Apresentação

Você já pensou o que é um intelectual? O que ele ou ela fazem?

Existem muitas formas de definir o que é um/a intelectual. Uma delas é: intelectual é a pessoa que trabalha com a palavra escrita. Escreve livros, artigos, textos e panfletos com o objetivo de discutir ideias sobre a sociedade e seus problemas. 

Durante muito tempo e até os dias de hoje, a intelectualidade foi um lugar que parecia destinado apenas às pessoas brancas, como se só elas fossem capazes de produzir o conhecimento a partir do exercício da escrita. No entanto e, apesar da estrutura racista que organiza o Ocidente desde o início da modernidade, homens e mulheres não-brancos também se constituíram como intelectuais, tendo inclusive papel fundamental na denúncia e transformação da ordem social em que viveram.

Sobre o Projeto

O Negro Atlântico é uma plataforma que busca apresentar a trajetória de importantes intelectuais negros que viveram e atuaram no continente Americano entre o século XIX e o início do século XX. Isso porque, neste período da história da humanidade, o racismo científico foi uma ideologia amplamente difundida em todo o mundo, que defendida a inferioridade da população não-branca, sobretudo das pessoas negra, considerando praticamente impossível que esses homens e mulheres e pudessem ser intelectuais. Ainda que atualmente as bases do racismo científico já tenham sido derrubadas, há uma grande dificuldade em reconhecer e recuperar a trajetória e as contribuições feitas por intelectuais negros e negras.

A ideia é que o Negro Atlântico seja um convite para que o público mais amplo, sobretudo o público escolar, possa conhecer um pouco mais as ações e as vidas de intelectuais negros que atuaram no auge do racismo científico, sendo importantes vozes na luta contrárias a esse racismo. Homens e mulheres negros de diferentes nações americanas que, em sua época, disputaram sentidos de nação, e produziram pensamentos críticos que vislumbravam outros projetos de futuro – muito mais igualitários. 

O desenvolvimento dessa plataforma foi feito a partir da pesquisa da professora Ynaê Lopes dos Santos (UFF) sobre intelectuais negros das Américas, financiada pela FAPERJ no âmbito do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, e contou com a participação de estudantes de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado. A pesquisa tinha como objetivo analisar a obra de três intelectuais negros que nasceram no século XIX em países forjados pelo racismo e por um passado recente marcado pela escravidão negra. O estudo se centrou na produção intelectual de Manuel Querino (Brasil), Lino Dou (Cuba) e W.E.B. Du Boi (Estados Unidos), com o objetivo de compreender como esses intelectuais analisaram o passado escravista nos seus respectivos países de origem. Mas, ao mergulhar na vida desses homens, outros intelectuais foram sendo revelados, por meio de complexas e intrincadas redes de sociabilidade e de produção crítica de conhecimento que devem ser cada vez mais e melhor compreendidos.