Rebeldes / Personalidade

João Mulungu

  • Capitania de Sergipe del-Rei (1590 – 1821)

Biografia

João Mulungu, nascido em meados da década de 1840, no Engenho de Piedade, em Itabaiana – Sergipe, tornou-se um dos principais nomes da luta e da resistência contra a escravidão. Separado ainda criança de sua irmã, que permaneceu em Piedade, e de sua mãe, que foi vendida para o Engenho de Quidongá, João foi enviado para o Engenho Mulungu, na cidade de Laranjeiras, no Vale do Cotinguiba, importante região açucareira. Conflagrações e resistências de escravizados marcavam a região pelo menos desde 1809, com protestos de escravizados em Cotinguiba.  O contato mantido com sua mãe e outros parentes, mesmo em engenhos diferentes, viabilizou possíveis abrigos, além de sua manutenção como quilombola. 

Tendo deixado o Engenho de Mulungu por volta de 1868, João teria se refugiado no quilombo de São José, em Rosário do Catete, de onde, após algum tempo, teria que partir. A razão eram os ataques policiais sofridos nas matas desta região, passando a abrigar-se, juntamente com outros, no quilombo do Facão, nas matas do Engenho Jurema, próximo ao Capim Assú. A habilidade desenvolvida por essas “comunidades volantes” de mover-se de um quilombo para outro, foi o que possibilitou durante anos a sobrevivência de João Mulungu e da comunidade quilombola por ele comandada, estabelecendo relações com indivíduos de todas as camadas sociais, e não apenas com aquilombados, favorecido por uma vasta rede de apoio e proteção. 

Mulungu abrigou-se em diversas regiões, buscando sempre os entornos das matas do Engenho Limeira, onde possuía a maior rede de colaboradores, além dos arredores do Engenho Quindongá, onde sua mãe vivia. 

As investidas policiais contra os quilombos e, principalmente, para capturar João Mulungu intensificaram-se a partir de 1870, em razão da sua liderança que se tornava cada vez mais conhecida. Rumores sobre o local em que Mulungu estava refugiado, sobre o contato que fazia com seus parentes de outros engenhos e informações retiradas de aquilombados capturados moviam as ações comandadas pelos delegados, que chegavam cada vez mais perto de sua captura. 

Após alguns anos, já em janeiro de 1876, o então Capitão João Batista voltaria a acusar Mulungu pelos roubos e crimes ocorridos no Vale do Cotinguiba, nordeste de Sergipe Del Rey, obtendo permissão do chefe de polícia de Sergipe para seguir até a Vila de Divina Pastora, juntamente com seus homens, para tentar capturar o líder quilombola. Em 15 de janeiro as buscas se iniciaram e, quatro dias depois, com informações trazidas em carta  por um escravizado chamado Seberino, um cerco foi armado. Após horas de espera e um plano traçado, o quilombola foi surpreendido no Engenho Flor do Roda, onde descansava com um dos seus companheiros, que se rendeu. Na tentativa de fuga, Mulungu foi perseguido e atingido na cabeça com um golpe e levado a seguir para a Igreja Matriz da Vila de Divina Pastora, onde respondeu a perguntas do juiz municipal. 

Contando meses de sua captura, o líder quilombola seria conduzido de volta ao Vale do Cotinguiba, onde responderia pelos crimes dos quais era acusado e receberia sua pena. Não se sabe ao certo qual foi ela mas supõe-se que recebeu mais de 800 açoites e foi obrigado a usar por alguns anos argolas de ferro presa aos pés e à cintura, executando trabalhos obrigatórios.

A última referência documentada acerca de Mulungu situa-se em setembro de 1876, meses após sua prisão, quando teria sido levado para Aracaju, Sergipe, a fim de cumprir o restante de sua pena. 

Mesmo com poucas informações sobre a vida (e a morte) do líder quilombola, ele passou a ser valorizado em uma tentativa de ressignificação de sua memória como um herói para a comunidade preta sergipana. Em 1o. de agosto de 1990, Antônio Carlos Leite Franco, o então prefeito da cidade de Laranjeiras, submeteu à Câmara dos Vereadores o Projeto de Lei n.407, responsável por tornar João Mulungu “herói negro” e importante na luta contra a escravidão em Sergipe. Além disso, transformou o dia 19 de janeiro, data de sua captura, no Dia Municipal da Consciência Negra Laranjeirense. O projeto foi sancionado e aprovado em 8 de agosto. 

Já em janeiro de 2015, o Museu da Gente Sergipana, em Aracaju-SE, homenageou João Mulungu, visto como um dos maiores líderes quilombolas do século XIX, promovendo rodas de capoeira e atividades de mediação cultural. 

 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

 

Fontes de Referência para esse texto:

DOMINGUES, Petrônio. JOÃO MULUNGU: a invenção de um herói afro-brasileiro. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 63, n. 2, 2016.  p. 211-255.

OLIVEIRA, Igor Fonsêca. João Mulungu: o mais audaz, o chefe dos escravos fugidos de sergipe del rey. Afro-Ásia, Salvador, n. 66, 2022. p. 240-272.

Nascimento

1845Data atribuída
Capitania de Sergipe del-Rei (1590 – 1821)

Revolta

Origem Étnica

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