Revoltas

Conjuração e deposição do governador “Xumbergas”

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Olinda

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31 de agosto de 1666 / 31 de agosto de 1666

Foto da Igreja de São Pedro Mártir em Olinda

Pode-se dizer que o dito popular “agosto é o mês do desgosto”, por pouco não se aplicou ao governador de Pernambuco Jerônimo de Mendonça Furtado. No entardecer de 31 de agosto de 1666 o desgosto lhe alcançou na rua de São Bento, em Olinda, na forma de uma voz de prisão proferida pela boca do juiz ordinário da Câmara da localidade. Terminavam ali dois anos de um governo por demais atribulado, em que o agora prisioneiro governador conseguiu provocar o descontentamento de variados setores da sociedade pernambucana, especialmente dos proprietários de terras e escravos, a açucarocracia, na acepção consagrada por Evaldo Cabral de Mello.

A prisão do governador se deu por meio de um estratégia pueril, porém ardilosa. Mancomunado com os oficiais da Câmara, o padre da igreja de São Pedro Mártir, em Olinda, dirigiu-se para uma residência para dar a extrema-unção ao seu morador. Era hábito à época em que nessas situações as pessoas acompanhassem o prelado na ida e volta da missão eclesiástica. Jerônimo Furtado não se furtou a obedecer o protocolo. Mas ao retornar para a igreja e ver-se cercado pelos principais do lugar com uma postura nada amigável, percebeu que caíra numa cilada. Era o fim de seu governo.

Filho de um dos homens que apoiaram D. João IV na tomada do poder em 1640 e se destacando em batalhas da Guerra de Restauração (1641-1668), Jerônimo de Mendonça Furtado ou “ Xumbergas”, como era conhecido por causa da moda dos bigodes em tufos, introduzida em Portugal pelo conde de Shomberg, foi nomeado para o governo de Pernambuco em 1664. Fazia uma década que os holandeses haviam sido definitivamente expulsos do nordeste, com os esforços primordialmente locais, o que fez crescer bastante o prestígio dos principais da terra, que atribuíam que a soberania portuguesa nessa região só teria se mantido graças aos seus esforços de “sangue, vidas e fazendas” dos luso-brasileiros.

Dessa forma, a chegada de um governante que não reconhecia a primazia dos homens bons da capitania que representavam os senhores de engenho de Pernambuco, que não respeitava hierarquias, favorecendo aliados em detrimento dos grupos tradicionais e prendendo os que se opunham a ele, acirrava muito os ânimos. Além disso era acusado de mercadejar clandestinamente com os franceses, de subtrair o montante arrecadado para donativos régios e, crime previsto nas Ordenações do Reino, de cunhar moedas falsas. A esse vasto repertório de inimizades e dissensões, some-se a inimizade, ou pelo menos, falta de sintonia com o vice-rei Conde de Óbidos, governador geral do Brasil (1663-1667), teve como uma de suas principais missões frear a autonomia de muitos governadores, de certa forma estimulada pela delicada conjuntura em que o reino se encontrava desde a Restauração. O Xumbergas em Pernambuco não tomou conhecimento do vice-rei na Bahia e continuou a governar conforme suas convicções.

Não surpreende que a cabala contra o Xumbergas no crepúsculo daquele agosto de 1666 tivesse a anuência velada do Conde de Óbidos. Pernambuco, terra do açúcar, ainda soaria amarga para outros que viriam governar a capitania num futuro não tão distante.

(Fernando Pitanga, doutorando do PPGH da UFF e colaborador do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ-CNE/2018-2021)

Números da Revolta

1 dia de duração

Outras designações

Conjuração do Nosso Pai

Revolta contra Jerônimo de Mendonça Furtado

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Ações de protesto violentas

  • Prisão de autoridade

Repressão

Contenção

  • Demissão/Desligamento de cargos

Punição

  • Não informadas

Instâncias Administrativas

  • Governador Geral

Bibliografia Básica

GARCIA, Rodolpho. Deposição de Jeronimo de Mendonça Furtado, governador de Pernambuco – ano de 1666. In: ____. Escritos Avulsos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão de Publicações e Divulgação, 1973. p. 51-62.

MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos – nobres contra mascates: Pernambuco 1666-1715. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 19-50.

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