Metodologia e Fontes
1. identificação e classificação da documentação digitalizada
O uso das fontes
eclesiásticas nos estudos da escravidão tem-se mostrado de grande importância.
O batismo dos escravos foi um procedimento que abrangeu toda a América cristã,
por toda a vigência da escravidão. Tal determinação fez surgir no Brasil, assim
como nos demais domínios coloniais, especialmente nas áreas católicas, e mais
especialmente nos domínios portugueses e espanhóis, uma série documental
composta por assentos de batismo de escravos que pode ser considerada a mais
longa e uniforme entre todas as fontes disponíveis para o estudo da escravidão
africana nas Américas. Em função dos resultados já obtidos por diferentes historiadores, o projeto
priorizou a digitalização das séries documentais de batismo, casamento e óbito
de escravos, forros e livres, na vigência da escravidão no Brasil (1530-1888).
A documentação eclesiástica
inclui ainda outras séries documentais, como testamentos, habilitações
matrimoniais, uns raros mas significativos registros de crisma, libelos de
divórcio; também documentos avulsos como visitas pastorais, documentação das
irmandades leigas, entre outras. O característico dessa vasta e diferenciada
documentação é que a maioria dela está dispersa nos arquivos paroquiais e
diocesanos, sendo por isso mais difíceis de serem localizados do que a
documentação que galga a administração pública e religiosa e pode ser
encontrada nos grandes arquivos públicos ou privados da Igreja ou das ordens
religiosas.
No projeto, as séries
documentais estão sendo organizadas por freguesia, incluindo em cada uma delas
os livros da matriz da freguesia e das demais capelas a ela vinculadas. Um
problema metodológico de maior relevância é a datação da criação das
freguesias. Uma freguesia pode ser fruto da expansão territorial da ocupação (o
que acontece principalmente ao longo do período colonial) ou do desmembramento
de antigas freguesias em função do adensamento populacional, prática que se
estende do período colonial até nossos dias. Nesse sentido, a datação e a
identificação dos limites de cada freguesia é tarefa indispensável para a
compreensão da representatividade da documentação disponível. Existe ainda o
problema das capelas, já que, enquanto algumas tem vida incerta, outras, com
freqüência, dão origem a novas freguesias. Para permitir uma identificação mais
exata da documentação estão sendo organizadas uma listagem nominal das freguesias e também uma cronologia.
A documentação
digitada segue a informação contida no livro, reproduzindo, sempre que possível,
a identificação que consta do termo de abertura/encerramento do mesmo. Na
ausência do termo optamos por extrair a informação dos assentos. Os livros de
freguesias mais populosas geralmente estão separados por pretos e brancos,
livre e escravos, e batismos, casamentos e óbitos. Tais divisões trazem sempre
alguns problemas: pardos, alforriados são sempre qualificações mal distribuídas
pelas categorias acima mencionadas e que transitam entre os livros, dependendo
das circunstâncias. Pequenas paróquias por sua vez tendem a juntar em um único
livro assentos de batismo e casamento e até óbitos. Essa multiplicidade de
situações dificulta a classificação dos livros e qualquer tentativa de montagem
de sistema de busca de informações. Por isso adotamos nas séries digitais dos
livros títulos descritivos e não os títulos originais. Assim sendo, cada livro é
listado como apresentando cada uma dessas indicações (escravos, forros, livres
batismo, casamento e óbito), permitindo a busca por cada uma dessas categorias.
Acresce-se a essa classificação o período de tempo abrangido pelo livro, por
exemplo: (1745-1807), o que permite também a localização de séries temporais.
Uns raros registros de crisma trazem uma complicação a mais.
A classificação da
documentação digitalizada está, paralelamente, viabilizando a criação de um
novo catálogo padronizado da documentação dos vários arquivos, o que permitirá,
a longo prazo, a formação de séries documentais envolvendo diferentes coleções.
Para facilitar essa tarefa está sendo montado um sistema de buscas a ser
disponibilizado na página, de modo a permitir ao pesquisador identificar a
existência e a localização dos livros.
O trabalho de
compatibilização dos registros documentais com a cronologia da administração
eclesiástica tem sido a parte mais complicada do processo de identificação da
documentação. Em função disso a listagem apresentada está sujeita a constantes
correções.
É importante esclarecer que o
projeto não tem como meta a restauração da documentação digitalizada, na medida
em que para isso são necessários recursos não disponíveis tanto do ponto de
vista técnico quanto financeiro. Entretanto, o trabalho de digitalização vem
sendo acompanhando de algumas tarefas básicas, tais como a limpeza e embalagem
apropriada dos livros. No caso dos livros muito danificados, as folhas estão
sendo entremeadas com papel adequado e todos eles sendo embalados um a um antes
de serem guardados. No Arquivo de
Nova Iguaçu já foram providenciadas caixas adequadas para a guarda dos livros.
Por fim foi também
digitalizada, em volume bem menor, alguma documentação avulsa, devidamente
listada por arquivo, mas não quantificada. Essa documentação abarca livros de
tombo, documentação diversa de várias irmandades, processos de habilitação
matrimonial, entre outras. Parte dela poderá, no futuro, vir a compor outras
séries documentais importantes e estão sendo mantidas como documentação avulsa
devido a sua fragmentação e ausência de catalogação adequada, o que deverá ser
feito em etapa posterior do projeto.
É a seguinte a atual situação
dos arquivos e do andamento do trabalho realizado:
Diocese de Nova Iguacu: a digitalização
aconteceu em 2004, num total de 57 livros e 13.000 imagens digitalizadas
referentes as freguesias de Santo Antônio de Jacutinga, Nossa Senhora da
Piedade de Iguaçu e Nossa Senhora da Conceição de Marapicu. O arquivo possui
ainda outras coleções referentes a freguesias, paróquias e capelas que não
pertencem ao Bispado de Nova Iguacu mas que encontram-se sob sua guarda, todas
elas também digitalizadas. O projeto identificou ainda a existência de outros
13 livros da Freguesia de Jacutinga e três de São João de Meriti, sob a guarda
do Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro (todos do século XVIII) e
outro conjunto ainda não devidamente discriminado de volumes na Arquidiocese de
Petrópolis.
Arquidiocese de Niterói: a digitalização
acorreu ao longo de 2005 e abrangeu as freguesias de Niterói e chegando até
Cabo Frio e Campos dos Goitacazes. A maior dificuldade está sendo a separação
das freguesias e a inserção das paróquias em cada uma delas. Mais uma vez a
listagem apresentada é provisória, principalmente na identificação de algumas
freguesias homônimas ( como São Gonçalo em Niterói e São Gonçalo em Campos) ou
paróquias elevadas a freguesias (como Piratininga) O conjunto da documentação
digitalizada corresponde a um total de 121 livros referentes ao séculos XVII e
XVII e 109 referente ao século XIX, num total de 230 livros, aproximadamente 30.000
imagens.
Diocese de Petrópolis: o arquivo foi
transferido para as dependências da Universidade Católica de petrópolis-UCP e
está atualmente em fase de organização e iniciando a digitalização num projeto
que envolve a diocese, o EAAE-LABHOI e o Departamento de História da UCP. A
documentação desse arquivo é da maior importância, pois incorpora um segmento
importante da documentação do Recôncavo da Guanabara como Magé e Suruí. Desta
Diocese foi digitalizada em 2005 a documentação sob a guarda da Paróquia de
Magé, conforme indica a listagem.
Arquidiocese de Valença: O trabalho nessa diocese foi pontual e acompanhou a pesquisa da Professora Hebe Mattos na comunidade de São José da Serra, paróquia de Santa Isabel do Rio Preto. O conjunto da documentação digitalizada corresponde a um total de 08 livros, aproximadamente 1.932 imagens.
2.
Exemplos de documentos digitalizados
1)
Folha de livro da Freguesia de Jacutinga, 1686.
A
folha abaixo foi recortada para permitir uma melhor visualização da
legibilidade, mas não sofreu qualquer tratamento para alteração da imagem
original. As partes vasadas em tom acinzentado são aquelas onde transparece a
folha branca colocada entre as folhas para impedir sobreleitura nas partes
danificadas, o que dificultaria a compreensão.
FOTO
2) Folha
de livro da Freguesia de
A folha abaixo foi mantida com o resultado da digitalização sem quaquer alteração, na posição exata em que a digitalização em série deixa as imagens. Para efeito de leitura todas as imagens precisam ser viradas na posição vertical.
FOTO
3)
Exemplos de diferentes resultados em conseqüência da variação da luz
FOTOS