Revoltas

Revolta do Sal

Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (1709 – 1720)Vila de Santos

Início / fim

outubro de 1710 / outubro de 1710

Ilustração francesa sobre o monopólio do sal, ou la Gabelle (origem não identificada) - Imagem retirada do site La France Pittoresque, link: https://www.france-pittoresque.com/

200 índios flecheiros e mais uma quantidade de escravos africanos armada desceram a Serra do Mar, em direção a Vila de Santos no final de outubro de 1710. O objetivo da miscigenada tropa, liderada pelo poderoso proprietário Bartolomeu Fernandes de Faria, a quem esses homens estavam submetidos, era se apoderar de toda a carga de sal armazenada na vila e retornar para a sua fazenda em Jacareí. A partir deste episódio o potentado paulista se tornou uma pernona non grata aos olhos da administração régia na capitania de São Paulo. Após ser perseguido por anos a fio, foi preso em 1718 e, já bem idoso, encarcerado em Salvador onde viria a falecer pouco tempo depois, antes de seu julgamento.

Mas o que moveu Bartolomeu Fernandes de Faria a afrontar a autoridade da região? O ethos desafiador dos paulistas? Possivelmente, pois as relações dos habitantes do Planalto com representantes régios sempre foram marcadas por algum tipo de tensão. Ou a causa poderia ser outra, a perspectiva de lucro graças ao alto preço do produto? Talvez esta razão também contasse, pois o sal recolhido no depósito seria redistribuído serra acima para aqueles que necessitavam do produto, item que na Idade Moderna era imprescindível para a conservação de alimentos, sobretudo pescados e carnes e, por isso, muito valioso. No caso da América portuguesa, seu preço ainda era mais salgado por conta de sua comercialização ser controlada pela Coroa desde 1631, sendo o sal um estanco (monopólio) régio, importado de Portugal. Segundo o estanco, ou contrato, a Coroa repassava aos contratadores o direito exclusivo de comercializar certos produtos, sendo estes obrigados a disponibilizar uma determinada quantidade dele aos moradores a um preço estabelecido anteriormente.

Nesse ponto residiam os principais problemas desse sistema. Ávidos por um lucro considerável, muitos contratadores escondiam o artigo, normalmente com o auxílio de pessoas da região, forçando uma alta artificial dos preços. As vilas no alto da serra que integravam a capitania de São Paulo eram dependentes do sal vindo do porto de Santos, principalmente por seu papel de fornecedora de carnes e pescados para outras regiões da colônia. Este é um dos principais motivos do motim encabeçado pelo potentado paulista. O problema agravou-se no início do século XVIII, com o advento da economia mineradora. Se a demanda já era grande, com o afluxo de milhares de pessoas para as minas, consumidoras de charque, bacalhau e outros gêneros conservados no sal, o preço deste último atingiu níveis alarmantes. Logo, começou a faltar sal em todas as praças, de modo a forçar o aumento de seu valor. Lembremos que exatamente um ano depois, em outubro de 1711, a população de Salvador, capital da colônia, também se rebelaria dentre outras coisas pelo aumento em 50% do preço do sal. Definitivamente o sal não era só um pretexto para os paulistas se indisporem com as autoridades régias.

(Fernando Pitanga, doutorando do PPGH da UFF e colaborador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ-CNE/2018-2021)

Números da Revolta

200 índios flecheiros e mais uma quantidade de escravos africanos armada participantes

Outras designações

Motim do Sal em Santos

Tipologia

Modelo de conflito

Grupos Sociais

Soberania

Grupos sociais

Lideranças

Bibliografia Básica

MONTEIRO, John Manuel. Sal, justiça social e autoridade régia: São Paulo no início do século XVIII. Revista Tempo, v. 4, n. 8, 1999.

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