Rebeldes / Personalidade

Manuel Paes de Andrade

  • Brasil
  • Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)

Biografia

Certa feita, dois homens se encontravam no Paço Real quando o rei João VI adentrou ao recinto. Um deles, o ouvidor José Januário de Carvalho Paes de Andrade, natural de Portugal, apressou-se em beijar a mão do monarca. O segundo homem, pernambucano, era sobrinho do ouvidor e recusou-se a imitar o gesto. O tio repreendeu a descortesia do sobrinho e este respondeu-lhe: “Não beijo a mão de homem como eu, além disso muito porco e repugnante, pois não tira a mão do alçapão das calças”. O ocorrido foi registrado por Pereira da Costa em seu Dicionário biográfico de pernambucanos célebres. O sobrinho que se negou a beijar a mão do rei era Manuel de Carvalho Paes de Andrade, republicano convicto que aderiu aguerridamente à Revolução de 1817 e proclamou a Confederação do Equador em 1824.

Paes de Andrade nasceu no Recife em 21/12/1774(?). Seu pai tinha o mesmo nome, era português e chegou a Pernambuco como secretário do governador José César de Menezes. No Recife, Manuel pai casou-se com a pernambucana Catarina Eugênia Ferreira Maciel Gouvim, filha do português comerciante de escravizados Brás Ferreira Maciel (1700-1779). Manuel filho casou-se duas vezes, a primeira com sua prima Francisca Miguelina Maciel Monteiro, de quem ficou viúvo. A segunda esposa foi a norte-americana Elizabeth Irvans (ou Evans). Tiveram dois filhos e três filhas, sendo elas batizadas como Carolina, Pensilvânia e Filadélfia em homenagem aos EUA. Filadélfia ainda vivia em julho de 1924 e assistiu, no Rio de Janeiro, a uma solenidade comemorativa do centenário da Confederação.

 Por incentivo do tio paterno, Manuel de Carvalho viajou a Portugal, no início do século XIX, para estudar. Os planos foram frustrados pela invasão das tropas napoleônicas em fins de 1807 e ele teve que retornar ao Brasil. Começou então a frequentar os círculos maçônicos sendo introduzido “ao secreto das doutrinas regeneradoras”. Participou de duas lojas maçônicas, as “academias” de Suassuna e do Paraíso.

Quando estourou a Revolução de 6 de março, Manuel de Carvalho não tardou em aderir, participando do conselho criado pelo governo provisório. Testemunhas ressaltaram que seus posicionamentos eram firmes, mas sempre pautados pela prudência e preocupação com a coisa pública. Quando José Luís Mendonça, um dos cinco membros do governo provisório, propôs a reconciliação com o rei João VI, desde que o monarca aceitasse uma ordem constitucional, Manuel de Carvalho protestou veementemente: “República e só República! E morra para sempre a tirania real!” Derrotada a Revolução, ele conseguiu recorrer ao exílio na Inglaterra, e não nos Estados Unidos, como repetidamente se afirma desde o registro equivocado feito pelo padre Dias Martins no livro Mártires Pernambucanos, cuja primeira edição circulou em 1853. A passagem pela república norte-americana deixou importantes marcas no pensamento político de nosso personagem e reforçou suas convicções antimonarquistas.

Em 1821, as Cortes Constitucionais concederam a anistia aos revolucionários de 1817 e Manuel de Carvalho retornou a Pernambuco sendo nomeado intendente da Marinha. Estava em curso o processo que desembocaria na independência do Brasil. Essa fase foi extremamente conturbada em Pernambuco. Após a renúncia de duas juntas de governo e vários levantes armados, em 13/12/1823, Manuel de Carvalho foi eleito como presidente da província, secretariado pelo poeta Natividade Saldanha. No entanto, o imperador já havia nomeado Francisco Paes Barreto como presidente da província e não aceitou a eleição de Carvalho. Pernambuco e o império entraram em rota de colisão e o conflito tinha dois eixos: a imposição pelo imperador de um presidente de província rejeitado por parte da elite local e a exigência do monarca do reconhecimento de uma carta constitucional redigida sob sua orientação, e que impunha o abjeto Poder Moderador. Em 02/07/1824, veio a ruptura: proclamou-se no Recife a Confederação do Equador, uma proposta de Estado-Nação constitucional e republicano que convocava todos os brasileiros, de norte a sul, que desejassem aderir. Entre as primeiras medidas do governo republicano estava a proibição do tráfico de escravizados.

A reação do império foi rápida e brutal. Os esforços de Carvalho não foram suficientes para manter a coesão dos confederados. Em 17/09/1824, o Recife foi subjugado. Manuel de Carvalho mais uma vez recorreu ao exílio, dessa vez na Inglaterra, de onde só voltaria após a abdicação de Pedro I em 1831. O Recife festejou alegremente o seu retorno. Foi eleito senador pela província da Paraíba e, em seguida, nomeado para a presidência de Pernambuco pelo governo regencial (11/01/1834). Em sua gestão teve que lidar com dois conflitos civis na província: a Guerra dos Cabanos (1832-1835) e os levantes conhecidos como as Carneiradas (1834-1835). A partir de 1835, assumiu definitivamente sua cadeira no Senado. Em 1840, instado pelo senador Holanda Cavalcanti, apoiou o Golpe da Maioridade, que antecipou a entrega do cetro imperial a Pedro II, com a consequente reativação do Poder Moderador e o encerramento do conturbado período regencial. Republicano convicto, mas temperado pela realidade da vida política, teria declarado na ocasião: “tenho entrado em revoluções para derrubar, mas não para levantar reis. Assim o querem, eu os acompanho, mas talvez tenham de arrepender-se”. Manuel de Carvalho Paes de Andrade faleceu no Rio de Janeiro em 18/06/1855.

 

(George Cabral, Doutor em História pela Universidade de Salamanca. Professor da UFPE.  Membro efetivo do IAHGP e da APL.)

 

Este texto foi originalmente publicado no Jornal do Comércio (PE), em 01/06/2024. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/opiniao/artigo/2024/06/01/confederados-manuel-de-carvalho-paes-de-andrade.html

Nascimento

21/12/1774Data atribuída

Morte

18/06/1855
Brasil Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)

Revolta

Confederação do Equador

Revolução Pernambucana de 1817

Origem Étnica

Condição Social

Profissão/Ocupação

Comentários

  1. Arnaldo dos Reis Santos disse:

    Bem, não seria um comentário mas sim uma pergunta. Na cidade de São Paulo – SP há uma rua no bairro da Aclimação com o nome de Pães de Andrade. Seria em homenagem ao personagem a que se refere o artigo?

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Como Citar

Sem Nome, "Manuel Paes de Andrade". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/manoel-de-carvalho/. Publicado em: 23 de julho de 2024.

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