Revoltas

Motim de soldados dos terços de Salvador (1649)

Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)Salvador

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16 de abril de 1649 / 16 de abril de 1649

Recorte do mapa de Salvador com acréscimos que mostram os principais locais do motim - Amédee François Frézier, mapa da cidade de São Salvador, capital do Brasil. Relação da viagem do mar do sul às costas do Chile e do Peru (Paris, 1716)

No dia 16 de abril de 1649, cerca de quatrocentos soldados do terço de Salvador se reuniram no campo de Nossa Senhora dos Desterro para protestar contra o atraso do pagamento de seus soldos e do fornecimento de suas rações. As autoridades, temendo que os militares invadissem a casa de um bispo recém-falecido para roubar o dinheiro que ele havia deixado em seu cofre, bloquearam a passagem para a catedral de Salvador. Com a obstinação dos soldados em exigir o pagamento, o capitão Baltazar dos Reis Barrenho foi enviado para negociar com eles. Barrenho chegou a uma resolução pacífica com os amotinados, que provavelmente receberam suas reivindicações dado que a situação foi resolvida sem grandes problemas. Os militares não sofreram punições violentas mas foram expulsos do terço em que serviam, sendo realocados em outras companhias.

O governador-geral Antônio Teles de Menezes (Conde de Vila Pouca de Aguiar), em meados de abril de 1649, demonstrava preocupação com a situação dos soldados dos terços de Salvador. Não havia mais recursos da Fazenda Real para pagar a ração ordinária (30 réis em dinheiro e um alqueire de farinha) e a Câmara havia atrasado o envio de gado para o sustento dos soldados. A infantaria chegou a ficar vários dias sem receber suas rações. O governador-geral temia que o atraso prolongado pudesse “resultar na desesperação dos soldados sem comer” e para evitar isso buscava “toda a comida possível”.

Para resolver esse problema o governador tomou uma medida drástica. Em 15 de abril enviou o ajudante Jorge Gomes Mourão com seis arcabuzeiros para a região do Rio Real (próximo à capitania de Sergipe del Rey), a fim de que eles conduzissem o gado dos currais para abastecimento dos militares. O oficial possuía ordens para trazer cento e trinta cabeças, podendo usar de força se fosse necessário. No mesmo dia em que o governador passou essa ordem, o bispo D. Pedro da Silva de Sampaio faleceu. A notícia de sua morte circulou por toda a cidade sendo acompanhada por rumores de que Sampaio deixara em seus cofres cerca de cem mil cruzados. Quando a notícia se espalhou, algumas companhias dos terços de Salvador começaram a reivindicar que seus soldos atrasados fossem pagos com o dinheiro que estava no cofre do bispo.

No dia seguinte, às onze horas da noite, os soldados começaram a se agrupar no campo de Nossa Senhora do Desterro (ver mapa acima). Cerca de quatrocentos soldados se reuniram no local e soaram cornetas buscando atrair mais companhias para reivindicar o pagamento atrasado. As autoridades de Salvador ficaram em alerta temendo que os soldados agissem por conta própria para tomar o dinheiro do bispo.

Ao tomar ciência dessas ações, o almirante da armada real, Luis da Silva Telles, deu ordens para D. Francisco Teles, mestre de campo da armada, reunir seus soldados no Terreiro de Jesus bloqueando a passagem para a catedral de Salvador. O som das caixas tocadas pelos soldados do terço da Armada fizeram com que parte dos amotinados se dispersassem, temendo o confronto contra um contingente maior.

Contudo, duzentos militares persistiram no campo com a solicitação. Para negociar com eles, o almirante enviou o capitão Baltazar dos Reis Barrenho. O capitão fazia parte dos terços de Salvador e conseguiu acordar com os amotinados uma solução pacífica: o terço da armada seria retirado para que eles pudessem retornar aos seus postos sem serem reconhecidos. Como a questão foi resolvida dessa maneira, sem ter ocorrido novas alterações, é bem provável que os soldados tenham recebido seus soldos e rações.

Além disso, por conta do motim ter sido contido sem maiores problemas, a punição sobre os envolvidos foi branda, como frisou o almirante no relato encaminhado à Coroa. O sargento-mor Ascenso da Silva, tido como cabeça do motim, e seus capitães foram reformados, sofrendo uma espécie de “desligamento” do terço onde estavam servindo. Os outros soldados envolvidos foram repartidos entre as demais companhias dos terços. Ademais, ainda que os militares recebessem o perdão pelos crimes de motim, suas ações ficaram registradas de modo que a progressão militar deles foi prejudicada. De qualquer forma, a avaliação do governador pode ter considerado que a reivindicação dos soldados era justa e nesse caso uma punição violenta não seria a melhor opção, uma vez que poderia gerar mais alterações entre os soldados.

(Hugo André Araújo, doutor em História pela UFRJ e bolsista CAPES/PNPD pela UFSM)

Antecedentes

O governador-geral encontrava dificuldades de pagar o soldo dos soldados e de abastecer suas rações, os solados que já não trabalhavam em boas condições estavam proximos de passarem fome.

Conjuntura e contexto

A conjuntura do período girava em torno das invasões holandesas no nordeste brasileiro.

Números da Revolta

um dia de duração
400 militares amotinados participantes

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Réus e Condenados

Ações de protesto não-violentas

  • Desobediência
  • Marchas

Repressão

Contenção

  • Negociações e acordos de paz

Punição

  • Demissão/Desligamento de cargos

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

ARAÚJO, Hugo André F. F. Governação em tempo de guerra: Governo geral do Estado do Brasil e a gestão da defesa (1642-1654). Dissertação (Mestrado em História) PPGHIS/UFJF, 2014.

LENK, Wolfgang. Guerra e Pacto Colonial. A Bahia contra o Brasil Holandês (1624-1654). São Paulo, Alameda, 2013.

MAGALHÃES, Pablo A. Iglesias. Equus Rusus: A Igreja Católica e as Guerras Neerlandesas na Bahia (1624-1654). Tese (Doutorado em História). PPGH/UFBA, 2010.

Fontes impressas

MATOS, Gastão de Melo de. Notícias do Têrço da Armada Real (1618-1707). Imprensa da armada, Lisboa, 1932. 48-49

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