Revoltas

Motim contra o governador Salvador Corrêa de Sá e Benevides

Capitania Real do Rio de Janeiro (1567 – 1821)São Sebastião do Rio de Janeiro

Início / fim

23 de abril de 1642 / 26 de maio de 1642

Na Rússia, em 1648, os protestos contra o imposto sobre o sal, retratados na pintura acima, revelam o mesmo tipo de insatisfação que agitou os moradores do Rio - "Salt riot in Moscow, 1648", pintura de Ernst Lissne (1938)

Uma multidão se reuniu na igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, no dia 23 de abril de 1642. Composta por homens da Câmara, gente dos conventos, prelados e todos os setores sociais da cidade, eles não estavam ali para comemorar ou fazer preces, e sim para protestar contra a criação de uma nova finta. O alvo dos inconformados era o governador Salvador Corrêa de Sá e Benevides, filho e neto de ex-governadores, que estava no cargo desde 1637. A população se recusou a pagar o novo imposto, pois a situação econômica era precária e o gasto era visto como desnecessário. Apesar dos apelos do governador para que houvesse colaboração, o povo manteve sua resistência.

Em meados de abril de 1642, a autoridade máxima da capitania havia lançado uma finta a ser paga pelos moradores para atender ao soldo militar da guarnição, atrasado há pelo menos quatro meses. Como já existia uma taxação específica para o pagamento da infantaria, a reação da população não demorou, negando-se a acatar a nova contribuição no dia 23 de abril, discutindo, reclamando e deliberando em conjunto na igreja da Candelária. Dois dias depois desta tumultuada assembleia na igreja, a Câmara oficiou ao governador que a população não acataria o seu pedido sob a justificativa de que eram tempos difíceis. A cotação do açúcar estava baixa e a mão de obra escrava encontrava-se debilitada por uma epidemia de varíola, por isso não havia recursos em caixa para suportar novas despesas. Também foi contestada a necessidade de tal finta, argumentando-se que a atual guarnição da cidade, cerca de 300 homens, seria muito pequena e por isso, não se fazia necessário aumentar a contribuição para as tropas, às custas de mais tributos sobre a população.

A proposta de Salvador Corrêa de Sá e Benevides fracassou, principalmente devido ao desgaste que sua imagem vinha sofrendo junto às elites locais, que preferiram arriscar que ocorresse um motim militar das tropas sem soldo do que colaborar com o governador na criação de um novo imposto.

Tal desconfiança em relação ao governador junto às elites locais ocorria a despeito dele ter apoiado o recém-aclamado soberano D. João IV em 1640 desde o momento em que recebeu a notícia da Restauração da monarquia portuguesa em fevereiro de 1641 (não sem antes, estrategicamente, consultar os principais da cidade se devia fazê-lo). Afinal, sendo sua mãe e esposa espanholas pesava sobre ele a dúvida a respeito de sua lealdade ao Rei português, impressão favorecida pelo prestígio que tinha junto à Madri, bem como seus interesses no comércio peruleiro, que consistia em negociar escravos, mantimentos, peles com a região argentífera de Potosi, na América espanhola, onde acumulou grande fortuna.

Porém, a despeito de tudo isso, havia uma sensação muito comum à época que, se os holandeses foram capazes de tomar praticamente toda a costa nordestina e invadir Luanda com sucesso naquele 1641 – privando os portugueses do indispensável trato negreiro – o que os impediria de assaltar o Rio de Janeiro? Logo, na perspectiva do governador do Rio de Janeiro, aqueles tempos exigiam, além da atenção com as tropas que estivessem com o soldo atrasado, o reparo e construção de fortificações de modo a garantir a segurança da cidade em caso de investidas estrangeiras. Essa preocupação motivou Salvador Corrêa de Sá e Benevides, no dia 2 de maio, a insistir novamente com a Câmara pela aplicação do imposto. No entanto, o povo já havia tomado sua decisão e, no dia 26 de maio, os camaristas reafirmaram que a cidade não pagaria a finta sob nenhuma circunstância.

Ao fim, para que não ocorresse mais atrasos com os chamados “efeitos da infantaria” – como eram designados os recursos para a defesa militar -, foi criada, ainda em 1642, uma taxação sobre os vinhos vindos de Portugal e da Ilha da Madeira, o Subsídio Grande dos Vinhos, com seu montante exclusivamente reservado para o sustento da guarnição local.

(Eduardo Chu, graduando no curso de História da UFF e pesquisador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021)

(Fernando Pitanga, doutorando do PPGH da UFF e colaborador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ-CNE/2018-2021)

Antecedentes

O já impopular Salvador Corrêa de Sá e Benevides precisava arrecadar dinehiro para a proteção da cidade, mas a população já estava exaurida graças as despesas extras de outras ocasiões.

 

Conjuntura e contexto

Portugal havia acabado de retomar sua independência frente a Espanha em 1640. E ainda sofria com ameaças ás colônias brasileiras, feitas pelas outras ptências. Seus governantes viviam em temor de invasões estrangeiras.

Números da Revolta

1 mês e 3 dias de duração

Grupos sociais

Autoridades

Ações de protesto não-violentas

  • Gritos
  • Ocupação de Ruas/Praças
  • Troca de cartas

Repressão

Contenção

  • Não Houve

Punição

  • Não Houve

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

BOXER, Charles Ralph. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola 1602-1686. São Paulo. Brasiliana, 1973.

COARACY, Vivaldo. O Rio de Janeiro no Século XVII: raízes & trajetória. 3 ed. Rio de Janeiro, Documenta Histórica, 2009.

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