Rebeldes / Personalidade

Negro Cosme

  • Província do Maranhão (1821-1889)

Biografia

Cosme Bento das Chagas, conhecido popularmente como Negro Cosme, nascido no início do século XIX na capitania do Ceará, tornou-se o principal líder da Balaiada, uma das mais relevantes revoltas ocorridas entre 1838-1841 no período Regencial, na região de Caxias, no Maranhão. 

Tendo conquistado sua alforria ao final da década de 1820, migra para a província do Maranhão, onde foi preso em 1830 em São Luís pelo homicídio de Francisco Raimundo Ribeiro. Logo depois se refugia em quilombos próximos na região de São Luís, passando a ser conhecido em 1839 por incidentes provocados na Vila de Itapicuru-Mirim. 

No momento em que a Balaiada explode Negro Cosme encontrava-se novamente preso, dessa vez em Codó – município do Maranhão, fugindo mais uma vez em outubro de 1839.

Pouco tempo depois, viria a liderar escravizados de diferentes fazendas próximas ao Rio Itapecuru, momento em que adota o título de “Dom Cosme Bento das Chagas, Tutor e Imperador da Liberdade Bem-Te-Vi” (os liberais eram chamados de Bem-Te-Vis), ocasião em que fundou aquele que é considerado o maior quilombo da história do Maranhão, na fazenda Tocanguira. Lá, teria tentado organizar uma escola para a alfabetização dos escravizados. 

O rebelde que se apresentava como “defensor da liberdade”, chegou a reunir mais de três mil escravizados e quilombolas para atuarem na luta travada no interior da província do Maranhão, e também do Piauí, que chamou de “guerra da lei da liberdade republicana”, tornando-se um grande líder e obstáculo para as forças oficiais. 

A Balaiada (1838-1841), conflito entre liberais (bem-te-vis) e conservadores do Norte (cabanos) e os balaios que representavam as camadas mais pobres, foi uma reação dos menos favorecidos contra os grandes donos de escravos que faziam parte do governo, agravada pela crise econômica. 

A partir de 1840 com a anistia aos rebeldes participantes decretada por D. Pedro II, a revolta perdeu força. Poucos meses depois, em fevereiro de 1841, Cosme foi capturado após uma sangrenta batalha em Calabouço – município de Mearim, na província do Maranhão. A revolta foi sufocada e dada como terminada após sua prisão. O processo jurídico do rebelde foi aberto e correu por mais de um ano até que seu julgamento fosse realizado em 5 de abril de 1842, sendo condenado à forca por ter liderado a sedição e lutar pela liberdade dos cativos. Seu enforcamento em praça pública ocorreu em setembro de 1842, entre os dias 19 e 25, em Itapecuru-Mirim.  

Cosme Bento foi o único líder a ser enforcado, atitude que visava tomá-lo como exemplo para que outros negros libertos e escravizados não se rebelassem ou lutassem pela liberdades de seus iguais. Já outras lideranças, como Manuel Francisco, morreu  em combate, e Raimundo Gomes, foi preso. 

Com o decorrer dos anos, a tradição e a memória da Balaiada foram reivindicadas e assumiram diferentes significados de acordo com quem a evocava. O Sitio do Centro de Cultura Negra do Maranhão, divulgou o texto de Magno José Cruz em literatura de cordel intitulado “A epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos” onde se referia a Negro Cosme como um líder libertador: 

A Província naquela época / Tinha problemas sociais / Sofriam caboclos e negros / Com os preconceitos raciais / Fome, “pega”, desemprego / Tudo consta nos anais. Esses negros organizados / Chamados de quilombolas / Viram na Balaiada / Que era chegada a hora / Da liberdade sonhada / Renascer naquela aurora. Cosme Bento das Chagas / Logo então se destacou / E lá de Lagoa Amarela / Três mil negros libertou / E com tal valentia cega / A Balaiada engrossou. 

Por acreditar que o enforcamento do lider rebelde ocorreu no dia 17 de setembro  e a fim de fortalecer o sentimento de pertencimento da população negra ao Maranhão, em 2016 foi sancionada a lei nº 10.524/2016 pelo governador Flávio Dino, tornando o dia 17 de setembro o  “Dia de Negro Cosme”. Além dessa iniciativa, foi construída a Praça Negro Cosme como um espaço de cultura, lazer e interação social, localizada no bairro Fé em Deus, em São Luís – Maranhão, e o Centro de Cultura Negra – Negro Cosme (CCNN), em Imperatriz, instituição sem fins lucrativos que busca promover a consciência e cidadania negras.

 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

 

Fontes de referência para este texto: 

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Cosme Bento das Chagas. African American Studies Center, [S.L.], 1 jun. 2016,  p. 1-2.

JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Balaiada: construção da memória histórica. História (São Paulo), [S.L.], v. 24, n. 1, 2005, p. 41-76.

LUZ, Gerlândia da. A Revolta da Balaiada no Maranhão. Artigo apresentado à Coordenação do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas como pré-requisito para obtenção do Grau de Licenciada Ciências Humanas com Habilitação em História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pinheiro – MA. 2016

SILVA, Raimundo Assis da. Escravidão e Liberdade: Batismos de livres filhos de cativas entre 1871 e 1876 na Matriz de Santa Rita e Santa Filomena de Codó/MA. 49f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018. 

Nascimento

1801Data atribuída
Província do Maranhão (1821-1889)

Revolta

Comentários

  1. José Carlos Ferreira disse:

    Tem como enviar para mim em pdf?

  2. kleber disse:

    Mundinha Araújo tem livro publicado aqui em São Luis MA sobre Negro Cosme, este ilustre maranhense que liderou um revolução contra a opressão, a miséria, fome existente, tal qual hoje no Estado do Maranhão

  3. Adalberto Alves Silveira disse:

    Nosso grande ídolo da nossa raça negra pura do nosso Maranhão

  4. Francisco Carlos da Silva disse:

    Olá gostei muito de ler, essa história que nos traz uma memória da luta de várias pessoas mais prá tem um sentimento que vai além de tudo nessa linda e magnífica obra que é a grande coragem e bravura de Negro Cosme com um sentimento de pertencimento eu enquanto Liderança Quilombola que eu sou o tenho como Referência.

  5. Francisco Carlos da Silva disse:

    Quero muito comprar um livro desse como faço para comprar?

  6. Silvio Marcio Oliveira disse:

    Isso explica porque as elites e os reacionários tem uma ojeriza imensurável pelo Nordeste e seu intrépido povo. Foram por conta de lideres proeminentes como Nego Cosme, Dragão do Mar, Francisco Sabino entre outros que lutaram por liberdade e justiça contra estes exploradores que fez com que aumentasse o ódio desta classe pelo legado deixado por estes combatentes nordestinos.

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Como Citar

Sem Nome, "Negro Cosme". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/negro-cosme/. Publicado em: 06 de outubro de 2023.

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