Representação do Negro Cosme em imagem de capa da HQ Balaiada - A Guerra do Maranhão. Arte por Marcos Caldas, 2008.
Cosme Bento das Chagas, conhecido popularmente como Negro Cosme, nascido no início do século XIX na capitania do Ceará, tornou-se o principal líder da Balaiada, uma das mais relevantes revoltas ocorridas entre 1838-1841 no período Regencial, na região de Caxias, no Maranhão.
Tendo conquistado sua alforria ao final da década de 1820, migra para a província do Maranhão, onde foi preso em 1830 em São Luís pelo homicídio de Francisco Raimundo Ribeiro. Logo depois se refugia em quilombos próximos na região de São Luís, passando a ser conhecido em 1839 por incidentes provocados na Vila de Itapicuru-Mirim.
No momento em que a Balaiada explode Negro Cosme encontrava-se novamente preso, dessa vez em Codó – município do Maranhão, fugindo mais uma vez em outubro de 1839.
Pouco tempo depois, viria a liderar escravizados de diferentes fazendas próximas ao Rio Itapecuru, momento em que adota o título de “Dom Cosme Bento das Chagas, Tutor e Imperador da Liberdade Bem-Te-Vi” (os liberais eram chamados de Bem-Te-Vis), ocasião em que fundou aquele que é considerado o maior quilombo da história do Maranhão, na fazenda Tocanguira. Lá, teria tentado organizar uma escola para a alfabetização dos escravizados.
O rebelde que se apresentava como “defensor da liberdade”, chegou a reunir mais de três mil escravizados e quilombolas para atuarem na luta travada no interior da província do Maranhão, e também do Piauí, que chamou de “guerra da lei da liberdade republicana”, tornando-se um grande líder e obstáculo para as forças oficiais.
A Balaiada (1838-1841), conflito entre liberais (bem-te-vis) e conservadores do Norte (cabanos) e os balaios que representavam as camadas mais pobres, foi uma reação dos menos favorecidos contra os grandes donos de escravos que faziam parte do governo, agravada pela crise econômica.
A partir de 1840 com a anistia aos rebeldes participantes decretada por D. Pedro II, a revolta perdeu força. Poucos meses depois, em fevereiro de 1841, Cosme foi capturado após uma sangrenta batalha em Calabouço – município de Mearim, na província do Maranhão. A revolta foi sufocada e dada como terminada após sua prisão. O processo jurídico do rebelde foi aberto e correu por mais de um ano até que seu julgamento fosse realizado em 5 de abril de 1842, sendo condenado à forca por ter liderado a sedição e lutar pela liberdade dos cativos. Seu enforcamento em praça pública ocorreu em setembro de 1842, entre os dias 19 e 25, em Itapecuru-Mirim.
Cosme Bento foi o único líder a ser enforcado, atitude que visava tomá-lo como exemplo para que outros negros libertos e escravizados não se rebelassem ou lutassem pela liberdades de seus iguais. Já outras lideranças, como Manuel Francisco, morreu em combate, e Raimundo Gomes, foi preso.
Com o decorrer dos anos, a tradição e a memória da Balaiada foram reivindicadas e assumiram diferentes significados de acordo com quem a evocava. O Sitio do Centro de Cultura Negra do Maranhão, divulgou o texto de Magno José Cruz em literatura de cordel intitulado “A epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos” onde se referia a Negro Cosme como um líder libertador:
A Província naquela época / Tinha problemas sociais / Sofriam caboclos e negros / Com os preconceitos raciais / Fome, “pega”, desemprego / Tudo consta nos anais. Esses negros organizados / Chamados de quilombolas / Viram na Balaiada / Que era chegada a hora / Da liberdade sonhada / Renascer naquela aurora. Cosme Bento das Chagas / Logo então se destacou / E lá de Lagoa Amarela / Três mil negros libertou / E com tal valentia cega / A Balaiada engrossou.
Por acreditar que o enforcamento do lider rebelde ocorreu no dia 17 de setembro e a fim de fortalecer o sentimento de pertencimento da população negra ao Maranhão, em 2016 foi sancionada a lei nº 10.524/2016 pelo governador Flávio Dino, tornando o dia 17 de setembro o “Dia de Negro Cosme”. Além dessa iniciativa, foi construída a Praça Negro Cosme como um espaço de cultura, lazer e interação social, localizada no bairro Fé em Deus, em São Luís – Maranhão, e o Centro de Cultura Negra – Negro Cosme (CCNN), em Imperatriz, instituição sem fins lucrativos que busca promover a consciência e cidadania negras.
(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)
Fontes de referência para este texto:
LUZ, Gerlândia da. A Revolta da Balaiada no Maranhão. Artigo apresentado à Coordenação do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas como pré-requisito para obtenção do Grau de Licenciada Ciências Humanas com Habilitação em História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pinheiro – MA. 2016
SILVA, Raimundo Assis da. Escravidão e Liberdade: Batismos de livres filhos de cativas entre 1871 e 1876 na Matriz de Santa Rita e Santa Filomena de Codó/MA. 49f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018.
Sem Nome, "Negro Cosme". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/negro-cosme/. Publicado em: 06 de outubro de 2023.
Tem como enviar para mim em pdf?
Mundinha Araújo tem livro publicado aqui em São Luis MA sobre Negro Cosme, este ilustre maranhense que liderou um revolução contra a opressão, a miséria, fome existente, tal qual hoje no Estado do Maranhão
Nosso grande ídolo da nossa raça negra pura do nosso Maranhão
Olá gostei muito de ler, essa história que nos traz uma memória da luta de várias pessoas mais prá tem um sentimento que vai além de tudo nessa linda e magnífica obra que é a grande coragem e bravura de Negro Cosme com um sentimento de pertencimento eu enquanto Liderança Quilombola que eu sou o tenho como Referência.
Quero muito comprar um livro desse como faço para comprar?
Isso explica porque as elites e os reacionários tem uma ojeriza imensurável pelo Nordeste e seu intrépido povo. Foram por conta de lideres proeminentes como Nego Cosme, Dragão do Mar, Francisco Sabino entre outros que lutaram por liberdade e justiça contra estes exploradores que fez com que aumentasse o ódio desta classe pelo legado deixado por estes combatentes nordestinos.