuradores de Cristo”. A comunidade comportava ainda um corpo de “Procuradores da honestidade”  masculina e feminina, cujos dignitários se distinguiam dos demais por ostentar condecorações de fitas coloridas, cada uma possuindo simbologias próprias. Suas funções eram velar o vestuário e proibir uniões. Entre as procuradoras destacaram-se: Feliciana Maria da Conceição, Joana Batista, Isabel Maria e Francisca Maria de Santana.

Os homens andavam armados e formavam um exército dizendo-se preparados para defenderem os interesses de D. Sebastião. O medo de que a comunidade planejasse subverter a ordem política concorreu para que o governador Luís do Rego Barreto ordenasse seu desmonte, o que foi realizado com grande truculência no dia 26 de outubro de 1820. Os depoimentos da época divergem em relação ao número de mortos no massacre, mas todos afirmam que houve mais de cinquenta assassinatos causados pela violenta contenção.

(Flávio Gomes Cabral, Doutor (2008) e Mestre (2002) em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História na Universidade Católica de Pernambuco. Autor do livro Paraíso Terreal: a rebelião sebastianista na Serra do Rodeador. Pernambuco, 1820. São Paulo: Annablume, 2004.)

Antecedentes

O movimento do Rodeador surgiu em um momento de instabilidades políticas e econômicas entre a instalação da Corte Portuguesa no Brasil em 1808 e o desmonte da Revolução pernambucana de 1817. Durante esse período, o Rio de Janeiro passou por uma grande expansão com transformações urbanas e culturais, porém, o mesmo não aconteceu no restante do país. Na atual região Nordeste, por exemplo, a crise tremenda prejudicava ricos e pobres, gerando insatisfações e protestos. A Coroa passou a ser acusada de ter virado as costas para a região e aliado a isso, Pernambuco tornou-se uma das capitanias mais exploradas para custeio dos gastos da Corte.

Conjuntura e contexto

A revolta do Rodeador começou a se organizar durante os primeiros anos do século XIX, estimulada pela falta de atenção da Coroa para com os chamados grupos subalternos. A  alta dos impostos e a falta de perspectiva de vida estimularam revoltas.  Os soldados se evadiam dos quartéis e reclamavam dos métodos de recrutamento. Os escravizados se insubordinavam mormente aos maus tratos e a população livre não encontrava trabalho. As autoridades tinham conhecimento das reclamações, mas preferiam  abafá-las utilizando a força quando então reinava a pancadaria e derramamentos de sangue.

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Aclamação de rebeldes
  • Blasfêmia
  • Cooptação de trabalhadores rurais pela oralidade
  • Desobediência
  • Formação de comunidade independente
  • Nomeação de autoridades
  • Nomeação de procuradores
  • Sermões

Ações de protesto violentas

  • Não reconhecimento da Autoridade Real
  • Ofensas a Autoridade

Repressão

Contenção

  • Expedição armada ou repressão militar
  • Prisões

Punição

  • Atear fogo em imóvel
  • Degredo / Desterro
  • Envio de presos para vila

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania
  • Ouvidor-Geral do Crime

Bibliografia Básica

CABRAL, Flavio José Gomes. Sonhar e morrer por Dom Sebastião: história e cotidiano dos trabalhadores pobres e rebeldes do Rodeador (Pernambuco – 1820). In: RÜCKERT, Fabiano Quadros et al. História da pobreza no Brasil. Rio Grande, Ed. da FURG, 2019, pp. 11-31.

HERMANN, Jacqueline. sebastianismo e sedição: os rebeldes do Rodeador na Cidade do Paraíso Terrestre, Pernambuco 1817-1820. Tempo, v. 6, n. 11, 2001, pp. 131-142.

PALACIOS, Guilhermo. Messianismo e expropriação camponesa: uma nova expedição ao Reino da Pedra encantada do Rodeador. Pernambuco, 1820. Revista de História, v. 47, 2002, pp. 7-108.

Fontes impressas

Fonte Primária: Arquivo Nacional. Devassa acerca dos acontecimentos da Serra do Rodeador. Governadores de Pernambuco. Correspondência com o Ministério do Reino 1820-21.

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