Rebeldes / Personalidade

Maria Felipa de Oliveira

  • Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)

Biografia

Maria Felipa de Oliveira, de origem ainda incerta, é descrita pelo imaginário popular como alta e corpulenta, e com saias rodadas, chinelas e turbante, teria se aproveitado dessas vestes para esconder armas, principalmente facas utilizadas em seu trabalho como marisqueira, pescadora e ganhadeira. 

Apesar da grande notoriedade da personagem e da memória coletiva construída através da história oral, na Ilha de Itaparica – província da Bahia, onde nasceu e cresceu,  são desconhecidas referências nas fontes sobre ela. 

Mesmo assim ficou conhecida por sua liderança de um grupo de cerca de 40 mulheres na resistência contra os portugueses nas guerras de independência na Bahia, período em que deveria ter entre 23 e 24 anos de idade, Maria Felipa ocupa um lugar fundamental para a vitória dos seus, dominando táticas obtidas com seu trabalho de marisqueira e conhecendo as terras, mangues e rios. Juntamente a essas mulheres, patrulhava dia e noite as praias e barcos do brigadeiro e governador das armas Inácio Luís Madeira de Melo que se aproximavam

Chamadas de “vedetas”, (pessoas que se destacam em determinada área), esse grupo de mulheres eram também pescadoras, acostumadas a navegar pelos rios e conduzirem os barcos elas mesmas. Enfeitadas com flores e folhas da planta cansanção, que produz coceira e queimaduras intensas, as rebeldes teriam “seduzido” os soldados portugueses para surrá-los e os deter, evitando a tomada do território e queimando seus barcos, como a Canhoneira Dez de Fevereiro, em 1 de outubro de 1822; e a Barca Constituição, em 12 de outubro de 1822, nas praias de Manguinhos e do Convento, ação que teria sido decisiva para impedir que a região do Recôncavo fosse tomada pelas tropas portuguesas comandadas pelo general Pedro Labatut.

Os confrontos pela independência na Bahia tiveram seu desfecho em julho de 1823, e apesar de não se saber como Maria Felipa viveu após esse período, acredita-se que tenha vindo a falecer por volta de janeiro de 1873.  

Maria Felipa e as outras 40 mulheres, que não são exceções ou acaso, foram cruciais nas guerras pela independência na Bahia. Apesar do esquecimento dessas rebeldes pela história oficial, se tem construído uma representação popular a partir da memória coletiva que precisa ser tomada com cuidado. Na memória dos moradores da ilha de Itaparica, a rebelde surpreendia seus inimigos portugueses com golpes de capoeira. 

Na importante pesquisa do historiador Hendrik Kraay, se tem menção em carta do cônsul-geral britânico Henry Chamberlain para Canning em fevereiro de 1823,  às mulheres de Itaparica, que teriam se juntado aos homens para proteger a ilha das investidas dos portugueses. Assim confirmando a crucial participação feminina nas guerras de independência na Bahia. 

Como forma de homenagear a líder rebelde e resgatar sua memória, A Casa de Maria Felipa foi fundada em 20 de fevereiro de 2004 e inaugurada em 17 de dezembro de 2005, em Salvador – Bahia. No local, proposto para ser um centro de visitação, são realizadas exposições de materiais pesquisados sobre a heroína negra e de outras personalidades afro. Galeria de arte e oficinas culturais também fazem parte do projeto. 

Maria Felipa foi também homenageada no bloco de carnaval Afoxé Filhos de Nanâ, composta por uma ala formada por 40 mulheres, referência às “vedetas”. A Escola Afro-brasileira Maria Felipa, é também uma iniciativa surgida em 2017 e inaugurada em 2019, com o objetivo de valorizar as constituições ancestrais a partir de um projeto histórico decolonial. 

Enfim, em julho de 2018, através da Lei 13.697/2028, o nome de Maria Felipa de Oliveira foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, junto a tantos outros.

 

    Retrato falado de Maria Felipa, criado a partir do estudo de fontes e da tradição oral apresentando características físicas gerais. Obra realizada pela desenhista e perita criminal Filomena Orge, em 2004.

 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

 

Fontes de referência para esse texto: 

DAMASCENO, Karine Teixeira. 200 anos da Independência do Brasil na Bahia: Maria Felipa de Oliveira e outras tantas “guerreiras brasileiras”. Revista Angelus Novus, n. 17, 2021. p. 211819-211819.

SILVA, Cidinha da. 200 Anos de independência e suas heroínas: Maria Felipa de Oliveira, uma mulher negra na luta pela Independência na Bahia. Revista do Centro de Pesquisa e Formação, São Paulo, n. 15, dez. 2022,  p. 113-117.

SANTOS, Lucas Borges dos. Maria Felipa de Oliveira. Revista Virtual Resgate da Memória: Dois de Julho, Salvador, ano 1, n. 2, jul. 2014, p. 30-33.

KRAAY, Hendrik. Muralhas da independência e liberdade do Brasil: a participação popular nas lutas políticas (Bahia, 1820-25). In: MALERBA, Jurandir (org.). A Independência Brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Fgv, 2006, p. 320.

Nascimento

1799Data atribuída
Capitania da Bahia de Todos os Santos (1534 – 1821)

Revolta

Revolta dos Periquitos

Comentários

  1. deividsantos disse:

    Será que Maria Filipa foi esquecida como heroína?????? Espero que não! Se for isso vai ser uma revolta muito grande

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Como Citar

Sem Nome, "Maria Felipa de Oliveira". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/maria-felipa-de-oliveira/. Publicado em: 25 de julho de 2023.

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