GOMES, Flávio (Org.). MOCAMBOS DE PALMARES: histórias e fontes (séculos XVI-XIX). Rio de Janeiro: 7letras, 2010. Pp. 265 e 266.
Após anos de guerra contra Palmares, a capitania de Pernambuco se vê desgastada, sem recursos para continuar lutando. Paralelamente, os negros aquilombados também vêm perdendo forças e podem a qualquer momento procurar o governador para pedir um acordo de paz.
“(…) que foi terem pedido a paz a meu antecessor dom João de Souza, o qual me disse estava disposto a capitulá-la, porquanto não tinha nenhum efeito para se pôr em campanha (…).”
“(…) me será forçoso pedindo-me este Palmar pazes aceitá-la, (…) porque Senhor se houver de fazer guerra a estes negros tão insolentes, é necessário mandar Vossa Majestade consignar na parte que lhe parecer efeitos, para por uma vez se destruírem estes bárbaros (…)”
“(…) porque todas as horas me fazem queixas das tiranias que lhe estão fazendo, dando-lhe assaltos, matando brancos, levando-lhe escravos e saqueando suas casas (…)”
“(…) assim pela pouca disciplina que experimentam os soldados, como pela falta que há de oficiais, para irem à guerra referida e assistirem nas guarnições das fortalezas, que esta capitania prove.”
“(…) não convém que se admita a paz com estes negros, pois a experiência tem mostrado que esta prática é sempre um meio engano e ainda pelo que toca a nossa reputação em se tratar e à vista com eles ficamos com menos opinião (…)”
Neste documento, o governador de Pernambuco João da Cunha de Sotto Maior alerta o rei dom Pedro II de Portugal da incapacidade da capitania em continuar na Guerra dos Palmares sem ajuda da Coroa. Sua carta explicita uma Pernambuco desgastada pelos conflitos, sem mais recursos para continuar. O governador repete a posição de seu antecessor dom João de Souza ao aprovar o estabelecimento de um acordo de paz com os Palmares, mesmo dando conta ao rei da violência que os mesmos causam aos brancos, praticando assaltos, os matando e roubando seus escravos. A resposta do Conselho Ultramarino, por outro lado, demonstra persistência da Coroa frente à necessidade da continuidade da guerra para que os mocambos sejam finalmente extintos, e há receio de que uma trégua dê impressão de fraqueza perante os rebeldes e estabeleça um mal exemplo tanto aos súditos quanto aos escravos, que seriam incentivados a fugir para os Palmares. A política de estabelecer exemplos à população esteve presente em diversas ações da Coroa durante a história, e o mesmo aconteceria nove anos depois da escrita desta consulta na execução de Zumbi dos Palmares, que teve sua cabeça exposta publicamente para que servisse de exemplo a qualquer negro que planejasse se rebelar.
“negros tão insolentes”
“bárbaros”
“sua real grandeza”
“real serviço de Vossa Majestade”.
GOMES, Flávio (Org.). MOCAMBOS DE PALMARES: histórias e fontes (séculos XVI-XIX). Rio de Janeiro: 7letras, 2010. Pp. 265 e 266.
João da Cunha de Sotto Maior, Array, , "CARTA DO GOVERNADOR DE PERNAMBUCO ACOMPANHADA DE CONSULTA DO CONSELHO ULTRAMARINO SOBRE AS PAZES QUE PEDEM OS NEGROS DOS PALMARES". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/carta-do-governador-de-pernambuco-acompanhada-de-consulta-do-conselho-ultramarino-sobre-as-pazes-que-pedem-os-negros-dos-palmares/. Publicado em: 31 de maio de 2022.