Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. AHU_CARTm_005, D. 0982
Representação cartográfica do Quilombo do Buraco do Tatu, localizado em Itapuã, Salvador, Bahia. O mocambo foi fundado em 1743, tendo permanecido até 1763, quando foi destruído por um uma expedição militar que o atacou em 2 de setembro. Desenho indica que o quilombo era organizado com casas divididas por uma rua central, além de ser engenhosamente protegido por uma extensa rede defensiva e três lados do povoado eram protegidos por um labirinto de estacas pontiagudas escondidas no chão que dificultavam a invasão de intrusos. Os quilombolas resistiram, porém não detinham poderio bélico suficiente. A invasão resultou na morte de quatro quilombolas e prisão de sessenta deles, com castigos violentos contra as lideranças. A preparação antecipada do ataque, comandado pelo capitão-mor Joaquim da Costa Cardozo, proporcionou essa representação da invasão, criando uma das poucas plantas que revelam a organização espacial de um quilombo brasileiro. O mapa inclui representação de figuras humanas, o que é bem raro.
Na legenda descreve-se um drama humano, como afirmou João José Reis, a resistência e a morte de quatro figuras, como a feiticeira, o preto que atira, o que é atingido por uma granada e a lavadeira, representando a destruição de toda a comunidade.
“Que a 2 de setembro de 1763 foi atacado pelo Capitão-mor da Conquista do Gentio Bárbaro Joaquim da Costa Cardozo”.
“A letra A [indicada na legenda] Estrada falsa coberta de estrepes que mostrava a entrada, a letra D fojos cobertos e dentro estrepes"
“ O preto que chegou a dar um tiro, e foi morto”.
“ Uma preta velhíssima que se matou que diziam que era feiticeira”.
“Um preto que uma granada lhe quebrou as pernas, e se matou”
"B as casas do Arraial chamado seu Povo"
" Q a latada de maracujá, as hortas."
"[...] os fojos, sendo estes uns buracos largos da altura de cinco palmos guarnecidos por dentro de paus de pontas."
Ilustração de relatório de militares que atuaram na destruição dos refúgios de escravizados pretende documentar as dimensões do núcleo e, ao lado das menções a armas e resistências, reforçar o empenho do autor do feito. O texto da legenda, combinado com a imagem, constitui uma narrativa dos momentos finais do quilombo. O documento quer celebrar o triunfo sobre um núcleo de resistência poderoso.
"Conquista do Gentio Bárbaro"
"seu Povo"
"quilombo pequeno"
Desconhecida
Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. AHU_CARTm_005, D. 0982
REIS, João José. O MAPA DO BURACO DO TATU. In: GOMES, Flávio dos Santos & REIS, João José (orgs.).Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p 501-505. SCHWARTZ, Stuart B. “Mocambos, quilombos e Palmares: a resistência escrava no Brasil colonial”. In: Estudos Econômicos. São Paulo: IPE USP, v. 17, número especial, 1987, pp. 61-88.
Catálogo de mappas, plantas, desenhos, gravuras e aguarellas / Castro e Almeida. No. 225.
Dados técnicos do documento original: 1 planta ms. : color., desenho a nanquim ; 43,2 x 59cm. em f.44,8 x 65,2cm.
Sem Nome, "MAPA DO QUILOMBO BURACO DO TATU". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/mapa-do-quilombo-buraco-do-tatu/. Publicado em: 22 de março de 2024.