Revoltas

Levante dos Kiriris

Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)Vila de Nova Pombal

Início / fim

julho de 1797 / julho de 1797

Fragmento do mapa de 1828 desenhado e gravado pelo britânico Sidney Hall (1788–1831). Em destaque a vila de Pombal, à época Nova Pombal, onde ocorreu o levante. Disponível em: https://www.historia-brasil.com/mapas/brazil-1828.htm

Corria o ano de 1797 quando a vila de Nova Pombal (atual município de Ribeira do Pombal), no sertão da Bahia, foi sacudida por um levante indígena que atemorizou os portugueses da região e colocou em alerta as autoridades locais, exigindo a intervenção do governador da capitania. Alguns meses depois explodiria um segundo motim, de consequências dramáticas.

A conjuração dos Kiriris, em sua manifestação inicial, ocorreu  em julho daquele ano, tendo como principal objetivo a nomeação do indígena José Félix Cabral, identificado como líder do movimento, para o posto de capitão-mor da vila. Cabral obteve apoio do capitão-mor da vila de Mirandela, Constantino Pereira Ribeiro, reunindo em torno de si um grupo de cerca de 400 indígenas. 

O grupo ingressou na sede da vila de Nova Pombal armado e “a toque de caixa”, isto é, em formação militar, preparado, portanto, para a guerra. O movimento de aclamação de José Felix Cabral como capitão-mor da vila parece ter sido bem sucedido, mas o levante se dispersou após a ida de Cabral para a cidade de Salvador. Na capital, para onde se dirigiu em companhia do juiz ordinário Paulo de Freitas, que o apoiava, o rebelde  tinha a expectativa – segundo uma das versões –  de conseguir que o governador lhe passasse a patente de capitão-mor, confirmando a sua aclamação pelos moradores da vila. 

Ao contrário do que imaginava, em Salvador ele foi preso, vindo a morrer no cárcere. O fato é que a sua retirada para a capital pôs fim à revolta, que seria retomada poucos meses depois.

Para ler o verbete do segundo levante, em outubro do mesmo ano, clique aqui.

(Fabricio Lyrio Santos, Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e autor do artigo “A conjuração dos Kiriris: sublevação indígena e disputa de terras no sertão da Bahia no final do século XVIII (1797-1798)”, Boletim do Museu Goeldi Ciências Humanas, Belém, v. 19, n. 1, 2024)

Antecedentes

Governo de D. José I (1750-1777), com destaque para a atuação do Marquês de Pombal, e para as reformas que buscaram fortalecer o controle da Coroa portuguesa sobre o Brasil. A Lei de Liberdade dos Índios do Maranhão (1755) proibiu a escravização indígena, mas impôs sua integração forçada ao trabalho colonial. Em 1757, o Diretório dos Índios regulamentou essa política, buscando assimilar os indígenas à cultura europeia e reduzir a influência da Igreja em suas comunidades. Nessa direção em, 1759, D. José I determinou a expulsão dos jesuítas, confiscando seus bens e desmantelando suas missões, o que conferiu plenamente ao Estado a administração indígena.

 

Conjuntura e contexto

A ocupação das terras demarcadas em favor das comunidades indígenas na colônia se intensificou na segunda metade do século XVIII, incentivada pela legislação que visava “integrar” e “civilizar” os habitantes nativos mediante a miscigenação e a interação com os colonos portugueses. As mudanças trazidas pela legislação proporcionaram maior autonomia frente à sociedade colonial, mas também favoreceram a dispersão e a desarticulação de algumas comunidades. Ao mesmo tempo, os territórios que haviam sido destinados aos aldeamentos foram alvo do interesse econômico regional, impulsionado pelo crescimento do setor agropecuário no período.

 

Números da Revolta

1 dia de duração
400 participantes

Outras designações

Conjuração dos Kiriris

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto não-violentas

  • Aclamação de autoridades
  • Marchas
  • Ocupação de Ruas/Praças
  • Palavras de Ordem

Ações de protesto violentas

  • Invasão de propriedade
  • Tiros

Repressão

Contenção

  • Envio de autoridade

Punição

  • Prisão

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania
  • Juiz Ordinário

Bibliografia Básica

DANTAS, Beatriz G.; SAMPAIO, José Augusto L.; CARVALHO, Maria Rosário. Os povos indígenas no Nordeste brasileiro: um esboço histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 431-456.

ROCHA, Rafael Ale. Os oficiais índios na Amazônia pombalina. Sociedade, hierarquia e resistência (1751-1798). Curitiba: CRV, 2022.

SANTOS, Fabricio Lyrio. Da catequese à civilização: colonização e povos indígenas no Brasil. 2ª ed. rev. e ampl. Salvador: Sagga, 2024.

Fontes impressas

Directorio, que se deve observar nas Povoaçoens dos Indios do Pará, e Maranhaõ, em quanto Sua Magestade naõ mandar o contrario. Lisboa: Oficina de Miguel Rodrigues, 1758.

Arquivos e fontes manuscritas

Fonte Primária

Traslado de sumário de culpa – 1798, Bahia. Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção Colonial e Provincial, Série: Justiça, Ouvidoria e Provedoria Geral, Maço 570.

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Como Citar

Sem Nome, "Levante dos Kiriris". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/levante-dos-kiriris/. Publicado em: 20 de março de 2025.