Francisca Mina, africana escravizada que viveu em Vila Rica (hoje Ouro Preto), foi traficada para o Brasil provavelmente no início do século XVIII. A Costa da Mina (atuais Benin, Togo e sudoeste da Nigéria) – de onde deriva seu sobrenome – era a zona que então fornecia a maioria dos cativos e cativas que sustentavam a economia colonial, principalmente Minas Gerais, em franca expansão com a economia mineradora. Francisca deve ter passado pela Bahia, ou Pernambuco, locais em que então eram desembarcadas a maioria das pessoas traficadas para Minas Gerais nessa época.

Há poucos registros sobre sua vida. Os raros indícios nas fontes mostram que ela era uma das cativas do português Filipe dos Santos Freire que liderou a revolta de Vila Rica em 1720, quando os moradores se levantaram contra as reformas na arrecadação do quinto do ouro, provocando semanas de conflitos na capitania de São Paulo e Minas do Ouro. 

Apesar da condição de escravizada, Francisca Mina viveu “portas adentro” com Filipe dos Santos e dispunha de  boas roupas, como saias de seda, casaca de veludo, meias, e partilhava de uma vida doméstica na casa situada em Antônio Dias, um dos melhores bairros de Vila Rica. As roupas que o casal usava indica preocupação com a aparência pública que, somada às posses e a alfabetização de Filipe, sugere ainda planos de ascensão social.

Na Revolta, Francisca Mina, parece ter possuído importante papel na formação da aliança entre escravizados africanos de origem “mina” com os rebeldes portugueses do reino, e luso-brasileiros insatisfeitos na região. Nas Américas, os povos africanos costumavam manter e cultivar laços de solidariedade com os grupos de procedência. Mesmo com esses esforços em sua ação ativa ao lado do seu companheiro para unir escravizados à rebelião, Filipe dos Santos seria preso em Cachoeira do Campo, no dia 17 de julho, ao lado de cerca de 40 escravizados armados e leais. 

O casal teria um destino dramático. Filipe seria executado dois dias depois, após um julgamento sumário. Francisca Mina foi confiscada, junto aos outros bens do rebelde, como escravizados, casa, roupas, utensílios e crédito na praça.

Para saldar as dívidas do processo e restituir à viúva de Filipe dos Santos, Francisca é colocada à venda junto com outros escravizados e bens imóveis. Em novembro de 1721, o leiloeiro percorre as ruas de Vila Rica anunciando a “escrava Francisca Mina”. No mesmo dia ela foi arrematada pelo lance de cento e sessenta e uma oitavas de ouro, pago à vista por Antonio Lopes de Leão. Alguns anos depois ele viria a ser contratador de dízimos, indicando sua boa condição financeira.

A partir daí, perde-se a pista de Francisca Mina. Ao menos por enquanto.

Como uma maneira de homenagear as mulheres escravizadas africanas de Ouro Preto, em maio de 2023 a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia da prefeitura de Ouro Preto implantou o projeto de Hub de Inovação e Tecnologia: “Francisca Mina”.

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

Fonte de referência para esse texto: 

FIGUEIREDO, Luciano. Filipe dos Santos e Chica Mina. O garimpeiro português e a escravizada africana de Vila Rica que levantaram as Minas Gerais em 1720. In: Cunha, Mafalda Soares da (org.). Resistências. Insubmissão e Revolta no Império Português, Alfragide: Casa das Letras, 2021.  p. 232-237.