EGAS, Eugenio. Cartas de D. Pedro Príncipe Regente do Brasil ao seu pae D. João VI Rei de Portugal (1821-1822). São Paulo: Typographia Brasil, 1916, p.48-56
Diante da exigência de retorno da família real pelas Cortes de Lisboa, o corpo de negociantes e oficiais da Corte do Rio de Janeiro reagiu. Para não perderem a importância política que tinham e correr o risco de uma nova colonização manifestaram-se denunciando a situação de abandono e ameaça que viviam. Buscando reverter esse quadro é enviada uma representação assinada por mais de 8 mil pessoas à Câmara, expondo os motivos pelos quais se acreditava que o Príncipe Regente D. Pedro I deveria permanecer no Brasil.
“O povo do Rio de Janeiro (...) à vista da medonha perspectiva, que se offerece a seus olhos pela retirada de S. A. R., se dirige com a última energia á presença de V. A. (...) para se suspender a execução do decreto das cortes sobre o regresso de Sua Altesa Real para a antiga séde da monarchia portugueza.”
“Não, não é a glória de possui um Príncipe da dynastia reinante, que obriga o povo a clamar pela sua residência no Brasil à vista do mesmo decreto, o que O chama além do Atlantico: nós perderiamos com lágrimas de saudade esta gloria (...) possuido da indisputavel idéa de suas forças começava a erguer o cóllo para repelir o systema colonial (...)”
“[...] Se a passagem do Rei se não verificasse, Portugal perdia o Brasil por dois modos: primeiro por attaque que fariam os Inglezes com o pretexto de guerra com Portugal submettido aos Francezes: segundo pela independência, que infallivelmente este grande paiz, separado da metrópole pela guerra, proclamaria, como fizeram as Américas Hespanholas com a mesma razão.”
“O povo do Rio de Janeiro, conhecendo bem que estes são os sentimentos de seus co-irmãos Brasileiros, protesta á face das nações pelo desejo que tem de ver realisada esta união, tão necessária, e tão indispensável para consolidar as bases da prosperidade nacional; entre tanto o mais Augusto Penhor da infallibilidade destes sentimentos é a pessoa do Príncipe Real do Brasil, porque nelle reside a grande idéa de toda a aptidão para o desempenho destes planos, como o primeiro vingador do systema constitucional.”
“Sendo pois esta viagem de tão grandes conseqüências para o progressivo melhoramento do Brasil, fica demonstrada a sua importância, e a sua necessidade; os conhecimentos adquiridos por Sua Altesa Real, sendo confrontados com os votos daquelles que possuem a verdadeira estatística do Brasil, servirão muito para organisarem o plano do regimen, que deve reanimar a sua vida physica e moral.”
Busca tornar explícito o desejo da população do Rio de Janeiro, dita porta-voz das demais capitanias, em manter no Brasil o Príncipe Regente, a representação tenta valorizar a figura do D.Pedro enquanto agente garantidor da ordem, do progresso e da união do país, ao mesmo tempo tenta o associar ao fim do colonialismo, se referindo a ele inclusive como “primeiro vingador do sistema constitucional”. A representação também procura denunciar a arbitrariedade e a fragmentação que os governos instaurados pelas Cortes promoviam.
Não se pode deixar de destacar que, mesmo com a iminência de um movimento de emancipação de cunho independentista, uma relação de respeito e gratidão para com o Reino é evocada. Para além de uma simples preferência, a manutenção da Família Real na América é defendida como uma decisão sábia e benéfica para Brasil e Portugal.
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EGAS, Eugenio. Cartas de D. Pedro Príncipe Regente do Brasil ao seu pae D. João VI Rei de Portugal (1821-1822). São Paulo: Typographia Brasil, 1916, p.48-56