Arquivo Histórico Ultramarino
Com a expulsão dos holandeses do nordeste brasileiro em 1654, a elite açucareira Pernambucana organizada na câmara de Olinda ganhou poder e prestígio local. O governador Jerônimo de Mendonça Furtado – também conhecido como Xumbergas (1664-1666) – exasperou os ânimos dessa elite que se viu ameaçada. Recaíam sobre o governador suspeitas e acusações como: apropriação da receita recolhida para donativos régios, recunhagem de moedas, desrespeito às imunidades do clero e das poderosas famílias locais, facilitação do comércio com franceses, dentre outras.
“(…) porque confia o supplicante da grandeza, e justiça de V. M. lhe faça honras e mercês á correspondencia dos aggravos na pessôa e perdas da fazenda que ha tido; e que contra os culpados no motim e levantamento se proceda com as demonstrações de castigo”
“se faz para informar a V. M. da condição de tão perverso vassallo, cujos procedimentos escandalizam não só o Estado do Brasil, mas os Reinos estranhos; porque se compõe este sujeito das maiores maldades e mais abominaveis vicios”
“elle Jeronymo de Mendonça era o vassallo mais honrador do seu Rei que podia haver em toda a Europa”, “queriam prender por traidor, e que á primeira voz que elle désse ou acção de repugnancia o matassem”
“sem temor, nem consideração a uma tão grave, execranda e abominavel acção, como foi tomar o Santissimo Sacramento por instrumento de sua maldade”
“(…) se lembra a V. M., com humilde submissão que entende todo o Reino de Portugal e ainda os Reinos estranhos o não hão de desconhecer que Jeronymo de Mendonça, por sua qualidade, por filho de Pedro de Mendonça, por vassallo tão leal de V. M., e tão zeloso de seu Real Serviço”
“Na Europa, nos tempos modernos e mais antigos houve semelhantes successos, e os Senhores Reis voltaram tanto pela satisfação delles, que se mandou destruir cidades, e lugares inteiros, e muito populosos, entendendo-se que era mais conveniente soffrer estas perdas que ficar exemplo na falta do castigo para semelhantes insolencias”
Governador busca valorizar a seu favor a experiência de golpe que sofreu. Entre vários enunciados indica, de um lado, o temor de que o motim se espalhasse pela Capitania de Pernambuco e, de outro, o descontentamento com os procedimentos judiciais que permitiam a manutenção de interesses privados na capitania. O soberano é solicitado para afirmar-se como a entidade restauradora da boa ordem. Ao apresentar suas principais ações como governador da capitania de Pernambuco buscou invalidar as justificativas usadas pelos rebeldes para a sua deposição e justificar a punição dos culpados, assim como valorizar seu padecimento pela reação dos moradores locais.
“motim”
“castigo”
"fintas"
"opressão"
"justiça"
"bem commum"
"insolencia"
"pazes de Holanda"
"vassalo"
Conjuração e deposição do governador Xumbergas
Arquivo Histórico Ultramarino
Cadernos do IEB 9 - São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros USP, 2016 p.53-64
1997, "JERÔNIMO DE MENDONÇA FURTADO ESCREVE AO REI NARRANDO SUA DEPOSIÇÃO DO GOVERNO DE PERNAMBUCO EM 1666". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/jeronimo-de-mendonca-furtado-escreve-ao-rei-narrando-sua-deposicao-do-governo-de-pernambuco-em-1666/. Publicado em: 16 de maio de 2022.